sexta-feira, abril 29, 2011

Imaginem que...

Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso resolvia pegar e divulgar em aspectos mais dramáticos da vida privada das pessoas, de jornalistas, de empresários, de gestores, de estrangeiros residentes na Madeira, até de políticos e os divulgava, pisando os limites da ética e da decência? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso colocava em livro a boataria mais rafeira e usava como verdades absolutas o que se diz à boca pequena, que revelava tudo o que lhe apetecia, de pouco digno caracteriza alguns figurantes presentes na festança daquele dia? Tudo por mera suposição Que falava de comboios? Ou de apetites, apetências, vocações ou tendências atrofiadas ou ocultadas? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso, resolvia falar de lamentáveis cenas públicas, ocorridas em locais públicos, reveladores da fragilidade e dos vícios humanos, factos absolutamente tristes e lamentáveis, que deviam por isso continuar reservados porque parte integrante e sagrada da vida privada de cidadãos e que não se podem confundir com ajustes de contas ou "vendettas"? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso resolvia falar de vícios familiares, de desconfianças quanto à utilização de dinheiros alheios, ou de irmãos que não se falam por razões de estatuto social e por causa da actividade profissional que cada um deles tem? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso entrava pelos domínios das fidelidades ou das infidelidades de toda a espécie, que trazia para o público as histórias de alegados casos de corrupção, por sinal não protagonizados por ninguém do poder, de empregos dados a familiares aproveitando empregos não políticos que alguns tiveram no passado, que falava de comissões cobradas por serviços prestados, de processos judiciais em curso ou já julgados pouco abonatórios para os seus protagonistas? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso resolvia falar de insinuações, de boatos, de compra e venda de edifícios, de comissões pagas ou prometidas a troco de negócios chorudos. Pergunto: será que tudo isso ganharia facilmente espaço informativo e noticioso? Será que é legítimo entrar por esses caminhos? Será que é “chique”, por muito grande que seja o desejo de vingança, promover o enxovalho de pessoas, sem que elas se defendam, sem, o contraditório que caracteriza (?) as democracias ou os regimes sem défice democrático? Tudo isto recorda-me, penosamente, os espaços que não se dão a determinadas notícias envolvendo determinadas empresas, envolvidas ou acusadas por organismos judiciais, de negócios processualmente pouco claros ou mesmo ilegais, contrastando com o mesmo espaço dedicado a situações similares mas envolvendo outros protagonistas, numa demonstração do que o chamado "jornalismo" rafeiro é capaz. Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso resolvia falar de casas de função obtidas com cunhas junto do poder, ou projectados casamentos anulados em nome de outros interesses financeiros e sociais mais rentáveis e estatutariamente "superiores"? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso, resolvia falar de alguns dramas humanos que destruíram pessoas respeitáveis, as quais continuam entre nós, sofrendo todos os dias, e cuja vida hoje pouco ou nada tem a ver com o que foi no passado. Seria isso legítimo? Seria isso justo? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso que resolvia falar de dúvidas de gestão em instituições supostamente vocacionadas para servir os homens em nome de valores mais elevados, e não para deles se servirem? Imaginem, por mera suposição, que alguém mais asqueroso, explorava os amores (e desamores) de perdição proibidos, protagonizados por “santos” feitos a martelo ou por quem esqueceu as causas e valores morais não compatíveis com tais procedimentos? Será que todas estas situações beneficiariam do mesmo espaço, do mesmo destaque, da mesma atenção informativamente tão acutilante? Estamos numa sociedade democrática e livre. É sabido. Tenho um respeito quase sagrado por essa liberdade. Todos temos direito de expressar a nossa opinião, e de respeitar os que com ela concordam ou discordam, podemos até ser acutilantes e roçar os limites do eticamente tolerável, sem os pisar. Se meteremos a "pata-na-poça", assumimos as responsabilidades daí resultantes. A liberdade impede que alguém seja perseguido ou impedido de escrever ou de falar, só porque não concordamos com ele, com os seus métodos, com os eu comportamento, etc.

Basta recordamos a assistência predominantemente presente num acto que pelos vistos está especulativamente rodeado de muitos “mistérios”, contradições e hipocrisia - mas isso ainda está por desvendar, só possível se a hipocrisia não for mais forte que a verdade e o jornalismo eticamente sério. E de muita encenação. Percebemos facilmente as origens, as cumplicidades, a promiscuidade, as motivações e as fontes de informação que serviram de base à complicação de recortes do que outros escreveram. Mas todos eles devem estar felizes, satisfeitos, sentem-se realizados, mergulhados na promiscuidade que caracteriza o quotidiano de alguns energúmenos que por aí andam, sem qualquer autoridade moral para apontarem o dedo seja a quem for, sem um pingo de dignidade de vida para falarem seja do que for ou de quem for. Decididamente não me revejo neste tipo de sociedade, não me revejo no recurso a estes comportamentos desprezíveis. Mesmo que, tal como comecei por referir no início desta nota, que tudo isto seja escrito com base na mera suposição...

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