segunda-feira, dezembro 15, 2008

Opinião: "Palhaçadas"

Hilariante peça de teatro. Palhaçadas. Teatro do “faz de conta”. Francisco Coelho. Autor, actor e intérprete. Igual a si próprio. No seu melhor. Nem etéreo nem virtual, simplesmente real. Local da cena, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores, na cidade da Horta. Titulo da peça: apreciação, discussão e votação do Programa do Governo dos Açores. Figurantes sem direito a opinião, os deputados da oposição. O enredo da peça, a pura e simples aprovação do Programa do Governo sem que o mesmo houvesse merecido apreciação na Comissão especializada, discussão pormenorizada em plenário ou sequer uma simples votação pelos eleitos. E, muito mais grave, sem que os Vice-Presidentes da Mesa tivessem tido prévio conhecimento acerca da forma como o Programa iria passar na Assembleia. Continuo a falar pelo que foi apresentado pela Comunicação Social… A assistência, francamente atarantada com tanta arrogância, prepotência e desplante por parte do maioral da Região, era integralmente composta pelo Povo Açoriano. Uma peça destas, nunca me fora dado ver. Um actor com personalidade tão forte, nunca pensei que pudesse existir. É bem de ver que os homens não se medem aos palmos… nem é pelos palmos que se afirmam os Homens! Bem sei que, segundo li dos desabafos dos deputados da oposição, o Presidente da Assembleia não fez mais do que interpretar as palavras do Chefe, que havia dado o Orçamento como aprovado logo que o entregou na Assembleia. O líder parlamentar do PSD soube ser oposição séria, frontal e esclarecida. Comedida, a representante do Bloco não poderia ser mais cáustica e incisiva. O CDS parece que nunca mais acaba de pagar a dívida da legislatura anterior e, do PCP, seria de esperar mais. Mas todos fizeram a marcação na pauta com a mesma tónica: a democracia nos Açores vai-se esvaindo com actos e com actores desta natureza. O Partido Socialista merecia mais. Carlos César merecia melhor. O primeiro, porque ao cabo de três legislativas regionais continua a merecer a maioritária confiança do Povo Açoriano. O segundo, porque tem sabido ser o político firme, determinado, inteligente, intransigente e aglutinador que todo o partido político que se preze gostaria de ter. Todos temos direito a ter o nosso momento de infelicidade. Francisco Coelho, como homem público, a quem o povo tem de exigir comportamentos e atitudes exemplares, só terá tido mais um momento de infelicidade. Agora que o Povo Açoriano merecia ter como primeira figura do poder autonómico uma personalidade em que ornamentos como o puro respeito pelas rectas regras da democracia - lavradas nas letras da lei ou sustentadas pelo direito consuetudinário - e um carácter despido de sinuosidade e enviezamentos fossem a tónica dominante, ai isso eu penso que merecia. Mas, está bem de ver, esta não é mais do que a minha modesta opinião. E, esta, valendo muito para mim, para os outros poderá não valer mais do que aquilo que vale… Valer por valer, em tudo isto valeu a visão de Carlos César, atento como sempre aos deslizes que o possam comprometer. Não foi por mera inspiração do Divino Espírito Santo que, no dia imediato, se sucederam as reuniões da Mesa da Assembleia, as conferências de líderes e a reunião dos deputados em plenário, para rectificar a burrada da véspera, procedendo-se à votação do orçamento, repondo-se à democracia o respeito que lhe pertence e dando a Carlos César o conforto de governar com um orçamento de facto votado e aprovado por maioria na Casa Açoriana. E também não digo que uma burrada seja uma ilegalidade… Agora que este “salta para a frente” e volta atrás para baralhar e dar de novo as cartas que toda a gente antecipadamente conhecia, não deixa de ser uma grande palhaçada, ai isso não deixa mesmo! Histórias e peças de teatro como estas, dispensam-se. Pessoalmente, acho que também eu merecia mais. E acho igualmente que também merecia melhor".
José Nunes, Correio dos Açores

Sem comentários: