domingo, julho 19, 2009

Jornalismo: mais uma...

Escreve a jornalista do Publico, Dulce Furtado , que "ela gritou, gritou na rua a plenos pulmões que estava a ser raptada, mas ninguém interveio. Natalia Estemirova, advogada e activista dos direitos humanos na Tchetchénia, foi forçada há dois dias por quatro homens a entrar num velho Lada ao sair de casa, numa movimentada rua de Grozni, às 8h30 da manhã. Oito horas mais tarde era encontrada morta, na vizinha república da Inguchétia, com um tiro no peito e outro na cabeça.Tinha 50 anos e uma filha de 15, com a qual vivia num pequeno apartamento de Grozni, capital tchetchena, de onde sempre se recusou a partir apesar das constantes ameaças que recebia devido ao trabalho de investigação que fazia para a organização de defesa dos direitos humanos moscovita Memorial sobre os abusos cometidos pelas lideranças do seu país.Criticava abertamente a força paramilitar fiel ao Presidente da Tchetchénia, Ramzan Kadirov, o qual tomou o controlo daquela república do Sul da Federação Russa após as duas guerras separatistas ali travadas ao longo de mais de dez anos e que governa o território como um domínio pessoal. É um país onde os opositores de Kadirov têm curta esperança de vida, sejam antigos companheiros de guerrilha que os tempos tornaram rivais, rebeldes islamistas, jornalistas ou activistas dos direitos humanos. Inúmeros destes casos foram denunciados por Estemirova, que até há uns três anos trabalhou amiúde com a jornalista russa Anna Politkovskaia - também esta assassinada, a 7 de Outubro de 2006, à porta de casa em Moscovo, com quatro tiros certeiros à queima-roupa: três no peito e um na cabeça, o "kontrolni vistrel", o tiro de controlo, assinatura dos assassinos contratados."Haverá duas versões [sobre a morte de Natalia Estemirova]: uma em que foi Kadirov que a matou, outra em que ela foi morta para tramar Kadirov. E toda a gente falará para sempre nestas duas versões. Mas esse não é o ponto central desta história. O que importa verdadeiramente é que, quando há territórios onde a Constituição não é aplicada, o resultado é que qualquer coisa pode acontecer", avaliou o director do Novaia Gazeta, Dmitri Muratov, o jornal para o qual Estemirova muito contribuíra nas investigações feitas com Politkovskaia.E na Tchetchénia tudo pode acontecer, concordam muitos analistas, julgando logo à cabeça as assumidas tácticas brutais seguidas por Kadirov, o qual defende publicamente a tradição tchetchena do "direito de sangue", o direito de vingança, e nunca escondeu ser "implacável" com os inimigos. Antigo guerrilheiro separatista - combateu as forças federais russas na segunda guerra da Techtchénia mas acabou por mudar de trincheira e assumir-se como "fã número um" do antigo rival Vladimir Putin, ex-Presidente e agora primeiro-ministro da Rússia -, Kadirov raramente é chamado a Moscovo para se explicar".

Sem comentários: