terça-feira, outubro 30, 2012

Opinião: "Refundação coisa nenhuma"

"Andou a comunicação social e uma sucessão de comentadores televisivos a perder o seu tempo com a análise à proposta de "refundação" do memorando de entendimento feita por Coelho num encontro parlamentar partidário destinado a ganhar fotografias nos jornais e imagens nas televisões mas que não resolve no essencial os problemas do país e dos portugueses nem atenua o ambiente de tensão na coligação. Quanto muito adia os inevitáveis problemas que surgirão em 2013 e que originarão uma crise política incontornável.
A verdade é que a célere (e estranha) reação do CDS de Paulo Portas, na sequência da posição política do CDS da Madeira, indicia que os centristas afinal encenaram tudo o que se passou, foram parte ativa de uma palhaçada que alimentou uma falsa crise na coligação por causa do OE-2013, pelo que é legítimo afirmar-se que tudo não passou de um embuste para salvaguardar a imagem do CDS (e do seu líder) e que na prática nunca questionou a posição de voto favorável dos centristas face ao orçamento de estado para 2013. O CDS nacional chegou a um ponto, no fundo em linha com o que ocorre com o PSD, em que só não "vendem as mães", como dia a expressão popular por vergonha. não se trata de discutir causas, não se trata de defender ideias, não se trata de exigir coerência, verdade e rigor. É o vale tudo porque o PSD impõe ao CDS e o CDS tudo faz para continuar no poder (e no governo).
E para isso, porque não querem eleições (antes fogem delas como o "diabo da cruz", sobretudo depois da hecatombe eleitoral nos Açores), estão dispostos a tudo, a desmentir declarações feitas na véspera, a espezinhar programas, a limpar a trampa na qual estão mergulhados com manifestos eleitorais, a trair permanentemente os eleitores, etc. Estamos a falar de gente pouco seria, politicamente falando, sem preparação, incompetentes, mentirosos, ladrões porque roubam os cidadãos, bandalhos porque perseguem os mais fracos e fomentam o desemprego e as falências, gente que chegou ao poder graças a um embuste cuja verdadeira história de entendimentos fúteis e secretos (estranho que a comunicação social não desvende tudo isto quando sabe de muitos factos ocorridos...) tem que ser contada, recuando até á recusa do chamado PEC IV.
O que Coelho quer não é refundação do memorando coisa nenhuma. O que o tipo quer é elaborar uma nova proposta de memorando de entendimento para agradar o capitalismo europeu, os especuladores o mercado, a banca e a linha mais fascista da política europeia, personificada em Merkel, da qual, Passos é um servo submisso e sem vontade ou opinião próprias.
Coelho, que não tem coragem para ser honesto a esse ponto, visa deliberadamente, em nome de um neoliberalismo neofascista que o ilumina na sua insuficiência e incompetência política confrangedora, os alicerces essenciais do Estado social, apostado na redução substancial das obrigações constitucionais que neste domínio o Estado está obrigado para que deste modo sejas capaz de reduzir substancialmente a despesa pública em áreas essenciais como a Saúde, a Educação e mesmo a Segurança Social.
Espero que os cidadãos estejam atentos a estas movimentações fascizantes e que reajam nas ruas, com os meios que forem necessários, doa a quem doer, e doa o que doer, e com a dimensão adequada a esta patifaria, recusando alimentar mais palhaçadas porque quem o fizer estará a ser manipulado por gente asquerosa, que está no poder sem legitimidade e que, por isso, devia ser demitida e obrigada a submeter-se ao veredito popular - depois de tudo o que tem sido feito, da roubalheira e das permanentes patifarias impostas aos cidadãos.
O que se passa é que estamos perante uma articulada investida, combinada entre Passos Coelho e Gaspar, destinada a reduzir substancialmente os encargos do Estado Social com os cidadãos e as instituições. Como a primeira versão do memorando de entendimento, negociado pelo governo socialista de José Sócrates e aceite pelo PSD e pelo CDS, então ambos na oposição, mas em vésperas de eleições legislativas antecipadas que dificilmente deixaria de lhes propiciar a vitória que realmente aconteceu, não previa medidas mais radicais para as chamadas despesas dio Estado constitucionalmente impostas no quadro do chamado "estado social", este governo de coligação abjeto e mentiroso concluiu que deve alterar a Constituição para viabilizar a redução dos encargos orçamentais do Estado com esse "estado social", concretamente a segurança social, a educação e a saúde.
Há duas situações concretas e distintas para as quais chamo a atenção das pessoas porque as mesmas não podem ser escamoteadas neste debate que promete aumentar ainda mais a radicalização e a contestação social.
A primeira relaciona-se com as indicações do próprio ministro das finanças, no discurso proferido na Assembleia da República, claramente no prosseguimento de uma campanha de destruição do país e de criação de uma nova população alicerçada na pobreza generalizada, graças à pulverização da classe média, ao aumento da emigração e a manutenção de privilégios para as elites capitalistas. Gaspar não deixou dúvidas quanto às intenções escabrosas deste governo de coligação falso, nojento e traiçoeiro: há um desfasamento entre aquilo que os portugueses acham que deve ser o "estado social, e tudo o que lhe compete no quadro da Constituição, e aquilo que essa "cambada" (os cidadãos) está disposta a pagar (impostos) para viabilizar essa perspetiva que tem de "estado social" que a coligação pretende destruir.
A segunda questão tem a ver com a tentativa de envolver o PS - que pelos vistos já percebeu o que se passa, depois daquela cena tonta inicial de pedir a Coelho que abrisse o jogo - nessa tentativa de subversão da Constituição pro alegadamente ter sido negociador do memorando de entendimento.
A rasteira reside aqui. O PS foi de facto a causa próxima, mais próxima, da nossa desgraça coletiva, da falência e da vinda da "troika" para Portugal bem como a imagem da incompetência e do despesismo descontrolado. Mas a versão do memorando assinado em Maio de 2011 - e que os socialistas acham que estão vinculados, apesar de tudo - e o documento atual com as cacetadas que já levou com as sucessivas visitas da "troika", não desmantela o "estado social".
Como este incompetente, impreparado, desacreditado e ilegítimo governo de coligação ainda no poleiro falhou todas as previsões para o país em matéria de défice das contas públicas - o défice em 2011 foi conseguido graças a malabarismos e aldrabices com o sistema de pensões dos bancários que colocam em causa a sustentabilidade da Segurança Social que antecedeu o falhanço monumental de 2012 - a dupla Coelho-Gaspar percebeu que se não reduzir os encargos orçamentais dificilmente cumprirá as metas do défice público.
Vai daí, o governo de coligação tenta envolver o PS nesta manobra conspiratória de terceira categoria, porque sem uma revisão constitucional – e para que ela seja possível precisam do PS… – não conseguem desmantelar o “estado social” imposto pela Constituição. Ou seja, não há refundação coisa nenhuma do memorando de entendimento – aliás a termologia utilizada é patética (alguém viu um documento ser refundado?!) – mas sim uma pretendida revisão constitucional que permita uma nova proposta de memorando de entendimento a propor à “troika” e que certamente permitiria ao PS desvincular-se total e definitivamente do documento negociado por Sócrates e que persegue como umas tenebrosa sombra os socialistas e Seguro. O que se passa é apenas isto. Tudo o resto são palhaçadas de um governo de coligação falhado, sem ideias, desacreditado e ilegítimo" (in JM)