sexta-feira, novembro 23, 2012

Catalunha: "Independentistas otimistas quanto à convocação de um referendo"

Escreve o jornalista do DN de Lisboa, Luís Manuel Cabral que "catalães ouvidos pela Lusa em Barcelona estão convencidos de que as eleições regionais antecipadas, no domingo, são um passaporte para um referendo de autodeterminação que poderá conduzir à separação de Madrid. "Estou seguro de que a independência acontecerá em breve", afirma Toni Torres, 56 anos, natural de Barcelona. "A União Europeia está atenta e desta vez Espanha não nos poderá deter", completa, entre dois retratos aos turistas estrangeiros que, indiferentes às eleições de domingo, descem as Ramblas da capital catalã. "Vou votar nele pela primeira vez", confessa Toni enquanto deita o olho ao cartaz de Artur Mas, líder da Convergencia i Unió (CiU), atual presidente da Generalitat e favorito nestas eleições autonómicas. "Tem suportado muito bem os golpes baixos de Madrid. É inteligente, autoconfiante e sabe ouvir", afirma."À sua volta junta-se um pequeno grupo de pintores, retratistas e caricaturistas. Toni sobe a parada e contra-ataca: "Uma vez mais, o Estado espanhol está a usar a carta terror, há até por aí uns militares que falam em enviar tanques e aviões, mas já não nos assustam", acrescenta. "Aposto que o referendo vai acontecer em 2014!" Mais ano, menos ano, a tertúlia improvisada parece concordar com estas proféticas palavras. Na Praça da Independência de Girona, quase 100 quilómetros a norte dali, Carlos Gispert, 40 anos, reitera estas teses. Talvez mesmo em 2014. Além do referendo na Escócia, é quando se assinalará o terceiro centenário da tomada de Barcelona pelas tropas franco-espanholas da dinastia Bourbon. Não obstante, Carles prefere votar na Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), partido que também defende a autodeterminação e a força política. "Claro que a Catalunha independente seria um Estado viável, estamos entre França e Espanha e temos o Mediterrâneo", sustenta Carles. Inflamado, dispara: " Chega! Espanha apertou demasiado na nossa teta. Acabou! A Andaluzia e a Extremadura vivem hoje às nossas custas." "Antes de mais é um sentimento", prossegue. Se toda a minha vida é em catalão, com os meus amigos, colegas e familiares, por que me impõem o castelhano?" Não será um acaso que à porta da Catalana Taverna, de que é gerente, se possa ler um sonoro alerta: "Lutem pela independência!" O seu otimismo tem vindo a crescer. O ponto de viragem, sublinha, foi a Diada do passado 11 de setembro, dia nacional da Catalunha. Mais de um milhão de pessoas saíram à rua para exigir autodeterminação. Mais do que em Barcelona, muito mais, as varandas de Girona encheram-se de bandeiras catalãs com a estrela independentista. Paira hoje algo de América Latina na Catalunha, mais concretamente das revoluções oitocentistas nas ex-colónias de Espanha. Frederic Streich, 51 anos, confessa que não pode com elas. São uma verdadeira praga no pequeno largo gironense, onde há três anos abriu a Context, a sua livraria-café. "Não gosto de nenhuma bandeira, sou um internacionalista", afirma o barcelonês. "Tenho raízes sérvias, judaicas, bascas e alemãs. Gosto da Catalunha, mas também gosto de muitas outras terras", justifica. A sua opinião sobre o presidente de Generalitat, Artur Mas, é tão ou mais negativa do que o folclore das bandeiras. "É um manipulador bastante inteligente, mas vês o anúncio eleitoral da CiU e percebes bem a dose de caudilhismo que por ali vai", remata Frederic com o derradeiro gole de cerveja. A comunidade imigrante na Catalunha anda inquieta. Muitos não votam domingo, mas criaram aqui raízes. "A minha mulher nasceu na Catalunha, embora ambos os pais fossem andaluzes", explica Andrés Aranda, 33 anos, natural da província argentina do Chaco. Para a Catalunha mudou-se há 11 anos, na altura da explosão económica de Espanha. "O nosso filho está a ser educado no sistema bilingue, mas em casa falamos castelhano", afiança Andrés. "Só espero não ter de pedir um visto para viajar na União Europeia", ironiza. "Hoje vejo coisas mais importantes para resolver do que a independência", defende Andrés. "Os catalães têm alguma razão porque contribuem com muito dinheiro para o resto de Espanha, mas não creio que reclamar um novo Estado seja a solução".