terça-feira, setembro 25, 2012

Privatização parcial da CGD põe 40% da banca em mão estrangeira

"Se o Governo vender parte do capital da Caixa, aumentará em 24 mil milhões o activo bancário detido por estrangeiros.Uma eventual privatização parcial da Caixa Geral de Depósitos (CGD) faria crescer a fatia da banca nacional detida por investidores estrangeiros para perto de 40%. Dos mais de 500 mil milhões de euros de activo detido pelos bancos em Portugal, 169 mil milhões estão já hoje em mãos estrangeiras, se tivermos em conta a presença de investidores não nacionais no capital do sector. Essa fatia subirá para mais de 193 mil milhões, ou seja, cerca de 39% se uma privatização parcial da CGD avançar. Se tal hipótese se tornar realidade, será esta a participação, em média, de investimento estrangeiro na estrutura accionista da banca em Portugal e, indirectamente, a fatia que lhe caberá dos activos bancários nacionais. Conforme noticiou ontem o Diário Económico, o Banco de Brasil fez saber ao Governo o seu interesse em participar numa privatização parcial do banco estatal, com uma participação de 20% do capital. A entrega de parte da Caixa a privados voltou a estar na agenda depois de o líder do PS ter questionado o primeiro-ministro sobre o tema no Parlamento. Esta hipótese terá sido mesmo já discutida com a troika, ainda que não existam certezas quanto à sua concretização. A ocorrer mesmo esta privatização parcial, o mais provável é que, à semelhança do Banco de Brasil, outros eventuais interessados sejam também estrangeiros. O actual momento vivido pela banca portuguesa torna pouco provável, ainda que não impossível a participação de um investidor institucional português na compra de parte do capital da CGD. Segundo noticiou no fim-de-semana o Expresso, o modelo que estará a ser estudado passa pela alienação de cerca de 40% do capital, dos quais 20% a dispersar em bolsa e outro tanto a vender a um institucional. É nesta última fatia que o Banco do Brasil estará interessado. Os cálculos feitos pelo Diário Económico, tendo por base os dados da Associação Portuguesa de Bancos (APB) têm em conta o último boletim global do sector disponível, referente a 2011. E não inclui as mudanças que, a breve trecho, são esperadas precisamente no maior banco provados em activos. O _BCP _tem em curso um aumento de capital de 500 milhões de euros que, tudo indica, irá reforçar o peso de investimento estrangeiro na sua estrutura accionista. Actualmente, e considerando apenas as participações qualificadas, cerca de 15% do capital do banco é detidos por accionistas estrangeiros. Só a Sonangol, até agora com 11% do capital, deve reforçar a sua posição para cerca de 20% no aumento de capital. No mercado especula-se, por outro lado, que mais capital estrangeiro chegue, com a eventual entrada de um novo investidor no banco.
Grandes bancos privados com 40% de capital estrangeiro
Em média, cerca de 40% do capital do BCP, BES e BPI é detido por investidores estrangeiros. Destes três, é o banco liderado por Fernando Ulrich quem tem a maior representação vinda de fora. Ultrapassa os 74% a fatia do capital detido por estrangeiros, entre a espanhola La Caixa, a angolana Santoro e a alemã Allianz. Segue-se o BES com mais de 30% do capital vindo do exterior, em grande parte via Crédit Agricole e o BCP, com 15% em mãos estrangeiras, sobretudo através da Sonangol. No grupo dos cinco principais grupos bancários, apenas a CGD permanece 100% portuguesa, através do Estado que a detém na totalidade. Para além do BCP, BES e BPI, faz também parte deste ‘bolo' o Santander Totta, que pertence ao grupo espanhol Santander. Nos bancos com menor escala, outros, como o Finantia ou o BIC têm igualmente presença estrangeira.
Malparado continua a afectar CGD
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) irá continuar, durante mais algum tempo, a apresentar um "elevado montante de imparidades", admitiu ontem António Nogueira Leite, vice-presidente do banco estatal, citado pela agência Lusa. Na apresentação de um relatório da Caixa sobre as exportações em Portugal, o responsável explicou que "a CGD começou por ser um banco hipotecário e na última década deu protagonismo à construção, a tudo o que é obra imobiliária e ao financiamento público". Por isso, esclareceu, o banco registou grandes imparidades em 2011, no primeiro semestre deste ano e "antevemos que tal continue e não apenas no semestre que corre". A actual gestão quer mudar este perfil da sua carteira de crédito, até porque "está menos presente do que gostaríamos no crédito às empresas". Por isso, disse ainda Nogueira Leite, o objectivo tem sido agora o de canalizar a liquidez disponível para a concessão de crédito ao segmento empresarial.
Activo bancário
- A actual conjuntura fez encolher, em 2011, o volume do activo agregado da banca em Portugal, em 1,4%, o correspondente a uma perda de mais de sete mil milhões de euros. O total, no ano passado, ficou assim nos 500.472 milhões de euros.
- "O volume de actividade das instituições financeiras contraiu no último ano, contrariando a tendência de expansão dos anos anteriores", diz a APB.
- A necessidade de desalavancar da banca nacional teve de ser feita "por via da venda de activos ‘non-core', da diminuição da carteira de crédito e/ou da diminuição do risco médio dos activos", o que afectou o activo agregado do sector, explica a APB.
- No activo dos bancos estão incluídos a carteira de crédito a clientes, os imóveis detidos e a carteira de investimento (participações accionistas, títulos de dívida, etc)” (texto da jornalista do Economico, Maria Ana Barroso, com a devida vénia)
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