quarta-feira, dezembro 10, 2008

Opinião: "MAGEM MEDIÁTICA DOS MEDIA"

Da autoria do professor universitário, João César das Neves, da Universidade Católica e publicado no DN de Lisboa, transcrevo com a devida vénia, pelo interesse e actualidade a seguinte passagem do artigo que pode ser lido no link acima indicado: "Ninguém emenda um erro que não reconhece. Quem acha que tudo vai bem só corrige o mal demasiado tarde. A recente crise financeira mostra muitos casos destes. Em Portugal, onde vários sectores se reconhecem em graves dificuldades, há um que se julga em sucesso. Por isso é esse que tem realmente problemas graves. Não por serem grandes, mas por não serem assumidos.Hoje o jornalismo reina soberano. Faz e desfaz poderes, promove e derruba personalidades, decreta juízos, recebe vassalagem de todos os interesses. Para um sector que ainda há anos passou por turbulências sérias, dificilmente se imaginaria situação mais vantajosa. Precisamente por isso, o jornalismo português vive um dos momentos mais perigosos da sua história.A nossa imprensa traz pouca informação. Muita análise, intriga, provocação, boato, emoção, combate, mas pouca informação. O público não quer jornalismo, quer entretenimento. Para ter sucesso o repórter precisa de ter graça, ser espirituoso, ver o aspecto insólito. Assume uma atitude de suposta cumplicidade com o leitor, ouvinte ou espectador desmontando para gáudio mútuo o ridículo que achou que devia reportar. Antecipa no relato o que assume ser o veredicto popular, condenando ou absolvendo aqueles que devia apenas retratar.Assiste-se a uma verdadeira caça ao deslize, empolado até à hilaridade. Só triunfa se apanhar desprevenido e atrapalhar o entrevistado. Enquanto descreve o que vê quase às gargalhadas, não se dá conta da perda de dignidade profissional. Tem sucesso, mas não rigor. Quem segue a notícia fica com a sensação de ouvir aquele que, dos presentes, menos entendeu o que se passou no acontecimento.Aliás, relatar o sucedido é o que menos interessa. O jornalista vai ao evento para impor a agenda mediática que levou da sede. A inauguração de um projecto revolucionário, por exemplo, só importa pela oportunidade de fazer a pergunta incómoda ao governante sobre o escândalo do momento. Investimentos de milhões, trabalho de multidões, avanços e benefícios notáveis são detalhes omitidos pela intriga picante que obceca o periódico.É significativo que existam em Portugal muitos analistas famosos e respeitados, mas poucos jornalistas reputados pelo facto de serem jornalistas. Os directores de informação costumam ser também colunistas. As referências da classe são comentadores. Parece que informação e reportagem é actividade menor".

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