quarta-feira, novembro 09, 2011

Transportes: prejuízos crónicos penalizaram empresas

Garante a jornalista do Publico, Raquel Almeida Correia que “por detrás das mudanças anunciadas nas transportadoras públicas estão anos de instabilidade financeira, que culminaram no plano de emergência que agora começa a ganhar forma. Incapazes de gerar as receitas desejadas e pressionadas pelos prejuízos crónicos, estas empresas começaram a fazer disparar os níveis de endividamento, o que já levou o Governo a admitir a necessidade de rever o programa de ajustamento económico acordado com a troika. Analisando apenas o universo das seis empresas que, de acordo com o Plano Estratégico dos Transportes definido pelo executivo, vão ser alvo de fusão no próximo ano (Carris, Metro de Lisboa, STCP, Metro do Porto, Transtejo e Soflusa), os prejuízos globais chegaram praticamente a 600 milhões de euros em 2010. A insustentável situação financeira das transportadoras públicas agravou-se com a crise, não só pela redução da procura (e consequente perda de receitas), mas também pelo aumento dos custos de financiamento. Para estancar a escalada do endividamento, o anterior Governo avançou com uma medida que limitava a 7% o crescimento da dívida financeira do sector empresarial do Estado em 2010. O tecto baixaria para 6% este ano, chegando a 4% em 2013. Apesar de a ordem ter sido respeitada pela maioria das empresas, o nível de estrangulamento continua a ser preocupante. O casos mais grave é o da Refer, que acumulou uma dívida remunerada superior a seis mil milhões de euros em 2010. Seguem-se a Metro de Lisboa e a CP, com passivos financeiros de 3,8 e 3,3 mil milhões. Com a banca fechada à concessão de crédito, o preço a pagar pelos empréstimos disparou e muitas destas empresas tiveram de recorrer ao accionista Estado para continuarem a financiar a operação e salvaguardarem a tesouraria. Um cenário que fez disparar os créditos concedidos pelo Tesouro. Só nos primeiros nove meses deste ano, estes apoios alcançaram praticamente 1,7 mil milhões de euros, o que significou uma subida de 2121% face a todo o ano de 2010. Mas este não é o único factor penalizador das contas públicas. Este ano, fruto de uma revisão nos métodos de contabilização, três destas empresas (Metro de Lisboa, Metro do Porto e Refer) passaram a estar no perímetro de consolidação do défice, porque as suas receitas próprias não cobriam 50% dos custos. Passaram a fazer parte de um grupo designado por "empresas reclassificadas", que incluía a RTP e a Estradas de Portugal, por exemplo. Para o próximo ano, o Governo estima que este conjunto de entidades seja responsável por um agravamento do défice público na ordem dos 1,2 mil milhões de euros. E é também por isso que Pedro Passos Coelho veio admitir recentemente a necessidade de rever o programa de ajustamento acordado com a troika. Por agora, estão a ser dados passos no sentido de atenuar os impactos negativos das contas das transportadoras públicas. As redes estão a ser reestruturadas para preparar um movimento de fusão que acontecerá no próximo ano. A ideia é cortar nas redundâncias da operação, o que, como o próprio Governo já admitiu, vai levar a despedimentos. E o próximo passo será a abertura de concessões que hoje são do Estado a investidores privados. O Governo avançou recentemente ao PÚBLICO que quer entrar em 2013 já com este processo concluído”.

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