sábado, outubro 25, 2008

Desemprego pode chegar aos 10%

Alerta o Expresso num texto assinado por H.C.M. e R.P.L. que "pela primeira vez, em mais de duas décadas, Portugal pode chegar a uma taxa de desemprego de dois dígitos. A questão não é consensual entre os economistas, mas um dado parece ser certo - a taxa de desemprego de 7,6% prevista pelo Governo no Orçamento do Estado para 2008 e 2009 vai ser ultrapassada. E como a criação de emprego está nas empresas e não pode ser atingida por decreto, o Executivo tem uma margem de manobra relativa. Por aferir está ainda o reflexo que terão as medidas paliativas no sector financeiro. E, a nível estrutural, a especialização da Índia e a produção a baixo custo da China agravam o problema. João Duque, professor do ISEG, considera que, se se confirmarem as piores expectativas a nível mundial, a taxa vai chegar aos dois dígitos. “Espanha, sem crises desta natureza, atingiu taxas de 15%”, salientou. “Não se chegou ao fim da crise, nem tão-pouco ao seu ponto mais baixo em termos económicos”, o que empurra para o 3º trimestre de 2009 o conhecimento da verdadeira dimensão dos ‘estragos’ que a crise financeira provocará na economia.
O economista Nogueira Leite admite que se atinja os dois dígitos. Se conhecermos uma recessão mundial profunda, “então é inevitável”, diz. É cedo para antecipar uma taxa superior a 10% em 2009 e mesmo em 2010, defende João Borges Assunção, da Universidade Católica. Num cenário de estagnação do PIB em 2009, segundo os modelos do núcleo de conjuntura da Universidade Católica (NECEP), “será difícil que o desemprego suba mais do que 1%. Porém, se a estagnação se prolongar até 2010, o que neste momento é muito cedo para antecipar, taxas de cerca de 10% podem ser observadas para o final desse ano”, salientou. Como é que o Governo pode manter a taxa de desemprego com um abrandamento da economia?, interroga João Duque. “No NECEP não ficaríamos surpreendidos se em 2008 e 2009 a taxa de desemprego observada fosse superior a 8%”. Uma opinião secundada por Eduardo Catroga, para quem o maior impacto será em 2010. Ou por Eugénio Rosa, da CGTP, que vê no aumento do desemprego “um agravamento natural” da situação económica.
A solução da crise através do lançamento das grandes obras públicas, tal como é preconizado pelo Governo, é posta em causa pelos economistas. É apenas uma ‘almofada’ social de curto prazo. Defendem uma maior racionalidade económica, ao considerarem que não está provada a rendibilidade de alguns projectos nem como serão financiados. “O pacote de obras, se não gerar mais desenvolvimento, apesar do reflexo a curto prazo no emprego, criará desemprego a longo prazo”, diz Nogueira Leite. Catroga defende um programa de obras de menor dimensão e mais distribuídas pelo país e um maior apoio às PME, indispensável para criar emprego. O aval do Estado ao financiamento dos grandes projectos retira a margem de manobra às PME e aumenta a dívida externa. Em período eleitoral, também não é expectável uma maior flexibilização do mercado de trabalho. Uma das possíveis válvulas de escape, apontada por João Duque, será o resultado da diplomacia económica do Governo. Nádia Simões, do ISCTE e uma das investigadoras que monitoriza o Programa Nacional de Reformas 2008-2010, apresentado pelo Governo à Comissão Europeia, assume que a situação do desemprego é grave. “É uma preocupação que atravessa todo o documento, reconhecendo o Governo que existem ameaças externas que podem agravar o cenário actual”, disse.
DIAS DIFÍCEIS
O Instituto Nacional de Estatística contava 409,9 mil desempregados no segundo trimestre deste ano. Um número que corresponde a 7,3% de taxa de desemprego. Para o final do ano, no Orçamento do Estado, o Governo prevê um ligeiro agravamento para 7,6%. O mesmo valor que espera para o próximo 2009. O Fundo Monetário Internacional, a primeira instituição internacional a apresentar projecções de Outono, não é tão optimista e aponta para uma subida da taxa para 7,8% em 2009".

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