domingo, julho 19, 2009

Turismo: sim? E o que é que se passa no Algarve?

Hoje li no DN do Funchal que a hotelaria do Porto Santo está com menos de 40%. Há dias, no mesmo jornal li qualquer coisa sobre o turismo na Madeira na sequência dos indicadores do INE. Dei comigo a pensar: será que a Madeira virou "inferno" no meio de um "paraíso" cheio de demónios disfarçados de anjinhos? Depois fui percebendo... Como não emito juízos de valor, mesmo sabendo que existem critérios jornalísticos básicos que mandam que ao mesnos se noticie, tanto quanto possível, o que se passa noutras regiões turísticas - tomando como exemplo este caso - até para que as pessoas tenham um termo comparativo e não sejam manipuladas ou circunscritas na sua análise. Assim sendo, pela mesma bitola, e citando o Expresso de sábado passado, vejamos o que se passa naquela que é a principal região turística de Portugal, o Algarve, na qual não creio que o Governo Regional da Madeira tenha jurisdição:

- O Algarve mais vazio dos últimos 30 anos - pela jornalista Joana Pereira Bastos "Crise. Nas praias, nos restaurantes e nos hotéis é visível o impacto das dificuldades económicas. Há muito menos turistas e o consumo está em queda Regatear preços tornou-se prática corrente na região Há algo que não bate certo na fotografia. O céu está limpo e o vento sopra devagar, só o estritamente necessário para aliviar na pele o calor intenso do sol. O mar calmo, quase sem ondulação, ajuda a compor o cenário de um dia perfeito de Verão no Algarve. Mas nas espreguiçadeiras não se vêem corpos bronzeados, nem há famílias a descansar à sombra dos toldos. Pouco passa das 17h e na quase sempre apinhada praia de Santa Eulália, perto de Albufeira, há espaço de sobra para estender toalhas. Estaremos enganados no calendário? Olhamos para um lado e para o outro e questionamos. “Que dia é hoje, mesmo?”. 15 de Julho. Habitualmente, por esta altura, já meio país rumou a Sul e está instalada a confusão na maior parte das praias algarvias. Agora, não é o caso. E o cenário repete-se um pouco por toda a região. “Estou no Algarve há 30 anos e não me lembro de um Verão assim tão mau”, resume Paulo China, sócio de Luís Figo no conhecido Bar Sete, em Vilamoura. Com vista de camarote para a Marina, bem de frente para os barcos mais luxuosos ali ancorados e rodeado de esplanadas, restaurantes, bares e geladarias, China considera-se “o melhor barómetro do Algarve”. Garante que sabe, como ninguém, tirar o pulso à região e decifrar, por mais imperceptíveis que sejam, mudanças no comportamento dos turistas. Por ser um dos empresários mais conhecidos da zona, é a ele que muitos costumam recorrer para saber onde podem alugar um barco de luxo, qual o melhor sítio para fazer jet sky ou como conseguir reserva nos restaurantes mais concorridos. Este ano, porém, o seu telemóvel anda anormalmente silencioso. “Está tudo aflito. A crise é geral”, garante. Atinge portugueses e estrangeiros, ricos e remediados. Por isso, os restaurantes baixaram os preços, os bares alargaram as happy hours e os hotéis multiplicaram promoções para atrair clientes. Mas todos se acanham na hora de gastar. “No ano passado, por esta altura, a avenida estava cheia de carros e as pessoas faziam fila à espera dos barcos. Agora é um deserto”, lamenta Pedro Salve-Rainha, 35 anos, pescador no Inverno e condutor dos aquatáxis que no Verão cruzam a Ria Formosa entre Santa Luzia e a praia da Terra Estreita, na ilha de Tavira. O preço da viagem até está 50 cêntimos mais barato do que em 2008, mas o movimento é tão pouco que um dos três barcos já nem sequer deixa o cais. Por isso, as palavras saem-lhe pesadas. “É o pior Verão de sempre”, diz. O discurso é o mesmo por todo o Algarve. Andamos 90 quilómetros e a Oeste nada de novo. Em Portimão, Paulo Santos, 50 anos, também nunca viu “desgraça maior”. Usa “o paleio todo” para tentar vender passeios de barco e visitas às grutas, mas já não consegue convencer os poucos turistas que por ali têm passado, junto à zona ribeirinha. “Uma viagem de mais de duas horas custa €15, mas as pessoas dizem que é muito e só querem descontos”, desabafa. Dos barcos aos hotéis, nas esplanadas ou nos bares, regatear preços tornou-se mesmo prática corrente no Algarve. Tony Pereira, sócio de cinco dos mais conhecidos bares e discotecas em Albufeira, não se lembra de nada semelhante. “Agora é só negociar, negociar, negociar. Andam sempre a pedir descontos no consumo obrigatório e mesmo os bons clientes estão a gastar 30% menos. A falta de poder de compra é abismal”, observa. Por isso, confessa ter agora conhecido, pela primeira vez em duas décadas, o amargo sabor do prejuízo. “O ambiente está estranho. Dantes andava tudo feliz, as pessoas sentiam-se bem-dispostas por estarem de férias. Pagavam rodadas a todos. Agora bebem uma imperial. Vêem o preço de tudo. Andam com ar preocupado”, observa Jon Schauder, director-geral do grupo Oceânico, proprietário de sete campos de golfe na região. Perante cenário tão negro, todos depositam as últimas esperanças no mês de Agosto, habitualmente o mais forte do turismo no Algarve. Mas não têm grande fé. Para todos os efeitos, este já é ‘o Verão do nosso descontentamento".

- 255 mil passageiros a menos do que no ano passado. "O Aeroporto de Faro, a grande porta de entrada dos turistas estrangeiros, sobretudo ingleses, para o Algarve regista uma quebra de 10% em relação a 2008. Só em Junho chegaram menos 50 mil passageiros. “Anunciam-se muitas rotas, mas outra coisa é a sua concretização. Há muitos operadores a fazer cancelamentos”, lamenta Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve".

- 30 a a 40% é a diminuição registada no número de jogadores nos campos de golfe do Algarve. "E em alguns as quebras são ainda maiores, revela Jon Schauder, director-geral do grupo Oceânico, que gere sete campos de golfe na região, entre os quais cinco em Vilamoura. Ao contrário do resto do turismo, é na Primavera e no Outono que o golfe tem a sua época alta. Mas este ano foi para esquecer. “Em Maio batemos no fundo”, confessa. Em média, as receitas provenientes do golfe caíram 18% em todo o Algarve. Crise atrasa construção do primeiro 6 estrelas do país A inauguração do Palácio da Quinta, na Quinta do Lago, estava prevista para este ano, mas os promotores admitem que o “cenário económico” obrigou a adiar a abertura para 2011. No futuro empreendimento mais luxuoso de Portugal, uma suite deverá custar €500/noite. O mercado dirigido às classes mais altas ressente-se. A venda de casas na Quinta do Lago regista quebras de 15%".

- 20% é a quebra nas receitas da hotelaria relativamente a 2008. "A desvalorização da libra afastou do Algarve milhares de turistas britânicos, que até ao ano passado superavam os portugueses em número de dormidas. Para responder à falta de procura, os hotéis multiplicam promoções, mesmo em plena época alta. Ainda assim, abundam quartos vazios. Na zona de Faro e Olhão a taxa de ocupação dos hotéis no mês passado nem sequer chegou aos 50%. Vilamoura, Albufeira, Carvoeiro e Lagoa também estão entre as zonas mais afectadas".- Barcos à venda na Marina de Vilamoura - "É um dos mais emblemáticos locais do Algarve, mas já não transmite o mesmo glamour. Dos mais luxuosos aos mais pequenos, são às dezenas os barcos à venda. “Os proprietários de classe média/média alta estão francamente em contenção devido à crise. Os barcos são bens acessórios e, por isso, os primeiros de que se vêem livres”, afirma a directora da Marina, Isolete Correia".

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Em que ficamos: se no Algarve, primeira região de turismo portuguesa, a realidade é esta, não há uma evidente fobia tendenciosa de exigir milagres na sazonal Ilha do Porto Santo? E do resto não se fala?

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