Fazer
um rescaldo ao acto eleitoral de domingo, em jeito de balanço, é algo que neste
momento, quase uma semana depois, me parece desnecessário. Mas há sempre espaço
para umas notas, até porque a vitória surpreendente do PSD-Madeira, pela
inesperada dimensão - não acredito que exista alguém que garantisse, antes de
domingo, que os social-democratas cresceriam 13 mil votos e ficariam a menos de
500 votos da maioria absoluta.
Eu
sei que na oposição não gostam que se fale de Albuquerque como vencedor, até
pelo tipo de discurso que PS e JPP - e outros mais - usaram repetidamente
durante a campanha eleitoral (até vimos antigos arguidos e potenciais futuros
arguidos perorarem sobre outros arguidos...) e que lhes custou, no caso do PS e
do Chega, uma clara penalização nas urnas. Se bem que por outros motivos
também. Eles sabem disso melhor do que ninguém. O que é facto é que
Albuquerque, como o PSD e como os 62 mil eleitores que neles votaram, são
vencedores. Ponto!
Mas o
líder do PSD-Madeira pela resistência, pela campanha realizada, pela forma como
contactou as pessoas, naturalmente, sem complexos, sem medo, desvalorizando as
campanhas eleitorais por "encomenda" promovidas por quase todos os
demais partidos a pensar no espaço mediático e menos ou nada nas pessoas -
quantas mensagens não terão distribuídas nesta campanha eleitoral aos
responsáveis pelos média e a jornalistas... (a propósito, para que não fiquem
dúvidas, a carteira profissional nº 134, devidamente actualizada, pertence-me...)
– foi um claro vencedor.
O
PSD-Madeira terá beneficiado de voto útil oriundo da imensa mancha do chamado
eleitorado flutuante que vota em função de circunstâncias, do momento e sem
compromissos com partidos em concreto? Indiscutivelmente que sim. Tal como o PS
foi penalizado pela flutuação de eleitorado num espaço partilhado com a JPP,
PAN e outros partidos à esquerda.
O
PSD-Madeira beneficiou dos apelos à estabilidade política e governativa regionais
e ao voto naqueles que garantiam mais competência no exercício dessa
governação? Obviamente que sim. Os números e os mandatos falam por si.
Os
eleitores votaram ou pronunciaram-se sobre questões de natureza judicial,
algumas delas que se arrastam sem evolução “arquivadas” em órgãos judiciais de
investigação - desde 2020, e não envolvendo o PSD... - que a seu tempo serão
clarificadas e concluídas? Obviamente que não porque sabem o que se passa,
sabem que as pessoas são hoje, mais do que nunca, altamente escrutinadas, e que
a justiça não se pode imiscuir na política e vice-versa. E mais. Que a justiça
dispensa "cornetas" que passam uma campanha eleitoral a falar de
matérias cuja resolução não tem nada a ver com eles, com partidos ou com a
política em geral.
Portanto,
e compreendendo a frustração natural dos derrotados ou daqueles que andaram a
sonhar com um "paraíso imaginário", insisto que o pior que se pode
fazer é insultar o eleitorado na sua liberdade, mostrar desprezo pelas suas
escolhas e pelo voto, é procurar arranjar falsas justificações, diria doentias
justificações sobre as quais recuso pronunciar-me, para a forma como os
cidadãos votaram e votam. Mais do que mau perder estamos perante uma falta de
carácter e de dignidade.
No
caso do PSD-Madeira, concluído o acordo com o CDS, parceiro natural dos
social-democratas, a Região tem condições para uma estabilidade governativa e
política para a Legislatura de 4 anos.
Não
haverá desculpas para assim não acontecer. O programa de governo para 4 anos e
o orçamento para este ano, são instrumentos fundamentais para os próximos
tempos e para que a Madeira seja recolocada nos carris da normalidade. Negociar
com a oposição? Sem dependências, sem fobias, sem receios. Eventualmente
aceitando algumas ideias válidas que a oposição tenha, mas sem valorizar a
obrigatoriedade de diálogos com quem teve uma atitude de agressão permanente ao
PSD e a Albuquerque, fomentando um sentimento de diabolização de pessoas,
julgando-os nos locais impróprios e com métodos perfeitamente rafeiros e
criminosos. Claro que ninguém sabe o futuro, não tenho uma bola de cristal - se
tivesse usava noutras coisas... - nem sou bruxo. Mas acredito que as coisas
"penduradas" serão resolvidas, em devido tempo, com justiça e na
justiça e que a política, nacional ou regional, não pode ficar refém dos
mecanismos judiciais que, ao invés do que muitos sustentam, não podem também
beneficiar de forma libertina da obrigação de aplicarem prazos e sobretudo do
tempo adequado para resolução dos assuntos pendentes que tenham de resolver.
Não acredito que juízes gostassem de andar a ser julgados na praça pública, nas
redes sociais ou fora delas, ou que as suas famílias sofressem com tudo isso,
independentemente do grau de culpabilidade, seja ele qual for, e se existir.
Muito menos quando reclamam inocência, repetidamente.
Ao PSD-Madeira e a Albuquerque recomendo cautela, o escrutínio é hoje maior do que nunca, pelo que haverá decisões, escolhas e opções que, mesmo contrariado, terão de ser feitas, para que não se deite tudo a perder, não se pisem linhas vermelhas e para evitarmos o regresso a um clima de desconfiança. Depois, lá para a frente, quando tudo se esclarecer, haverá tempo para reparar as feridas e as injustiças feitas contra pessoas. Mas não arrisquemos demasiado, não provoquemos ninguém, porque não é preciso nada disso. Boa sorte, bem precisamos dela nos tempos que correm (LFM, artigo publicado no Tribuna da Madeira de 28.3.2025, versão completa)