domingo, março 17, 2013

Opinião: "O que querem os 'socráticos' no PS?"

"Se alguém precisar de uma prova provada em como muita gente não percebeu a natureza da crise, basta olhar para aqueles a quem, por conveniência, se chama 'ala socrática' no PS. Um dos seus elementos, André Figueiredo, secretário-geral adjunto de Sócrates, escreveu no Facebook que o país espera que o PS apresente uma moção de censura. E explica que devia ter feito esse anúncio em horário nobre e através de comunicação do secretário-geral. Logo dois deputados vieram a terreiro apoiar as suas palavras - o incontornável José Lello e a célebre deputada Isabel Moreira.
Muito bem. E se Seguro seguir o conselho, qual será o resultado prático? A maioria chumba a moção de censura, claro, e ficamos na mesma. Com esta agravante: durante o debate da moção de censura, o PS é acusado, obviamente, de estar na origem da crise (o que em parte também é verdade), pelo que a atual direção socialista se vê na contingência de tomar uma de duas opções, ambas más: ou defender a política da anterior direção do PS; ou fingir que nada teve a ver com ela.
Ou seja, do ponto de vista do país promover ou não a moção de censura não produz qualquer efeito.
Mas o que se pretende nada tem a ver com o país, mas apenas com o poder no PS. Ora, se numa crise como a que vivemos, a sensibilidade de certos políticos não vai mais longe do que o próprio umbigo, que poderemos esperar?
Acontece que estes senhores, que já estiveram no Governo ou ligados a ele, têm mais do que a obrigação de compreender que a política é a arte possível da construção de políticas úteis à comunidade. Mas continuam, como sempre, a entendê-la como a arte de pregar rasteiras e criar dificuldades aos que lhes atrapalham as estratégias pessoais. E a suas estratégia é simples: pela via da radicalização pretendem nada ter a ver com a origem dos problemas que vivemos, fingindo acreditar que aquilo que passamos não tem origem em políticas portuguesas e europeias nas quais também participaram e são responsáveis, mas radica apenas nos dois anos (maus é certo) em que este Governo esteve em funções.
Um dia, Churchill explicava a um jovem companheiro de partido, Conservador como ele, como funcionava o Parlamento inglês. À frente, dizia apontando os Trabalhistas, estão os nossos adversários; à nossa volta, referindo-se aos Conservadores, os nossos inimigos.
O Parlamento português é diferente do inglês. Mas penso que Seguro tem os adversários à frente, na bancada do Governo e os inimigos nas costas. E é pena que numa situação que é desesperada para tanta gente, nem no partido do Governo (lembro as análises de Marcelo de que já aqui falei) nem no da Oposição se interiorize que é preciso fazer diferente. Que as velhas receitas já não servem. Que as vaidades pessoais são desprezíveis" (texto de Henrique Monteiro, Expresso, com a devida vénia)