domingo, julho 15, 2012

Farmácias: valor da dívida já atingiu mais de 253 milhões

Segundo a jornalista do Jornal I, Márcia Oliveira, “só no primeiro trimestre de 2012, a dívida das farmácias ao seus fornecedores cresceu 38,5 milhões, mais que em todo o ano de 2011. No futuro a situação poderá agravar-se ainda mais. Actualmente há 1131 farmácias com fornecimentos de medicamentos suspensos, o que representa um crescimento de mais de 30% nos últimos três meses. Segundo o estudo da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), ontem apresentado pelo economista Pedro Pita Barros na sede da Associação Nacional de Farmácias (ANF), neste momento a situação económica das farmácias é insustentável e na maioria dos estabelecimentos não existe sequer dinheiro para cobrir os custos fixos. Segundo o estudo, se esta situação continuar, vai levar ao encerramento de farmácias pela impossibilidade dos seus proprietários de suportarem os prejuízos da actividade.
“Dentro de um ou dois anos poderemos começar a assistir a um encerramento generalizado das farmácias”, alerta Pita Barros, autor do estudo da Nova SBE sobre a evolução da situação económica destes estabelecimentos. O cenário apresentado é mau, mas poderá tornar-se ainda pior, porque a análise ainda não considera a redução de margens das farmácias em vigor desde 1 de Janeiro de 2012 e “que está a ter um fortíssimo impacto negativo na sua situação económica”, diz. O modelo de análise do estudo foi o mesmo utilizado pela Autoridade da Concorrência (AdC) em 2005, mas com base em informação actualizada e relativa a 1091 farmácias, enquanto o da AdC analisava apenas 70. Como tal, o novo estudo recorda que o da AdC previa a capacidade das farmácias de suportarem uma redução de preços de 5%, tendo como referência o preço médio por receita dispensada de 38,81 euros, em 2002. Contudo, a redução de preços verificada desde 2005 “foi muito superior, da ordem dos 20%”, lê-se nas conclusões da análise da Nova SBE. Em 2009, o preço médio por receita dispensada era de 36,65 euros e em Abril deste ano de 30,78 euros. Além disso, de acordo com as estimativas obtidas para 2010 e a evolução dos preços, a farmácia média estará a funcionar com margem negativa. Segundo a análise, atendendo às reduções de preços dos medicamentos que têm ocorrido nos últimos anos, o preço médio no mercado é já inferior ao preço que garante em média a viabilidade económica da farmácia. Isto acontece porque “a estimativa de custo variável por receita é superior ao preço”. No entanto, desde 2010, os preços médios continuaram a descer, uma vez que não há sinal de redução significativa de custos nas farmácias, em 2011/2012.
“Tendo em conta a actual estrutura de custos, as margens estimadas anteriormente pela AdC não são suficientes para garantir a viabilidade económica das farmácias”, refere o estudo. Na farmácia média, em 2010, seria necessária uma margem líquida mínima de 6% e bruta de 24,12% para assegurar a sua viabilidade económica. Durante a apresentação da análise, a ANF entregou um comunicado aos jornalistas onde frisa que está “cada vez mais preocupada com a evolução da situação, que já é de ruptura parcial no sistema de assistência farmacêutica à população”. “A situação económica e financeira das farmácias agudiza-se de mês para mês, exigindo a aplicação de um plano imediato de sustentabilidade para o sector”, lê-se ainda no documento. Em apenas três meses, as farmácias com fornecimentos a crédito suspensos em pelo menos um grossista cresce para 1131 (39%), representando um crescimento de 34%. O número de processos judiciais para regularização de dívidas (457) cresceu 19%, o que mostra claramente “a incapacidade das farmácias de cumprir as suas obrigações”, referiu durante a apresentação Paulo Duarte, vice-presidente da ANF. Sendo assim, de acordo com os números, o montante global da dívida das farmácias aos seus fornecedores cresceu 10%, visto que em Março de 2012 o montante era de 214,8 milhões de euros e em Junho de 2012 o valor cresceu para 253,3 milhões. “É urgente a recuperação do sector”, realçou Paulo Duarte. “Não há mais tempo nem condições para continuar a sobreviver nestes tempos de crise”, acrescentou. Soluções Pedro Pita Barros considerou que as farmácias só poderão sair desta grave situação económica quando não estiverem dependentes do preço dos medicamentos, o que é possível fixando o valor que recebem por cada embalagem vendida. “Como muito do efeito está a ser criado por uma redução de preços dos medicamentos nos últimos anos, tem de se pensar porque é que a remuneração da farmácia está tão ligada ao preço do medicamento, e se não será melhor ter uma remuneração da actividade da farmácia que seja independente dessa descida de preços”, afirmou. Para o economista, as farmácias têm de pensar numa forma de obter eficiência adicional para compensar alguma da falta de viabilidade económica através da redução de custos. Para o futuro, o vice-presidente da ANF, quer que sejam tomadas decisões sustentadas. “É esse o caminho que esperamos que o Ministério da Saúde também tome”, rematou Paulo Duarte”.

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