quarta-feira, julho 18, 2012

Opinião: Em frente

"O cardeal francês e político Júlio Mazarin escreveu no seu "Breviário dos Políticos": "Os jovens legalmente maiores têm tendência para a rebeldia e a libertinagem. Se os censuras num tom grave e sentencioso, mais não farás do que agravar as suas inclinações. De modo que, em geral, mais vale armar-se de paciência e esperar que se emendem sozinhos ou que se fartem dos seus erros. Mas, se souberes servir-te da tua autoridade tão habilmente que os devolvas ao bom caminho, evita passar bruscamente do rigor à indulgência. Com os temperamentos plácidos, mostra-te directo e, se for preciso, bate com o punho na mesa, pois isso impressiona-os. Pelo contrário, com índoles ardentes, mostra-te meigo e delicado". Não creio que passados estes anos todos (Mazarin morreu em 1661) esta perspetiva esteja errada.
Confesso que não me surpreendeu o que aconteceu no Congresso da JSD. Sobretudo quando percebi, pela difusão de notícias, na comunicação social e nas redes sociais, que poderá ter havido interferência estranha (e externa) naquele congresso.
O que se passou no Congresso da JSD foi um absurdo, lamentável mas que também pode ser o espelho da permissividade com que as coisas funcionaram e consequência de um "deixar andar" que estrategicamente permitiram que se fosse consolidando. As pessoas têm que perceber, de uma vez por todas, que a política implica o cumprimento de rigorosos padrões éticos e que os jovens, hoje mais do que nunca, não precisam nem de "padrinhos" nem de "guias" que lhes digam como pensar, como votar, com se comportar. Os jovens dos nossos (e novos) tempos, apesar de todas as contrariedades, apesar da falta de resposta aos seus problemas mais prementes e ansiedades, são instruídos, livres e beneficiam de todas as vantagens que lhes propicia o livre (e fácil) acesso ao mundo ao alcance de qualquer um com um simples clicar da tecla de um computador. Os jovens são instruídos, pensam pela sua cabeça, têm valores próprios, olham para o mundo e a sociedade de que fazem parte de uma forma muito própria, tirando as suas conclusões.
Será que nos esquecemos que está provado que os jovens continuam distantes da política – os resultados eleitorais mostram níveis de abstenção preocupantes – e que é com isso que as organizações de juventude se devem preocupar prioritariamente? Com isso e como drama da falta de empregos que atinge hoje em Portugal cerca de 400 mil jovens, 60 mil dos quais licenciados.
O escritor italiano Baldassarre Castiglione escreveu que "nos jovens, a demasiada sabedoria é mau sinal". Assim é. Pior é quando se junta a saloiada. As organizações políticas de juventude têm hoje responsabilidades acrescidas, particularmente em momentos de grave crise económica e social como aquele que atravessamos, e que são se caracterizam pelo maior empobrecimento das famílias, pelas falências infindáveis das empresas, pelo crescente desemprego dos jovens, pela crise na educação, pelo aumento do endivida mento e do crédito malparado das famílias, etc. Essas é que são as prioridades. É com isso que as organizações de jovens se devem preocupar, tentando encontrar respostas, participando de forma construtiva e pragmática nos debates que envolvem a sociedade e não em perder tempo com minudências e com mentecaptos ou tolerar bandalhices que revelam uma gritante falta de carácter.
Os tempos não se compadecem com mediocridades. As sondagens mostram que a política em Portugal - aliás passa-se o mesmo nos demais países europeus, sobretudo os que estão em maiores dificuldades – nunca esteve num patamar tão baixo em termos de aceitação por parte dos cidadãos, como agora, pelo que nunca serão demais os esforços para preservar os protagonistas e a política a maiores desgastes.
Não quero acreditar que os problemas surgidos naquele congresso tenham a ver com interferências, manipulações e pressões de terceiros, que nada têm a ver com a JSD madeirense, provavelmente num processo pretensamente relacionado com uma espécie de contagem de espingardas no quadro de uma anunciada disputa interna que se pode revelar catastrófica, politicamente falando, a começar para o PSD regional. Particularmente se o bom senso e o pragmatismo faltarem, em grande medida devido a uma tremenda dificuldade de percepção da realidade que hoje atravessa transversalmente a sociedade madeirense.
Será que alguém no seu perfeito juízo acha que os jovens eleitores de um partido, seja ele qual for, precisam de quem lhes aponte caminhos ou lhes diga como e em quem votar? Este atestado de menoridade não tem que ser combatido? Acho que esta teoria de que os nossos jovens precisam de pretensos timoneiros ou "guias" é insultuosa para eles. O que ocorre é que há quem continue a acreditar que pitorescas apostas que se revelaram erradas e absurdas - mesmo depois de falhadas e ridicularizadas - que foram apadrinhadas de fora para dentro, passam pelo recurso a ameaças ou a uma triste utilização de cargos para coagir jovens, ameaçando-os até de despedimento (!), como se fosse legítimo a qualquer anormal brincar com a dignidade dos jovens e com os seus empregos. Ainda por cima, utilizando abusivamente e em público, e com o maior desplante, o nome de governantes.
Preocupa-me que ninguém reaja a esta impunidade rafeira, provavelmente porque chegamos a um ponto sem retorno, quando se fala do descrédito da política e da perda de respeitabilidade dos seus protagonistas. Provavelmente porque as pessoas foram demasiado tolerantes e coniventes, para além dos limites do aceitável, com tudo o que aconteceu e que era prenúncio de que estávamos perante uma potencial rafeirice.
Ao novo líder da JSD regional deixo um testemunho de total solidariedade e de apoio, pela tenacidade e persistência demonstradas. As "ilegalidades" que alguns ainda fazem alusão são no fundo o reflexo da mediocridade de quem atentou contra a democracia funcional de organizações políticas que se desejam sérias, respeitáveis e mobilizadoras.
O que se passou no Congresso da JSD foi triste, inédito e não abona em nada a favor do partido e da sua organização de juventude. Desejo que seja rapidamente ultrapassado e que as pessoas deixem de pactuar com estas estranhíssimas movimentações impróprias de estruturas políticas sérias e democráticas. Mesmo que desconfie, e mantenho o que vou dizer, que tudo terá sido preparado com antecedência em reuniões realizadas em instalações indevidamente utilizadas porque disponibilizadas para fins que nada têm a ver com a intriga e as golpadas políticas.
Repito, o que se espera – porque os jovens que precisam de organizações políticas de juventude dinâmicas e eficazes - é que tudo isto passe rapidamente à história, que os jovens social-democratas retirem as ilações e aprendam as lições, nomeadamente com o lado negro da política, e que se preparem para resistir e reagir, com tenacidade, com determinação e em unidade contra as investidas dos que se encontram nesse lado mais obscuro da política. A chamada política porca.
O poeta, pintor, escritor e crítico francês Max Jacob disse um dia que "os jovens levam tudo a sério, ainda que não saibam conferir um ar sério àquilo que levam". Que assim seja!" (JM)

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