sexta-feira, dezembro 16, 2011

Opinião: A idade de reforma

"Soube-se, há dias, o valor do "factor de sustentabilidade" a aplicar no cálculo das pensões a iniciar em 2012. Este parâmetro (inferior a 1) representa o quociente entre a esperança média de vida aos 65 anos em 2006 (17,89) e a actual (18,62). À medida que o envelhecimento se acentua, o numerador afasta-se do denominador, afectando negativamente o montante da pensão. Quem se reformar em 2012 verá a sua pensão ser inferior em 3,92% à que teria antes da existência deste factor. Pode, em alternativa, reformar-se mais tarde para não ver a sua pensão afectada. O tempo adicional, que é função dos anos de desconto, vai dos 4 aos 10 meses.
Assim, a idade da reforma já está, de facto, a aumentar, por força deste ajustamento automático. Tem, todavia, a vantagem de não ser um aumento obrigatório, pois o reformado pode sempre sê-lo a partir dos 65 anos, embora penalizado no montante da sua pensão. Se continuar a verificar-se a tendência destes 5 anos (corte médio anual de 0,78%), atingir-se-á em 2040 (idade em que pessoas de 35 anos chegarão aos 65), uma redução da pensão inicial de 27% ou, em alternativa, ter-se-á que trabalhar até aos 67 anos e 7 meses ou 71 anos e 10 meses (se houver menos descontos). Num tempo mediático em que só conta o dia seguinte, esta evolução, que se apresenta lenta e silenciosa, é desconhecida da população, sobretudo da mais jovem que vai sofrer em cheio o seu impacto.
Bom seria que houvesse mais consciência desta irreversível tendência para que os agora jovens se interessem por meios suplementares de aforro que os protejam na velhice. É necessário fortalecer a pedagogia da poupança e a partilha de riscos de "não pôr todos os ovos no mesmo cesto". Para tal, porém, o agravamento da tributação sobre a poupança não ajuda
". (texto do ex-ministro Bagão Felix, publicado no Jornal de Negócios, com a devida vénia)

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