terça-feira, setembro 29, 2009

João Jardim: "Mais uma vez, em jogo, o Projecto Madeira"

Com o título "Votar pelo PROJECTO MADEIRA", Alberto João Jardim assina mais um texto de opinião na edição do "Madeira Livre" que esta semana será colocada em distribuição:
“Quando, em Maio de 1974, um grupo de Cidadãos fundámos a Frente Centrista da Madeira, meses depois contratualizada a sua participação autónoma no então PPD, foi com o objectivo de transformar radicalmente o arquipélago da Madeira. Cientes de três coisas:
- o então «distrito» era o mais atrasado de todo o Portugal;
- da ideia que o Dr.º Fernão de Ornelas deixara «o madeirense é o pior inimigo do madeirense»;
- da cultura colonial, de séculos, do Estado português.
Para nós, os episódios ditos «revolucionários» que então se sucediam, não passavam de um período que era necessário ultrapassar através da mobilização das Consciências, de muito trabalho e de firmeza democrática. E logo se organizou um Programa autonomista, o primeiro dessa época, cujos Princípios se mantêm actuais e cujas linhas de acção foram sendo concretizadas até o dia de hoje.Tratava-se, e trata-se, de um Programa Madeira, libertariamente distanciado de uma Lisboa de cultura colonialista, confiante nas capacidades de um Povo Madeirense, mais do que comprovadas na Emigração. Tratava-se de um objectivo de ruptura com os «interesses» económicos e sociais instalados de maneira feudal e de uma aposta numa acção célere e pragmática de captação de recursos, sua aplicação, e de educação cívico-democrática de todo o Povo. Quem olha para o estado em que a Madeira e a sua população então se encontrava, deve pensar que os nossos sonhos e persistência dessa altura, constituíam uma rematada loucura, uma flagrante utopia. Quem olha para o estado em que a Madeira e a sua população então se encontrava, ao menos tenha a honestidade de reconhecer que nem parece verdade o que os autonomistas sociais-democratas foram capazes de conseguir até o dia de hoje.
Quem olha para a sociedade de então, ao menos tenha a honestidade de reconhecer quão absolutamente diferente é a Madeira de hoje, não apenas nos campos infraestruturais e económicos, mas também na estrutura social e na vida cultural. Quem, atento, analisar comparativamente o passado e o presente, entende a razão porque, hoje, várias «famílias» então dominantes, odeiam radicalmente os autonomistas sociais-democratas.
A raiz mais recente do atraso da Madeira em 1974, em minha opinião pessoal pode, a par de outras, ser encontrada no período das invasões francesas. As invasões deram-se apenas no Continente. E, apesar de tanta tragédia que acarretaram para os Portugueses, deixaram a semente dos grandes Princípios da Revolução Francesa, que explicam a evolução política que se lhes seguiu. Pelo contrário, a Madeira foi então ocupada por tropas inglesas, as quais só saíram, pressionadas, do nosso arquipélago, nove anos depois de terem partido do Continente. Ao contrário dos Valores da Revolução Francesa, reforçaram os conceitos britânicos que eram opostos ou diferentes, e trouxeram novas imigrações económicas de sua origem.
Parte disto explica o clima político vivido, mesmo depois de conquistada a Autonomia Política. Assim e apesar do grande Desenvolvimento Integral dos últimos trinta anos, os autonomistas sociais-democratas têm sido obrigados a lutar em três frentes:
-a cultura político-colonial de séculos, em Lisboa;
-uma pseudo-«esquerda» radical na Região que ameaça a Democracia por ser comunista. E um «socialismo» sempre estéril e absolutamente inadequado à realidade madeirense que, exclusivamente preocupado com interesses partidários próprios, não hesita em se assumir como o «partido de Lisboa» e em tentar boicotar ou denegrir tudo o que foi conseguido.
- interesses conservadores do passado, que não nos perdoam as mudanças concretizadas – e, no íntimo, sobretudo as sociais – pelo que até não hesitam em alianças tácticas com a pseudo-«esquerda».
Há que reconhecer que esta luta ante três frentes inequivocamente poderosas, nos seus meios político-materiais que não pelo voto do Povo Madeirense, vem sendo extremamente difícil, incluso porque sabem explorar o atavismo de «o Madeirense ser o maior inimigo do Madeirense». Mas sem desmotivar os autonomistas sociais-democratas, antes incentivando-nos sempre mais. É nesta situação indesmentível que chegamos às Eleições Autárquicas, no próximo dia 11 de Outubro.
Mais uma vez, em jogo, o Projecto Madeira. Num quadro de lógica e de eficiência democrática operante, a estratégia dos autonomistas sociais-democratas foi sempre a de se orientar por uma prática de firme disciplina interna e de projecto, pois sabíamos que, face a três frentes tão difíceis, a fragmentação da política regional ao sabor de «quintas», de vaidades pessoais ou egoísmos, permitiria, incluso perante os «cavalos de Troia» existentes, a impossibilidade de o progresso e do Desenvolvimento Integral que alcançámos, e com o qual ninguém sonharia em 1974. Daí o conceito vivido pelos autonomistas sociais-democratas, na prática de os seus governantes regionais, Deputados e Autarcas constituírem uma só Armada, e de os recursos disponíveis, no seu conjunto, estarem específica e rigorosamente adstritos e distribuídos a um só projecto, o Projecto Madeira para o Bem Comum de todo o Povo Madeirense.
Foi isto que permitiu à Madeira chegar até aqui.
Pelo que, é na análise do assim conseguido, que certamente, de forma livre e democrática, se vai formar a opinião de cada Eleitor.
Ou, preferia que não fôssemos a Madeira e o Porto Santo que, social, cultural e economicamente conseguimos atingir nos dias de hoje, com as respectivas virtudes e defeitos e quando há trinta e cinco anos ninguém acreditava que tal fosse possível.
Ou vai votar nas Eleições Autárquicas para que este Projecto Madeira continue, prossiga para mais Desenvolvimento Integral, melhores aperfeiçoamentos e para a continuação da luta, por nós irrecusável, para uma necessária maior Autonomia Política do arquipélago e mais Direitos, Liberdades e Garantias do Povo Madeirense.
O resto são picuinhas domésticas.
O resto é conversa”.

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