segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Euro: o pior já passou? Mas os tempos continuam…

Segundo o jornalista do Jornal I, Bruno Faria Lopes, “a sobrevivência imediata da zona euro parece assegurada, mas os riscos políticos e de solvência mantêm-se. De Berlim a Madrid, passando por Paris Frankfurt e Dublin, não há líder europeu que nos últimos meses tenha resistido à tentação de dizer que “o pior para a zona euro já passou”. Será mesmo assim?
“Há cerca de um ano as pessoas perguntavam se o euro ia acabar, havia quem discutisse se era melhor abrir uma conta em francos suíços ou libras, havia fuga de capitais e medo de perda das poupanças”, lembra Filipe Garcia, economista da consultora financeira IMF. “Agora já não se fala com urgência sobre o fim do euro, o contexto melhorou muito do ponto de vista sistémico”, realça. Se o pior era um cenário de desagregação imediata na zona euro - com consequências económicas, sociais e políticas difíceis de abarcar - é razoável dizer que esse pior já passou. O passo decisivo para a estabilização dos mercados de dívida foi a garantia do BCE de que, mediante contrapartidas claras de austeridade e reformas, está disposto a emprestar quantidades ilimitadas de dinheiro aos estados-membros em apuros nos mercados de dívida (algo semelhante ao que já fazia aos bancos). Paralelamente foram dados os primeiros passos na união bancária e prolongada a assistência à Grécia, uma linha de fractura do euro, retirada temporariamente das atenções dos mercados. Os avanços são uma garantia temporária de que a Europa – cujo líder informal, Angela Merkel, vai a eleições este ano – está empenhada em preservar o euro. Com a rede do BCE, os gestores de fundos em busca de bons juros regressam à dívida soberana europeia, incluindo a portuguesa.
Dobrado o cabo do Bojador ainda há muito mar pela frente – e riscos significativos de tempestade. O apoio do BCE (ainda por testar) ergueu uma barreira de liquidez contra o contágio dos mercados, mas não resolve o problema de fundo dos países periféricos: o risco de insolvabilidade. Grécia e Portugal terão economias ainda em queda em 2013 e rácios de dívida pública a subir. Em Espanha (com um problema grave de dívida bancária) e Itália (em eleições) o desafio imediato é idêntico – já provaram (ao mercado e aos credores europeus) que sabem cortar, desendividar o lado privado e reformar, mas não que conseguem fazer isso e, ao mesmo tempo, crescer. O risco de insolvabilidade exigirá mais assistência e cedências difíceis de vender nos países credores. Nos periféricos há o risco de inviabilidade social e política de mais anos de desemprego recorde e salários baixos. O pior já passou? Talvez, mas os problemas de fundo (solvência e política) mantêm-se – os tempos continuarão duros e perigosos.
Portugal: acalmia no euro ajuda, mas internamente o pior ainda não passou
O copo está mais cheio do que há um ano - para as pessoas, contudo, 2013 será ano de agravamento das condições. O primeiro-ministro fala em "luz ao fundo do túnel", no Banco de Portugal acredita-se que a estabilização da economia chega no final do ano, nos jornais internacionais com influência na comunidade financeira é mais raro ver Portugal em títulos negativos - se o pior na zona euro já passou, podemos dizer que o pior em Portugal ficou para trás?
"As melhorias impressionantes na competitividade [externa] são um factor de segunda ordem e não podem compensar totalmente a falta de procura interna - e o choque na procura doméstica continua a ser assustador", afirma Gilles Moec, economista-chefe do Deutsche Bank, num relatório com três semanas. Por outras palavras: com as exportações (um motor ainda pequeno) muito dependentes de uma Europa agora em recessão (não obstante a diversificação para outros países) e com a economia interna ainda em queda, as perspectivas de curto prazo não são as melhores. A melhoria do contexto externo é crucial para a estabilização em Portugal - o copo está, por isso, mais cheio agora do que no início do ano passado, em que parte dos portugueses debatiam a aplicação das suas poupanças noutras moedas e os juros da dívida tocavam valores recorde. O país dá os primeiros passos no mercado de dívida de médio e longo prazo (algo impensável há um ano) e a esperança é que o ciclo virtuoso nos mercados afecte positivamente a credibilidade do país e atraia investimento directo estrangeiro. Mas, apesar dos avanços, internamente o pior não passou. "Há mais condições para a retoma, mas as pessoas ainda não sentem na pele as melhorias", diz o economista Filipe Garcia. Nem sentirão tão cedo - o tempo de recuperação da crise europeia e dos bloqueios ao financiamento do país demorará a chegar à economia real.
Este ano a economia continuará em queda, destruindo emprego e afundando salários (o governo deverá rever o cenário macro já no final deste mês). A estabilização deverá surgir no final do ano, mas haverá que contar com o impacto do corte de quatro mil milhões de euros - na melhor das hipóteses 2014 será um ano de estagnação. O_risco sobre a solvabilidade é grande (mesmo com a melhoria ainda por definir das condições da troika), levando a que Portugal continue a precisar de apoio europeu, com o compromisso de cumprimento de metas e de reformas - facto que implica um risco político significativo, sobretudo no entendimento que o Tribunal Constitucional fará das medidas em apreço este ano (e em 2014)”