sábado, setembro 17, 2011

Açores: Estudo da Ordem dos Enfermeiros com visão preocupada da profissão

Segundo o Dário dos Açores,"ao contrário da aparente satisfação que o Secretário da Saúde revelou esta semana pela situação de quase "pleno emprego" dos enfermeiros açorianos, o estudo em que se baseia é muito mais cauteloso e quase contradiz a alegria governamental. O estudo, patrocinado pela Ordem dos Enfermeiros, intitula-se "Situação laboral dos recém-licenciados em Enfermagem nos Açores (Anos 2009 e 2010)" e, ao contrário da ligação ontem disponibilizada pelo Governo (que resulta numa página em branco), pode ser consultado na íntegra no endereço http://www.ordemenfermeiros.pt/sites/acores/. O estudo refere que "a situação de quase ‘pleno emprego’ apresentada neste estudo deve ser interpretada com especial reserva e cautela. Faltam estudos longitudinais e comparativos que permitam encarar esse dado com tranquilidade. Pelos dados colhidos essa situação parece ser obtida essencialmente à custa de programas de apoio ao primeiro emprego. Uma mudança nas políticas existentes ou a saturação da oferta de enfermeiros disponíveis – fruto da conclusão dos cursos de licenciatura dos estudantes actualmente em formação – podem conduzir rapidamente a um volte-face (que não será, de todo inesperado)". As suas reservas têm razão de ser. É que as soluções de contrato (por tempo indeterminado ou até a termo certo) parecem ter terminado com os licenciados que finalizaram o curso em 2009. Nesse ano, 85% dos novos enfermeiros conseguiram um contrato. Mas em 2010, apenas 12,8% o conseguiram. A solução para eles: o "Estagiar L", que em 2009 foi abrangeu apenas 2 enfermeiros, mas que em 2010 atingiu 64. Quando os dados são misturados, o peso dos estágios profissionais remunerados (que na realidade são trabalho temporário atribuído aos desempregados, como é definido pelo Instituto do Emprego) fica-se pelos 48%. Mas a tendência é claramente diferente. O estudo não chega a cruzar o local de trabalho com o tipo de relação laboral (uma lacuna que não permite compreender qual o tipo de entidades que está a recorrer mais aos estágios), mas revela uma nova realidade: o emprego está cada vez mais no sector privado. O único facto apurável é que apenas 42% dos 152 enfermeiros que chegaram ao mercado de trabalho em 2009 e 2010 foram absorvidos por Centros de Saúde (10%) ou hospitais (32%). Os restantes foram absorvidos, nomeadamente, por lares ou Santas Casas da Misericórdia (13,8%), Casas de Saúde ou Clínicas privadas (14,5% cada), e os restantes 15% em "Projectos de Intervenção" e "Outros". É uma nova realidade. E se bem que o estudo opte por uma posição não alarmista, referindo-se-lhe como "uma oportunidade e, simultaneamente, uma ameaça", não deixa de questionar "se estarão todas essas estruturas devidamente preparadas para suportar estes enfermeiros num processo de indução profissional", e se "estará a socialização profissional dos enfermeiros, e por arrastamento a qualidade dos cuidados (presentes e futuros) que prestam, suficientemente salvaguardada". Questiona mesmo se "a médio prazo esta será uma boa solução", referindo que "inquietações como estas sustentam a recomendação de se avaliar e acompanhar de forma integrada a evolução, no terreno, das respostas existentes no que se refere à empregabilidade dos enfermeiros. E esta avaliação e acompanhamento deverá ser da responsabilidade, não só de quem regula a profissão, como de quem tutela as políticas de emprego, e de quem detém responsabilidades no âmbito da formação dos profissionais". É uma recomendação profunda. Há um dado, aparentemente novo, que sustenta boa parte destas preocupações: o facto de 30% dos enfermeiros referirem que não estão a trabalhar no estabelecimento que desejavam e, por outro lado, os quase 22% dos novos enfermeiros a admitirem mesmo que já pensaram mudar de profissão... Este dado revela que pelo menos 1 em cada 5 novos enfermeiros tem fortes dúvidas em relação à enfermagem, ou à forma como é exercida. É também possível que isso se deva à tenra idade com que muitos destes novos enfermeiros terminam o curso. Quase 50% têm menos de 23 anos, enquanto que 83% têm menos de 25 anos. São idades extremamente jovens para uma profissão que, em muitos casos, exige uma grande dose de experiência de vida para uma relação com os doentes bem sucedida”

Sem comentários: