quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Opinião: Angelices

"Foi um estardalhaço à volta das declarações de Ângela Merkel e da sua alusão à Madeira quando associou a nova perspetiva da Comissão Europeia, relativamente à prioridade a estabelecer na utilização a dar às verbas remanescentes do quadro comunitário 2007-2013, e a construção de pontes, túneis e vias rápidas. Se Merkel conhecesse a Madeira - que não conhece - antes do 25 de Abril (não conhecia porque vivendo na ex-RDA tinha mais coisas com que se preocupar...) e constatasse as assimetrias existentes no domínio das acessibilidades, certamente que perceberia a prioridade dada a estas infraestruturas. Obviamente que aceito que algumas decisões tomadas, mais recentemente, e no domínio específico das acessibilidades, possam ser discutidas e provavelmente possam não ter sido concretizadas, sobretudo se entender que as prioridades seriam outras. Confesso que não tenho opinião consistentemente formada. Reconheço que hoje, inquestionavelmente, as prioridades da Madeira, sobretudo as sociais, bem como a pressão causada pelo aumento do desemprego para valores preocupantes, fazem com que as essas prioridades tenham que ser outras e que as pessoas com responsabilidades estejam atentas a isso.
Lembro, contudo, que todos os projetos de investimentos submetidos ao financiamento de fundos comunitários foram elaborados pela Região e submetidos, pelos canais próprios (Estado), à respetiva aprovação prévia, desconhecendo se tanto Ângela, como qualquer outro pau-mandado ao seu serviço, alguma vez contestaram fosse o que fosse. Isto leva-me a suscitar uma outra questão, porventura a mais intrigante e que nada tem a ver nem com o lastimável espalhafato comunicacional dado a estas declarações hipócritas e doentias, nem com todo o vergonhoso e manipulado aproveitamento político-partidário, absolutamente indigno, a que assistimos na Madeira, por exemplo contrastando com posições coerentes assumidas noutras latitudes: como é que Ângela, naquele momento em concreto, quando falava de improviso para um grupo de estudantes de numa universidade alemã, se foi lembrar da Madeira, quando a União Europeia está farta de financiar projetos que são barretes autênticos e que não representam contributo para a economia europeia, seja regional, seja global, coisa nenhuma? Aliás, cerca de 50 milhões de desempregados na União, cinco ou seis países financeiramente de pantanas, ou quase, uma ameaça persistente de recessão económica, financeira bem como o espectro constante de uma crise social e política, não devem constituir para aquela antiga residente em Berlim leste (ex-RDA) um legado digno de realce, sobretudo quando estamos perante uma pessoa que alegadamente comanda os destinos europeus juntamente com o pequenote do lado.
Confrontamo-nos, portanto, com o caricato de vermos a pessoa que tem estado sempre como alvo preferencial das críticas, que tem sido apontada a dedo como a causadora da crise europeia e de bloquear qualquer solução, que alegadamente aposta na falência dos países mais carenciados, que revela insensibilidade ao fenómeno europeu, que faz uma abusiva usurpação das suas competências ao tentar impor aos parceiros europeus a visão sectária do eixo franco-alemão, e não sei que mais, de repente, passa a vedeta e vira figura de proa de primeiras páginas. Porquê? Por ter dito o que disse. Apenas por isso, por indiretamente questionar as opções tomadas pelos governos de Alberto João Jardim. O “demónio” da União Europeia, de repente, apenas porque interessa e serve interesses corporativistas em várias vertentes e com vários intervenientes – e isto tem que ser dito muito claramente – vira um “santinho”, todo de branco vestido!
É por isso natural que as pessoas se interroguem sobre as causas destas declarações. Porquê a Madeira?!
Ao ouvir na televisão a opinião de tão “categorizada” representante dos “sucessos” da União Europeia do nosso tempo, e desconhecendo se Ângela alguma vez visitou a Madeira em férias – oficialmente nunca cá esteve – nem sei mesmo se à primeira saberá indicar a localização da região no mapa (mais depressa saberá localizar os países que a Alemanha já explora ou aqueles que pretende explorar até ao tutano) – a única explicação plausível, mas não confirmada, que encontro aponta para o facto de se ter lembrado da Madeira depois de alguma conversa que lhe fizeram – com que “avezinha” seria?! – na última cimeira europeia, quem sabe se a propósito de determinados planos de resgate e do (in) cumprimento de prazos impostos pela “troika” E pergunto-me, a ser assim: qual é afinal a lata e a dignidade dos dirigentes transitórios de um determinado país que queria espatifar milhares de milhões, repito, milhares de milhões de euros, com novos aeroportos, com a alta velocidade, com uma terceira ponte sobre o Tejo, lado a lado com as outras duas já existentes, e que queria fazer não sei que mais, tudo a custa da Europa, indiferente ao facto de perder (e perde) competitividade e ver (vê) o desemprego e as falências de empresas atingirem números nunca antes alcançados, para se arrogarem a este descaramento, e despudoradamente terem comportamentos que se assemelham a uma qualquer bilhardeira de alcofa, a que se juntam atitudes bandalhas que revelam a conhecida submissão servil pessoal que envergonha os portugueses e a sua dignidade?!
Apesar das críticas e das diferenças políticas e de opinião que tenho, reconheço que Carlos César reagiu da forma adequada: “A chanceler alemã desconhece o que é fundamental, que é a diferença entre a obtenção de resultados num território contínuo e no centro da Europa como a Alemanha e num território ultraperiférico e dividido por ilhas". E mais: “Os comissários europeus têm legitimidade para fazer declarações sobre qualquer parcela do território da União Europeia, mas não me parece que um Chefe de Estado de um país possa falar com esta liberdade sobre uma região de outro país". No fundo, há que dizê-lo, o chefe do governo açoriano teve um comportamento que os políticos da oposição regional, e outras instituições com responsabilidades públicas, não tiveram, porque reagiram por mero oportunismo saloio, a reboque daquelas declarações, revelando-se incapazes, nem mesmo nestes momentos, de defenderam a sua terra, independentemente das diferenças políticas e de opinião que possam ter face ao poder.
O problema da Ângela, para além do estigma da História - que eternamente haverá de perseguir a Alemanha, por tudo o que daí resultou - que não se apaga, nem se pode apagar das memória coletiva dos povos, tem a ver com o conflito de interesses entre o conhecido e habitual sectarismo egoísta da Alemanha e a ambição colonialista de uma dirigente europeia medíocre, a roçar a extrema-direita, e que tem tido um comportamento indigno e de bandalho ao longo de toda esta crise europeia, enxovalhando a Grécia e chegando mesmo a ameaçar países como Portugal, Espanha, Irlanda e outros. Todos, menos o pequenote do lado, cuja campanha eleitoral até vai ajudar - desejo que o faça permanente e empenhadamente, para ver se o homem desaparece da cena política.
Pedindo desculpa aos leitores pelo radicalismo da figura utilizada, a verdade é que, para mim, a diferença entre as declarações de Merkel e um rolo de papel higiénico, não é rigorosamente nenhuma. Aliás, sugeria que Ângela saísse da União Europeia, concretizasse a grande aliança com a França – quiçá concretizando sonhos e ambições expansionistas de outros dirigentes alemães que a antecederam... - reintroduza o marco e faça o favor de não nos chatear porque já temos problemas que nos bastam. Os outros europeus, os que continuarem a ser europeus, de facto, saberão tomar as medidas adequadas nomeadamente quanto ao consumo de produtos "made in Germnany"..."
(in JM)

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