segunda-feira, novembro 24, 2008

25 de Novembro: recordando o mês de Novembro de 1975

1 de Novembro
•Em Roma reúnem-se os Ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da Indonésia. Esta reconhece que Portugal é a potência administrante do território de Timor.
2 de Novembro
•Rebentamento de explosivos em Chaves e na Madeira.
3 de Novembro
•O Século e o Diário de Notícias publicam um novo comunicado da CVRFA que divulga pormenores sobre os planos de «manobras militares contra-revolucionárias» que estariam marcadas para os dias 7, 8 e 9". O COPCON confirma a realização daquelas manobras e a sua inoportunidade. O Secretariado dos SUV's lança também um alerta.
•Entretanto, um conjunto de reuniões sucessivas entre os delegados da Força Aérea virá a traduzir-se no afastamento forçado de Pereira Pinto e Graça e Cunha.
•É publicado o D. L. nº605/75 que institui a figura do júri com intervenção, quando solicitado pela acusação ou pela defesa, em julgamentos a realizar em processo de querela.
•O embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, faz uma viagem pelo norte do país, que se prolonga até ao dia 7, visitando Porto, Braga, Viseu, Vila Real, Chaves, Viana do Castelo. Manteve conversações com os governadores civis de Viseu, Vila Real e Chaves e com os bispos de Viseu, Vila Real e o representante do Arcebispo de Braga. Os temas centrais são os problemas dos retornados e o auxílio económico que os EUA poderiam prestar-lhes, a eles e às regiões visitadas. Carlucci também manifesta a determinação do governo dos EUA de impedir a consolidação do comunismo em Portugal. (JSC)
4 de Novembro
•O Jornal Novo e A Luta publicam na primeira página um comunicado da Frente Militar Unida (FMU) onde se afirma que" o PCP quer destruir «a solução de esquerda proposta ao país pelo Grupo dos Nove".
5 de Novembro
•O COPCON prende em Lisboa onze indivíduos suspeitos de pertencerem ao ELP e de terem sido agentes da Frente Autónoma de Choque da LP (FAC). (JSC)
•Explosão de petardos em Gaia, Porto, Águeda e no Club Naval dos Açores. (JSC)
6 de Novembro
•Os confrontos entre agricultores e trabalhadores agrícolas em Santarém saldam-se por dois mortos e vinte e dois feridos.
•Um frente a frente televisivo de quatro horas entre Mário Soares e Álvaro Cunhal confirma as profundas divergências que os separam.
•Realiza-se, junto ao Ministério da Comunicação Social, uma manifestação de trabalhadores daquele organismo, exigindo o saneamento do Secretário de Estado; Ferreira da Cunha, acusado de ter pertencido ao CDI (Centro de Documentação Internacional - também conhecido por Super-PIDE). A manifestação é fortemente reprimida pela PSP.
7 de Novembro
•Por ordem do CR, numa operação planeada por Melo Egídio, um grupo de 60 pára-quedistas do Batalhão Especial de Tropas Pára-quedistas (BETP), pertencente ao AMI, entra nas instalações da Rádio Renascença e destroem-nas por meio de engenhos explosivos.
•Em Rio Maior a CAP organiza barricadas contra a reforma agrária na estrada nacional nº 1.
•Pela primeira vez, os EUA reconhecem publicamente que estão a apoiar a FNLA e a UNITA.
8 de Novembro
•Realiza-se uma manifestação de protesto contra a destruição da Rádio Renascença. Alguns oficiais subalternos denunciam a manipulação de que foram vítimas no caso da destruição dos emissores da RR.
•Cerca de 2000 pára-quedistas de Tancos pedem para ser colocados sob as ordens do COPCON.
9 de Novembro
•O PS promove uma manifestação no Terreiro do Paço de apoio ao 6º Governo, tendo Pinheiro de Azevedo denunciado "as aventuras da esquerda revolucionária e o golpismo do PCP".
•Conferência de imprensa da Associação Revolucionária dos Militares na Disponibilidade (ARMD) na sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A ARMD propõe-se «preencher o vácuo deixado pelo afastamento dos militares revolucionários».
•O PRP, em comunicado, faz um apelo à "revolução armada".
10 de Novembro
•Plenário na Base Escola de Tropas Pára-quedistas de Tancos (BETPT) em que se apoia uma moção de repúdio pela "Operação Rádio Renascença".
•O Comandante daquela unidade, coronel Calheiros, convoca todos os oficiais, sargentos e praças para uma sessão de esclarecimento - a realizar no Pavilhão Gimno-desportivo - com o CEMFA, que se desloca à BETPT acompanhado por Vasco Lourenço. Praças e sargentos recusam a presença do general Morais e Silva no seu plenário e realizam uma outra reunião no Clube de Praças.
•Na sequência dos acontecimentos 123 oficiais (de um total de 124), numa atitude de insubordinação colectiva, abandonam a Base Escola de Tancos, protestando contra a "degradação das instituições militares" e decidem apresentar-se de imediato no EMFA.
•Num plenário da Escola Prática de Administração Militar (EPAM) afirma-se que «crescem as possibilidades de um golpe fascista».
•Otelo Saraiva de Carvalho declara que está na disposição de não voltar às reuniões do CR afirmando que «As reuniões do CR têm sido catastróficas, porque têm sido limitadas a ataques pessoais sucessivos mútuos, em que todos se entrechocam na diversidade de opiniões e eu não estou para perder o meu tempo em Conselhos da Revolução, que de Revolução têm muito pouco».
•As últimas tropas portuguesas presentes em Angola iniciam o regresso a Portugal.
11 de Novembro
•Realiza-se uma reunião de sargentos e praças pára-quedistas de Tancos com Otelo Saraiva de Carvalho, durante a qual este promete apoio à BETP, nomeadamente em armamento pesado.
•É proclamada a independência de Angola. O Governo português mantém a sua política de neutralidade adoptada desde os primeiros dias do processo de descolonização, não reconhecendo independência proclamada pelo MPLA. Poucos dias antes, duas colunas militares foram detidas junto a Luanda, uma FNLA, vinda do Norte com a ajuda de tropas regulares zairenses, ex-militares portugueses e mercenários, outra da UNITA, vinda da África do Sul, numa operação conjunta, envolvendo Holden Roberto, Jonas Savimbi e o coronel Santos e Castro.
•É autorizada em Portugal a venda do último livro de Marcelo Caetano, Depoimento.
12 de Novembro
•É publicada a Lei nº13/75 que institui Tribunal Militar Conjunto por se comprovar que os tribunais militares existentes não tem capacidade para julgar o elevado número de processos decorrentes da aplicação da Lei nº8/75 que lhes atribuí a competência para o julgamento dos elementos da extintas PIDE e DGS. A este Tribunal Militar Conjunto competirá também o julgamento dos crimes relativos às actividades da ex-Legião Portuguesa.
•O Diário de Notícias em primeira página notícia: «Oficiais reaccionários ameaçam marchar sobre Lisboa e Alentejo»
•Início da greve dos operários da construção civil.
•Em Rio Maior, a CAP, o PS e o PPD organizam barricadas conjuntas como resposta à greve da construção civil.
13 de Novembro
•No seguimento da greve, 100000 operários de Construção Civil cercam S. Bento e sequestram os deputados da Assembleia Constituinte e o Primeiro Ministro. Após 36 horas de cerco, Pinheiro de Azevedo é obrigado a ceder às reivindicações dos operários que exigiam a assinatura de um novo contrato colectivo de trabalho.
•Rompimento definitivo de Otelo Saraiva de Carvalho com Pinheiro de Azevedo, por aquele se ter recusado a reprimir os operários em greve.
14 de Novembro
•No Porto uma manifestação conjunta de apoio ao 6º Governo, congregando diferentes partidos, desde o PS, PPD e CDS à AOC e ao PCP-ml e cuja palavra de ordem era «Disciplina! Disciplina!», culmina com o assalto e destruição da sede da União de Sindicatos.
•É divulgado um comunicado dos praças, sargentos e oficiais da BETP de Tancos.
•O Presidente da República dirige uma Mensagem à Nação, "num momento que, em resultado de uma sucessão de acontecimentos de raiz político-emocional, tende a tornar-se explosivo".
•Toma posse o Governo de Angola.
15 de Novembro
•Reunião das Laranjeiras, última reunião antes do 25 de Novembro entre o Grupo dos Nove e o grupo militar que lhe era afecto. Presidida por Pinho Freire, com a presença de Vasco Lourenço, Melo Antunes, Vítor Crespo, Costa Brás, Sousa e Castro, Jaime Neves, Ramalho Eanes, Loureiro dos Santos, Mário de Aguiar, Pimentel, Tomé Pinto, Melo de Carvalho, Salgueiro Maia, e quase todos os comandantes das Bases Aéreas. Decide-se:
–Reforçar a posição militar do Grupo.
–Armar forças para-militares.
–Disciplinar a actividade de alguns órgãos de Comunicação Social.
–Fazer Vasco Lourenço assumir o comando da RML.
–Consolidar o 6ª Governo.
•Surge o primeiro número do Boletim dos auto-denominados Grupo de Acção Anti-Fascista e Anti-Imperialista de Évora, que se define como um grupo “pertencente a estruturas amplas de massas, de carácter unitário, para o reforço da unidade e organização popular na luta contra o fascismo”.
16 de Novembro
•Cerca de 200 000 pessoas participam numa manifestação contra a política do 6º Governo. Organizada pelo Secretariado Provisório das Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa e UCP's do Alentejo, é apoiada também pelo PCP e pela FUR. No final da manifestação é lida uma mensagem do general Otelo Saraiva de Carvalho. Na sequência desta manifestação é posto a circular o boato de que vai ser instaurada a "Comuna de Lisboa".
•A propósito da convocação e realização de uma nova manifestação de apoio ao 6º Governo, surgem dissidências entre os promotores, PS e PPD. O PPD acaba por realizá-la sozinho.
17 de Novembro
•O general Morais e Silva determina a passagem de 1200 pára-quedistas de Tancos à situação de licença registada, sem dar conhecimento prévio, quer ao CR, quer ao escalão militar superior. Passá-los-ia à disponibilidade pouco tempo depois. Os pára-quedistas recusam-se a aceitar a decisão de Morais e Silva.
•Entretanto o coronel Calheiros retira-se da BETPT por ordem do general Morais e Silva e entrega o comando ao major Pessoa, oficial mais antigo.
•É preso, em Soure, um agente dos Serviços de Segurança do CDS, membro da FNLA, a quem é apreendido um razoável arsenal de armas e munições.
•O Século e o Diário de Notícias, cujos directores são tidos como próximos do PCP, divulgam um comunicado da autodenominada Comissão de Vigilância Revolucionária da Força Aérea anunciando um "golpe reaccionário" para o dia 19 de Novembro.
18 de Novembro
•Reunião dos elementos do Grupo dos Nove com Mário Soares onde é discutida a ideia da suspensão do Governo, defendida, entre outros, por Vasco Lourenço e Mário Soares. Essa ideia acaba por vencer. Melo Antunes defende posição contrária.
•Reunião em Belém dos chefes do três ramos das Forças Armadas, com Melo Antunes, Vasco Lourenço, Sousa e Castro e Otelo Saraiva de Carvalho. O motivo anunciado seria discutir a posição deste no processo revolucionário. Otelo Saraiva de Carvalho reafirma a sua disposição de não abandonar o comando da RML. O República titula na primeira página: " Otelo aguentou-se:"
•O General Pinto Soares apresenta à imprensa uma moção da Associação de Praças da Academia Militar onde se denunciavam as consequências da desmobilização de efectivos militares, que estava a acontecer um pouco por todas as unidades afectas ao MFA, em especial na Academia Militar, em contraste com o reforço de unidades como, por exemplo, os Comandos.
•Pinheiro de Azevedo, acatando a sugestão do Grupo dos Nove, propõe a auto-suspensão do 6º Governo. É apoiado por todo o gabinete, excepto pelo ministro do PCP Veiga de Oliveira. Justificando a sua atitude, Pinheiro de Azevedo diria aos jornalistas: - "Estou farto de brincadeiras, fui sequestrado já duas vezes. Já chega. Não gosto de ser sequestrado, é uma coisa que me chateia."
•O General António de Spínola desloca-se aos EUA onde faz uma ronda de contactos. Afirma a propósito: "Já é hora do mundo ocidental acordar para a urgência do auxílio político, financeiro e militar à FNLA e UNITA em Angola e para a luta anti - comunista em Portugal". (JSC)
19 de Novembro
•Costa Gomes recebe o embaixador norte-americano Frank Carlucci em Belém.
•Pinheiro de Azevedo recebe o embaixador soviético Kalinine em S. Bento.
20 de Novembro
•Reunião do CR em que é deliberado: extinguir o AMI, nomear Vasco Lourenço Comandante da RML, mantendo Otelo Saraiva de Carvalho como Comandante do COPCON. Saudar entretanto o realismo de Otelo Saraiva de Carvalho e o companheirismo inteligente de Vasco Lourenço e pronunciar-se favoravelmente quanto ao reconhecimento do Governo Provisório de Angola por parte de Portugal.
•O general Morais e Silva determina que todos os sargentos pára-quedistas devem apresentar uma declaração com vista à sua transferência para o Exército ou Força Aérea.
•Em plenário efectuado no Forte do Alto do Duque, o COPCON apoia a luta dos pára-quedistas e promete, mais uma vez ajuda material. Entretanto, o Depósito Geral de Adidos da Força Aérea (DGAFA) recebe também apoio material do RALIS.
•Realizam-se ainda plenários de praças em Tancos e no Montijo. Em moção conjunta decide-se repudiar totalmente as ordens de Morais e Silva, bem como todas as ordens emanadas do EMFA.
•A Intersindical apela ao apoio dos trabalhadores aos pára-quedistas.
•Na sessão da Assembleia Constituinte o PS, o PPD e o CDS atacam violentamente o PCP, forças de extrema-esquerda e ainda o gabinete do Primeiro Ministro (acusando-o de trair Pinheiro de Azevedo). Renovam todo o apoio ao 6º Governo. Respondendo a estes discursos, das galerias, repletas de jovens, começou a gritar-se: «Reaccionários fora da Constituinte já!». Os deputados do PCP e do MDP associam-se a esta manifestação que só termina quando a Polícia evacua a sala.
•Reunião no Regimento de Comandos. Jaime Neves faz o ponto da situação: principais obstáculos - Otelo e Fabião; principais unidades inimigas - RALIS e PM; principal aliado - Pires Veloso.
•Jaime Neves avisa Costa Gomes de que os comandos «querem isto na ordem». O teor desse aviso, que foi lido e corrigido por Ramalho Eanes, é apresentado sob a forma de moção na parada do Regimento de Comandos da Amadora e preconizava "a substituição imediata de todos os militares que na prática se revelaram incapazes de servir apartidariamente o Exército e o Povo Português".
•Pinheiro de Azevedo, em diálogo com jornalistas, ataca Otelo Saraiva de Carvalho e Costa Gomes.
•Manifestação pelo avanço do poder popular em que Costa Gomes, que contesta as acusações de indecisão e hesitação que lhe eram feitas pelo PS, PPD e Grupo dos Nove, e promete evitar a todo o custo a guerra civil. Durante a manifestação, entre os muitos outros documentos, foi lido o Manifesto dos Oficiais Revolucionários. Apontava uma saída revolucionária para a crise, recusava os golpes de Estado e propunha o poder popular armado. O PS, entretanto, convoca comícios para vários pontos do país.
•Considerando-se que o prazo fixado no nº2 do artigo 3º da Lei Constitucional nº3/74 de 14 de Maio se verificou insuficiente para a conclusão dos trabalhos da Assembleia Constituinte (AC) é publicada Lei nº14/75 que prorroga o prazo de vigência da AC.
•Sá Carneiro dá uma conferência de imprensa em que afirma que "a posição assumida pelo Governo é uma clara intimidação aos mais altos responsáveis militares".
•Título do Diário de Notícias: “O país sem Governo”.
21 de Novembro
•Juramento de Bandeira dos novos recrutas do RALIS, onde falou como representante das Forças Populares, uma operária da Comissão Coordenadora das Comissões de Moradores e Comissões de Trabalhadores da zona do RALIS. Excerto do texto do juramento feito de punho cerrado: "Nós soldados [...] juramos estar sempre, sempre ao lado do Povo, ao serviço da classe operária, dos camponeses e do povo trabalhador [...]" Presente o General Carlos Fabião. Tal acto viria a ser anulado mais tarde por Ramalho Eanes, enquanto CEME.
•O CR destitui Otelo Saraiva de Carvalho de Comandante da RML e substitui-o por Vasco Lourenço.
•Os Comandantes das unidades de Lisboa, fiéis ao comandante do COPCON, pressionam-no para transmitir a Costa Gomes a sua oposição ao novo Comandante da RML.
•Reunião em Belém com Costa Gomes, Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço. Costa Gomes decide levar de novo o problema à próxima reunião do CR.
•O Jornal publica uma troca de opiniões pouco lisongeira entre Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho.
•Título de O Comércio do Porto: «Costa Gomes tem a cabeça a prémio».
•Mário Soares na Assembleia Constituinte afirma que: " Costa Gomes tem que se definir: ou é pelo Governo e o apoia, ou o demite e assume perante a Nação as responsabilidades" .
22 de Novembro
•Vasco Lourenço desiste da sua nomeação para o Comando da RML, dado não se confirmar o apoio de Otelo Saraiva de Carvalho. No entanto, o PR remete a decisão final para uma reunião do CR do dia 24. Otelo Saraiva de Carvalho, por sua vez, fica isolado no CR.
•É anunciada a criação da Organização Revolucionária de Sargentos (ORS).
•O 1º e 2º comandantes do Regimento de Comandos, Jaime Neves e Lobato Faria, dão conhecimento a Costa Gomes da sua recusa em continuar integrados no COPCON e exigem ficar na dependência directa do CEMGFA.
•Conferência de imprensa da CODICE, da ex-5ª Divisão, com a presença dos Capitães Paulino e Loureiro e do Comandante Begonha. A CODICE decide colocar-se ao serviço do COPCON, que reconhece como único órgão revolucionário.
•No âmbito da "Operação Vermelho 8" os 123 oficiais pára-quedistas de Tancos concentram forças em Cortegaça, para onde deslocam 7 aviões e 3 helicópteros.
23 de Novembro
•O PS realiza um comício na Alameda Afonso Henriques, no decorrer do qual ataca violentamente o PCP e Álvaro Cunhal.
•Chegada a Lisboa do navio Niassa que transporta o último contingente de tropas portuguesas que se encontrava em Angola. Durante o desembarque ocorrem incidentes com retornados que se manifestam contra o regresso das tropas.
•No ataque indonésio a uma povoação fronteiriça são assassinados vários jornalistas australianos presentes, no local, em serviço de reportagem.
•Depois de complexas e demoradas diligências, o PR difunde um comunicado segundo o qual "ouvidos o Conselho da Revolução e o Governo Provisório o Chefe de Estado, em nome da República Portuguesa, e no exercício da sua competência constitucional decidiu reconhecer o governo da República popular de Angola.
24 de Novembro
•O CR confirma Vasco Lourenço no comando da RML.
•Reunião no COPCON de oficiais da RML que repudiam a decisão tomada pelo CR. Decidiram contudo não levar a cabo qualquer operação que servisse de pretexto à direita.
•O Secretariado Provisório das Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa convoca uma greve de duas horas contra a nomeação de Vasco Lourenço, pela demissão imediata de Pires Veloso, Jaime Neves, Altino de Magalhães e Morais e Silva e pela solidariedade "material" com os pára-quedistas de Tancos.
•As agências EFE (espanhola) e ANSA (italiana) difundem notícias de manifestações de solidariedade de soldados e sargentos italianos e franceses para com a luta dos pára-quedistas portugueses.
•Agricultores de Rio Maior cortam as estradas de acesso a Lisboa, em coordenação com os militares moderados com o objectivo de pressionar os gonçalvistas e o conjunto de forças político-militares que lhes são afectas. Esta foi a acção civil mais notória no 25 de Novembro. (JSC)
25 de Novembro
De Madrugada
•Pára-quedistas da Base-Escola revoltam-se e ocupam as Bases Aéreas de Tancos, Monte Real e Montijo bem como o comando da 1ª Região Aérea de Monsanto.
•O Estado Maior do COPCON pede a Otelo que não abandone as instalações, no que não é ouvido. Em consequência a situação agrava-se e a confusão instala-se no COPCON.
6 horas
•O RALIS ocupa posições nos acessos à auto-estrada do Norte, ao Aeroporto da Portela e na zona de Beirolas.
•Tropas da EPAM ocupam os estúdios da televisão no Lumiar e tomam posições na portagem da auto-estrada do Norte.
•O Serviço de Direcção e Coordenação de Informação é posto em estado de alerta.
7 horas
•O GDACI de Monsanto é ocupado por uma força de 65 pára-quedistas da companhia 121 aquartelada no Lumiar e a acção, comandada pelo sargento Rebocho recebe o apoio da polícia Aérea de serviço no GDACI. O Comandante da 1ª região Aérea, general Pinho Freire, é detido, mas apesar da sua situação não lhe é impedido o acesso ao telefone pelo que contacta Morais e Silva e activa os mecanismos de defesa previamente estudados, fazendo concentrar os pára-quedistas fiéis em Cortegaça. Contacta ainda a Presidência da República e, atendido por Loureiro dos Santos, dá-lhe conta da situação. Ramalho Eanes é também informado.
9 horas
•Inicia-se em Belém uma reunião de emergência do Presidente da República com o CR e comandos militares.
13.35 horas
•O EMGFA, em nota oficiosa, confirma os acontecimentos, avisa os sublevados de que usará a força e considera a rebelião como tendo um objectivo político mais vasto, além da simples contestação a Morais e Silva e a Pinho Freire. Esta nota, em nome de Costa Gomes é o primeiro enquadramento legal das operações do grupo militar chefiado por Ramalho Eanes contra os pára-quedistas.
14 horas
•O Presidente da República exige a presença de Otelo Saraiva de Carvalho em Belém.
14.30 horas
•Otelo Saraiva de Carvalho chega ao COPCON. Reúne à porta fechada com Arnão Metelo, Eurico Corvacho e outros oficiais durante hora e meia. Entretanto Marques Júnior, enviado de Belém, chega para conduzir Otelo ao Presidente da República.
15 horas
•Otelo Saraiva de Carvalho abandona o COPCON em direcção a Belém e Costa Gomes coloca o COPCON sob o seu comando directo.
16.30 horas
•O Presidente da República decreta o estado de sítio na região de Lisboa.
•Os pára-quedistas difundem um manifesto em que afirmam lutar por um «socialismo verdadeiro».
•Os Comandos da Amadora deixam o quartel e desencadeiam a ofensiva em quatro direcções:
1 - Monsanto (BETP)
2 - RPM
3 - RAC
4 - RALIS e EPAM
Qualquer destas operações é precedida de mensagens rádio que as anunciam em nome do PR.
17 horas
•A Emissora Nacional é ocupada por tropas da PM e do COPCON. Mais tarde, na edição do jornal da noite às 20h, vão ser feitos apelos à revolução, em nome de Otelo e do poder popular.
17.30 horas
•Ouve-se na Rádio da Polícia Militar um apelo a forças militares não identificadas no sentido de serem enviados reforços militares para a Emissora Nacional. Pouco depois saem tropas da PM.
•Entretanto no COPCON o Coronel Varela Gomes tenta dirigir as operações.
18 horas
•O Capitão Duran Clemente (da EPAM) apela, através da televisão, à mobilização popular, junto aos quartéis e às estações da rádio e TV.
•O Sindicato dos Operários Metalúrgicos faz um apelo à greve e à mobilização de massas junto dos quartéis.
19.15 horas
•As tropas que ocuparam Monsanto rendem-se a uma força dos Comandos da Amadora, chefiada por Jaime Neves. O capitão Faria Paulino é preso.
Ainda durante a tarde
•Costa Gomes contacta telefonicamente com Álvaro Cunhal e com a Intersindical no sentido de desmobilizar a população civil concentrada junto de alguns quartéis.
20.45 horas
•A emissão nacional da Emissora Nacional passa para o Porto.
21.10 horas
•Duran Clemente explica, através da televisão, as motivações do golpe, quando a emissão é subitamente interrompida e prossegue dos estúdios do Porto, transmitindo um programa de canções interpretadas por Danny Kaye.
21.15 horas
•O General Costa Gomes dirige uma mensagem ao país, pela rádio e televisão, em que comunica ter decidido impor o estado de sítio parcial na região abrangida pelo Governo Militar de Lisboa. Otelo Saraiva de Carvalho aparece a seu lado no écran.
22 horas
•É anunciado que o General Pinho Freire retomou o comando da 1ª Região Aérea.
•Concentração de milhares de trabalhadores junto ao RALIS.
22.10 horas
•O Rádio Clube Português cessa as suas emissões.
22.20 horas
•É anunciada a rendição da Base de Monte Real.
26 de Novembro
0.15 horas
•A base da Ota, ocupada durante a tarde por pára-quedistas, regressa à anterior linha de comando. Pára-quedistas abandonam também a Base de Tancos.
Manhã
•Comandos da Amadora, chefiados por Jaime Neves, atacam o Regimento da Polícia Militar. Após a rendição da PM, há vítimas mortais de ambos os lados, dois militares pertencentes aos Comandos (tenente Coimbra e furriel Pires) e um da PM (aspirante José Bagagem).
•O comando da PM, constituído pelos majores Campos Andrade, Mário Tomé e Cuco Rosa é preso. Na mesma ocasião é também detido um civil armado.
•O major Diniz de Almeida, depois de um telefonema da Presidência da República, dirige-se a Belém e é imediatamente detido.
•Tropas da RMN e da RMC reforçam a RML, ficando estacionadas na EPI, em Mafra.
•Os sindicatos apelam à greve geral.
Tarde
•Uma coluna de carros blindados da EPC de Santarém dirige-se para Lisboa, ficando estacionada no DGMG, em Beirolas, próximo do RALIS.
•Centenas de populares continuam concentrados frente ao RALIS, onde a situação é tensa e os militares continuam em posição de defesa.
•Um novo comandante, o Major Paz substitui o Capitão Luz, no comando do destacamento do Forte de Almada, onde a situação tende a normalizar-se. Fuzileiros dispersam os populares que se haviam concentrado junto àquela unidade.
•A EPAM regressa ao comando da RML.
•O Regimento de Infantaria de Setúbal é reforçado com uma força de blindados de Cavalaria de Estremoz.
•Continuam as reuniões de esclarecimento interno nas unidades da Armada.
•Nova comunicação ao país do PR: " Move-nos a ideia de que um socialismo se constrói como obra pragmática, com avanços decisivos mas prudentes. Não é com verbalismos ocos, com greves infundadas, com manifestações profissionalizadas que se edifica uma sociedade sem classes".
•O Comércio do Porto é o único jornal dependente do Estado a publicar-se em todo país, visto o Porto não ter sido abrangido pelo Estado de sítio.
•Durante a noite a Base do Montijo regressa ao comando da 1ª Região Aérea.
•Comunicado dos SUV-Trabalhadores Unidos Vencerão apela à resistência dos trabalhadores perante o golpe militar da véspera.
Ainda neste dia
•Melo Antunes afirma na televisão: “a participação do PCP na construção do socialismo é indispensável”.
•A partir desta data integra-se no ELP a Rede de Acção Interna (RAI), levando consigo explosivos, minas e bombas de relógio. (JSC)
27 de Novembro
Madrugada
•Entram na prisão de Custóias (Porto) algumas dezenas de militares por participação no alegado golpe. Além dos três majores da PM, e de Diniz de Almeida, o capitão Faria Paulino, o capitão-tenente Marques Pinto e sargentos da Comissão Coordenadora de Sargentos da Força Aérea.
Dia
•Numa última reunião no COPCON com Otelo Saraiva de Carvalho, coronel Artur Batista, capitão Lourenço Marques, major Arlindo Ferreira, capitão Tasso de Figueiredo, capitão Ferreira Rodrigues, tenente-coronel Arnão Metelo, comandante Gouveia e major Barão da Cunha é discutida a situação e ainda se admite o volte face. Entretanto o COPCON será dissolvido e as suas unidades integradas no EMGFA.
•É nomeado CEME, interino, o Tenenete-Coronel Ramalho Eanes.
•Forças do Regimento de Comandos montam operação de cerco ao COPCON. São presos alguns oficiais cujas identificações não são tornadas públicas. Eanes comanda a operação. Otelo não figura entre os oficiais detidos.
•Uma delegação de pára-quedistas da Base-Escola de Tancos discute, em Lisboa, com Costa Gomes e Morais e Silva, os termos das negociações para a normalização da situação naquela unidade.
•Os generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos dos cargos de CEME e de Comandante do COPCON respectivamente e pedem a sua demissão do CR.
•A UDT e a APODETI propõem a realização de uma cimeira sobre Timor, no Bali. Esta decisão foi encarada como manobra de diversão após a recusa de participação na cimeira anterior, agendada para Darwin.
•O CR demite "todos os membros em exercício da administração" das empresas jornalísticas nacionalizadas, suspendendo a publicação dos jornais e revistas editadas pelas referidas empresas até à nomeação pelo Governo de novos administradores. Só os conselhos administrativos das empresas do Porto são reconduzidos.
28 de Novembro
•É anunciado o início do inquérito aos acontecimentos do 25 de Novembro conduzido por Marques Júnior.
•São passados mandatos de captura contra Varela Gomes e Duran Clemente.
•O tenente-coronel Arnão Metelo é também detido em Custóias.
•O 6º Governo retoma funções. O Conselho de Ministros promete o direito de reserva aos donos das terras expropriadas.
•Demitem-se dos seus cargos os almirantes Rosa Coutinho e Filgueiras Soares.
•É nomeado novo conselho de administração da ANOP.
•A FRETILIN declara unilateralmente a independência do território de Timor Leste. Como reacção a esta decisão a UDT e a APODETI declaram igualmente a independência seguida de integração na Indonésia.
29 de Novembro
•Costa Gomes dá posse ao novo Chefe do Estado Maior da Armada, almirante Souto Cruz, afirmando na ocasião: "Por várias vezes tenho afirmado que não posso admitir que conflitos ideológicos entre portugueses sejam solucionados por confrontações militares violentas."
•É levantado parcialmente o estado de sítio na área da RML.
•Em comunicado, o governo português declara não reconhecer nem a independência de Timor nem a integração na Indonésia. Reafirma a sua intenção de solucionar a crise, através de negociações e anuncia que poderá ser forçado a recorrer à mediação da ONU.
•A imprensa não estatizada é autorizada a reiniciar a sua publicação.
Ainda antes do 25 de Novembro
•Têm início as operações para introduzir em Portugal 2000 carabinas oferecidas por Mobutu e desembarcadas em Cádiz com o apoio das autoridades espanholas, apoio esse conseguido com a mediação de Dias Lima. (JSC)
•Mário Soares avista-se, em Inglaterra, com James Calhagan para coordenar a ajuda militar britânica no caso de ser desencadeado um golpe comunista. Os serviços secretos britânicos enviam um oficial que Soares põe em contacto com o Grupo dos Nove para estudar a situação, combinando-se que, no caso de estalar em Portugal uma guerra civil, os ingleses lançariam, de pára-quedas, armas no Norte. (JSC)•Membros do AMI e da facção mais moderada do CR estabelecem tácticas e coordenam acções para uma eventual mobilização geral anti-comunista no Norte, contactando com o grupo "Maria da Fonte" e outras organizações armadas. O mais activo nestas conversações foi o major Canto e Castro. (JSC)

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