sexta-feira, novembro 23, 2012

Corrupção agita eleições na Catalunha

Segundo o jornalista do Expresso, Pedro Cordeiro, "a última semana da campanha eleitoral catalã não corre de feição ao presidente e recandidato Artur Mas. Viu a sua força política - Convergência e União (CiU, nacionalista conservadora) - descer nas sondagens e foi alvo de suspeitas de corrupção. Ainda assim, não está em causa a sua vitória nas eleições autonómicas do próximo domingo. A reta final da campanha foi agitada na segunda-feira, quando o diário "El Mundo" divulgou um relatório policial sobre corrupção no partido de Artur Mas. Desde luvas alegadamente cobradas a construtores civis favorecidos em concursos públicos a falsificação de contas no Palácio da Música Catalã, passando por supostas contas bancárias no Liechtenstein e na Suíça, o documento é um sério embaraço para Mas e para o seu antecessor no governo catalão, Jordi Pujol. Artur Mas desmente tudo e já apresentou queixa contra o jornal. O líder da CiU acusa o Partido Popular (direita, no Governo em Espanha) de estar por detrás das acusações e chegou a indicar, pelo nome, Mariano Rajoy, Dolores Cospedal (número 2 do PP) e Cristóbal Montoro (ministro das Finanças) como cabecilhas da intriga. "Num país democrático já teria havido demissões", afirmou. Artur Mas exigiu a Montoro que desse explicações no Parlamento, mas o ministro respondeu que "quem tem contas na Suíça é que tem de comparecer" para se justificar.
Grande maioria nacionalista
Não se sabe que impacto poderá ter esta polémica nos resultados. As últimas sondagens publicadas preveem que a CiU conquiste 62 a 64 dos 135 assentos do Parlamento catalão; hoje tem 62. Em outubro, os estudos de opinião chegaram a prever 68 lugares para Artur Mas, que protagoniza a campanha com o seu plano de convocar um referendo sobre a independência da Catalunha. De momento, já foi ultrapassado o prazo legal para publicar mais estudos. Sendo improvável uma maioria absoluta da CiU, a maioria do hemiciclo será, ainda assim, favorável à secessão ou, pelo menos, à consulta popular sobre a autodeterminação catalã: serão mais de dois terços dos deputados. A Esquerda Republicana da Catalunha (independentista) deve subir de 10 para 18 deputados, a Iniciativa pela Catalunha (comunistas, ecologistas e esquerdistas diversos) manterá os seus 10 assentos e a Candidatura de Unidade Popular (independentista de esquerda) poderá aparecer, pela primeira vez, no Parlamento. Já a Solidariedade, do antigo presidente do FC Barcelona, Joan Laporta, pode perder um ou ambos os deputados que hoje tem. O eleitorado antissecessionista concentra-se em duas formações políticas. O Partido Popular (direita, no poder em Espanha) pode manter ou aumentar a sua representação parlamentar (18 deputados) e o partido Cidadãos pode duplicar os seus três assentos. Resta, no espectro político, o Partido Socialista (PSC, ramo do PSOE), que cairá estrondosamente, de 28 deputados para 18 a 20. Parte da quebra dever-se-á à sua posição intermédia: é contra a independência mas a favor de uma consulta legal e defende que Espanha se transforme num Estado federal.
Consulta dentro ou fora da lei
Artur Mas quis fazer destas eleições - que convocou antecipadamente, pois deveriam ter lugar em 2014 - um plebiscito à ideia de separar a Catalunha de Espanha. No poder desde 2010, tinha como ponto principal do seu programa reformar o regime fiscal catalão. Pretendia que os cidadãos pagassem os seus impostos à comunidade autónoma, não ao Estado central, e que a Catalunha entregasse parte da coleta a Espanha. Esse regime vigora no País Basco e em Navarra. A rejeição liminar dessa proposta pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy (PP) convenceu Artur Mas de que já não há forma de "encaixar" a Catalunha em Espanha, pelo que é preciso saber o que pensa o povo. E se é certo que um referendo só poderia realizar-se com a autorização do Parlamento espanhol, o presidente catalão diz que caso Madrid lhe negue permissão consultará os catalães "no marco legal catalão" ou recorrendo às instâncias internacionais. O líder da CiU, no entanto, nunca fala de "independência". Prefere a expressão "Estado próprio", o que poderá significar abertura quanto à hipótese federal, caso falhe o objetivo máximo da soberania"