domingo, julho 15, 2012

Presidências: Rui Alves é a ponta de um icebergue que não derrete em Portugal

"São muitos os presidentes que ficam para a história no futebol nacional. O do Nacional ameaça estar de saída. A notícia foi inesperada mas comprova mais uma vez que Rui Alves faz tudo para defender os interesses do Nacional. O presidente do clube da Choupana insurgiu-se contra o corte de 500 mil euros na quantia a receber do governo da Madeira. O dirigente foi mais longe e ameaçou acabar com a formação no futebol, aconselhando os pais dos atletas a realizarem uma manifestação na secretaria regional da Educação e Recursos Humanos, apontando Jaime Freitas como vilão: “Não tem competência para ocupar o cargo, porque traiu o presidente do governo. Está há nove meses a falar muito, mas sem dizer nada”. A tomada de posição de Rui Alves foi entendida para já como uma forma de fazer pressão, tentando forçar um recuo na posição. Só assim o presidente demissionário admitirá recandidatar-se às eleições que estão marcadas para 17 de Setembro. Se isso não acontecer, o futebol português poderá perder uma figura que marcou a última década, não só pelo crescimento do clube mas também pelos conflitos que foi mantendo com o Sporting. O bloqueio do empréstimo de Adriano aos leões, para “não reforçar um concorrente directo”, caiu mal em Alvalade e desde então foram vários os casos, desde os festejos efusivos de Sá Pinto visando Rui Alves ou por mais declarações provocadoras do dirigente. “Os lagartos são uns animaizinhos que são muito sensíveis e não podem ser tocados. E são muito viscosos”, afirmou, depois da goleada sofrida em Alvalade (5-1), num jogo em que reclamou da arbitragem de Duarte Gomes. Os episódios de Rui Alves fizeram dele uma figura incontornável do futebol nacional, mas não é a única. Com um limite de um por clube e tendo em conta especialmente o passado mais recente, o i fez uma selecção de forma a montar um plantel de luxo. Os critérios foram vários e muitos foram os bons nomes deixados de fora. A ordem alfabética foi a forma encontrada para dispor os presidentes e não ferir susceptibilidades. Começa aqui a viagem ao passado (com alguns nomes do presente).
Acácio Rosa O Antigo (Belenenses)
É uma excepção. Foi presidente em 1949 e 1982 mas teve uma vida inteira ligada ao clube: nasceu a 4 de Setembro de 1912, foi sócio do clube durante 68 anos e mereceu a Cruz de Ouro. É um herói na história do Belenenses, tendo desempenhado funções em várias modalidades e escrevendo vários livros sobre o clube até morrer, a 4 de Fevereiro de 1995. Talvez por isso, o pavilhão tem o seu nome.
António fiúza O Justiceiro (Gil Vicente)
Estava na presidência quando o clube gilista desceu no âmbito do Caso Mateus. Elogiado por todos, nunca desistiu e viu o esforço ser recompensado há dois anos, quando o Gil Vicente regressou à primeira. O clube distingue-se pela organização e muito do mérito é dele.
Aprígio santos O Chapeleiro (Naval)
A utilização do chapéu tornou-se uma imagem de marca do dirigente da Figueira da Foz que tem sempre uma opinião para dar quando há polémica no futebol. Na questão recente do alargamento, deu a ideia de se fazer uma liga para os ricos e outra para os pobres. “Se me fosse possível votar, deixaria os quatro ou cinco clubes grandes a jogar sozinhos”. Soma várias ameaças de demissão mas mantém-se de pedra e cal.
Dias da cunha O Irreverente (clube)
Era o presidente no último título do Sporting mas notabilizou-se pela luta incessante contra o famoso “sistema”. Abriu caminho para a luta que Luís Filipe Vieira assumiu mais tarde e deixou uma frase para a história: “O sistema tem dois rostos: Pinto da Costa e Valentim Loureiro.” Deixou o clube em 2006.
Fernando Barata O Sonhador (Imortal)
Chegou ao clube de Albufeira em 1999 depois de já ter passado pelo Farense, confiante de que conseguiria levar a equipa ao principal escalão, mas o melhor que conseguiu foi a Liga de Honra. Antes, iniciou uma guerra jurídica contra Pinto da Costa por este lhe ter chamado “idiota” e “senil”.
João Bartolomeu O Incómodo (U. Leiria)
“O senhor João Bartolomeu incomoda muita gente e a União de Leiria é um alvo a abater. Ando no futebol há muitos anos e sei muita coisa”. A descrição é do próprio e diz muito sobre ele. Ligado ao clube desde os anos 80, esteve nos bons e nos maus momentos dos leirienses. A parábola dos salários em atraso e desistência da liga foi o culminar de uma longa história.
João Nabeiro O Herdeiro (Campomaiorense)
Filho do comendador Rui, João pegou no clube da cidade e levou-o à primeira divisão. Em Maio de 2002, deu um murro na mesa e decidiu acabar com o futebol profissional, farto dos problemas de disciplina na equipa que estava na Liga de Honra. A reacção dos jogadores quando souberam, descrita pelo próprio, não poderia ser mais irónica: “Logo que acabei o discurso, levantaram-se para ir tomar um café.”
Jorge Anjinho O Defensor (Académica)
Teve um papel importante na criação da Liga Profissional e insurgiu-se contra a FPF na sequência do caso da inscrição de N’Dinga que levou à despromoção do clube de Coimbra em 1988/1989. Morreu dez anos depois, quando o clube estava na primeira divisão mas com a descida no horizonte.
José António Linhares O Abusador (Salgueiros)
O Vidal Pinheiro teve uma nova vida com ele no comando (1995 a 2004), mas foi com Linhares também que o clube foi condenado a uma descida administrativa e se assistiu ao fim do futebol profissional. Em 2009 foi condenado a uma pena suspensa de três anos de prisão por crime e abuso de confiança durante a liderança do clube. Morreu em Maio de 2010, vítima de doença prolongada.
Mano Nunes O Conquistador (Beira-Mar)
Marcou o clube aveirense durante a década de 90 e no início do novo milénio e ficará para sempre associado à conquista da Taça de Portugal em 1999 – 1-0 ao Campomaiorense no Jamor. Demitiu-se em 2005, criticando os “mercenários que só são beiramarenses quando o clube lhes enche os bolsos”.
Manuel João O Vidente (Portimonense)
Esteve firme na presidência de 1975 a 1993 e deixou um alerta futurista na saída: “Avisei Valentim Loureiro, Pimenta Machado e outros de que deveriam fazer o mesmo. Não o fizeram e estão a passar por problemas que antevi, face à forma como era gerido o futebol português.”
Pimenta Machado O Filósofo (V. Guimarães)
Foi eleito a 10 de Março de 1980 com apenas 29 anos e até 2004 conseguiu levar a equipa a várias aventuras europeias, chegando a defrontar o Barcelona. Para a histórica fica a famosa frase “o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira” e a forma indigna como saiu: acusado de ficar com 450 mil euros de comissão da venda de Fernando Meira para o Benfica.
Pinto da costa O Eloquente (FC Porto)
É uma figura única: elogiado pelos portistas e criticado pelos rivais, transformou o FC Porto na grande força do futebol português. O fantasma da corrupção continua a pairar e não perde uma oportunidade de discurso para lançar farpas aos rivais, especialmente o Benfica.
Vale e Azevedo O Enganador (Benfica)
Quando substituiu Manuel Damásio, houve quem pensasse que era o salvador do clube. As polémicas de dinheiro sucederam-se e hoje é visto como o homem que quase destruiu o Benfica. Entre outras coisas, rescindiu contrato com João Pinto.
Valentim Loureiro O Político (Boavista)
Liderou os axadrezados entre 1978 e 1997 e é o pai do Boavistão. Polémico nas declarações que fazia, deixou o clube ao filho João, que conseguiu o surpreendente título em 2001
(texto do jornalista Rui Pedro Silva do Jornal I, com a devida vénia)

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