sábado, dezembro 22, 2007

Opinião recomendada

Independentemente de concordarem ou não com o seu conteúdo, recomendo, da edição brasileira do "Le Monde Diplomatique" diversos artigos de opinião, que li, e que achei interessantes, porventura polémicos nalguns casos, mas com a qualidade que aquele jornal determina:
- Os desafios do pós-Kyoto, por Aurélien Bernier
"Os primeiros trabalhos de economia que prefiguram a noção de imposto ambiental remontam a 1920, quando o economista britânico Arthur Cecil Pigou publicou The Economics of Welfare, livro em que tratava das “externalidades, ou efeito externo” de um ato de produção ou de consumo. O autor tomava como exemplo as fagulhas produzidas pelas locomotivas a vapor: fragmentos de carvão incandescente que escapavam às vezes das chaminés e provocavam incêndios de florestas ou campos nas proximidades das ferrovias. Pigou considerava que uma taxa sobre os danos, imposta à empresa ferroviária, incitaria à instalação de dispositivos antifagulhas e permitiria limitar os prejuízos. Esse raciocínio lançava as bases do princípio “poluidor-pagador”;
- Aonde vai o socialismo de Chávez?, por Elizabeth Carvalho
"Do longo discurso de três horas, restou apenas uma frase. Os bons ouvintes, experientes e calejados, imediatamente identificaram ali a dúvida, o tênue sinal de fraqueza, a pequena brecha por onde escoava o mal-estar oculto nas próprias fileiras chavistas, com a reforma constitucional que o presidente Hugo Chávez acreditava ver aprovada no dia seguinte, por referendo popular. Diante da multidão que cobria de vermelho a imensa Avenida Bolívar, no comício de encerramento de sua campanha em Caracas, ele advertiu: “que fique bem claro: quem votar NÃO vota contra Chávez, vota por Bush”. Chávez sabia que ali mesmo, naquela massa compacta que constituía sua base de apoio, havia muita gente que desta vez não queria, nem iria, dizer SIM ao presidente – apesar da chantagem política implícita na frase";
- América dos punhos sem renda, por Elizabeth Carvalho
"O presidente venezuelano Hugo Chávez não veste o modelo de um lorde inglês e não tem em sua genealogia ascendentes com punho de renda. Baixinho, volumoso, olhos puxados e penetrantes se destacando nas feições rudes de cabloco meio branco, meio índio, e ainda um remoto vestígio certamente herdado de algum antepassado negro, ele é, ao mesmo tempo, espelho e símbolo mais contundente de algumas lideranças expressivas escolhidas democraticamente pelos povos latino-americano, à sua imagem e semelhança, para governá-los neste ainda tão novo século 21";
- PIB: um indicador anacrônico, por Hazel Henderson
"Durante a Cúpula da Terra de 1992, no Rio de Janeiro, 170 governos assinaram a Agenda 21, concordando em corrigir erros na definição do Produto Nacional Bruto (PNB) e da sua respectiva versão doméstica, o PIB. Desde então, as instituições de estatística vêm trabalhando para se adequar à possível mudança. Movimentos engajados na luta por justiça social, direitos humanos e proteção do ambiente têm pressionado políticos, empresários e banqueiros relutantes, assim como economistas e estatísticos, para que levem em conta a necessidade de correção. Mas muito investimento, financeiro e intelectual, concentrado nesse sistema onipresente de indicadores, para o qual crescimento econômico é sinônimo de "progresso".
- A comunicação na encruzilhada, por Antonio Martins
"Certas reviravoltas da História parecem se dar para recordarmos que "o tempo não pára", como escreveu certa vez Cazuza. Mesmo quando tendências aparentemente portadoras de novidade parecem se impor, é bom lembrar que "ainda estão rolando os dados". Algo assim está se passando no campo decisivo das Comunicações.Há cerca de uma década, ele parecia minado pela oligopolização. Uma onda de inovações tecnológicas havia tornado possível, por exemplo, produzir jornais inteiramente impressos em quatro cores, exibir imagens geradas por equipes de TV em qualquer parte do mundo, fascinar multidões nos cinemas com efeitos especiais extraordinários";
- Muito além de Gutenberg, por Antonio Martins
"Nos últimos anos, graças a certas ferramentas tecnológicas, mas especialmente a algumas mudanças de paradigma, os antigos conceitos de liberdade de informação e propriedade intelectual estão sendo superados. Em seu lugar, surgem idéias como comunicação compartilhada, inteligência coletiva, fim da passividade do receptor, direito à intercomunicação. Essas mudanças têm enormes repercussões em nossa vida social, econômica, política e simbólica. Estão, por sua vez, relacionadas a sinais de que uma outra lógica de organização das sociedades – capaz de superar a que está baseada no lucro e na competição – é possível e necessária";
- A era da intercomunicação, por Manuel Castells
"A informação e a comunicação sempre foram vetores dos poderes dominantes, dos poderes alternativos, das resistências e das mudanças sociais. O poder de influência sobre o pensamento das pessoas – que é exercido pela comunicação – é uma ferramenta de resultado incerto, porém fundamental. É apenas através do exercício da influência sobre o pensamento dos povos que os poderes se constituem em sociedades, e que as sociedades evoluem e mudam. A repressão física ou mental é certamente uma importante dimensão do poder dominante. No entanto, se um povo modifica radicalmente seu modo de ver as coisas, se ele passa a pensar de maneira diferente e por si mesmo, não há poder que possa se opor";
- O quinto poder, por Ignacio Ramonet
"Há muitas e muitas e muitas décadas que a imprensa e os meios de comunicação representam, no contexto democrático, um recurso dos cidadãos contra os abusos dos poderes. Na realidade, os três poderes tradicionais – Legislativo, Executivo e Judiciário – podem falhar, se equivocar e cometer erros. Com maior freqüência, é claro, nos Estados autoritários e ditatoriais, nos quais o poder político se torna o principal responsável por todas as violações de direitos humanos e por todas as censuras contra as liberdades.Mas também são cometidos graves abusos nos países democráticos, embora as leis sejam democraticamente votadas, os governos eleitos por sufrágio universal e a justiça seja – em teoria – independente do poder executivo. Ocorre o fato de esta condenar, por exemplo, um inocente (como esquecer o caso Dreyfus, na França?); de o Parlamento votar leis discriminatórias para com determinadas categorias da população (foi o caso, nos Estados Unidos, durante mais de um século, em relação aos afro-americanos, e volta a ser, hoje, em relação a pessoas originárias de países muçulmanos com a edição do Patriot Act); de os governos adotarem políticas cujas conseqüências se revelarão funestas para todo um setor da sociedade (é o caso, atualmente, dos imigrantes “sem-documentos” em inúmeros países europeus)".

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