segunda-feira, junho 24, 2013

Opinião: "Remodelar Vítor Gaspar? Para quê?"


"Aos poucos instala-se a ideia de que Vítor Gaspar é o mal deste Governo. E que deve ser afastado. Já. Ou talvez depois das autárquicas, em outubro. Ou talvez depois da saída da troika, para o ano.
Gaspar é insensível, não percebe nada de política, não tem credibilidade. Ok. E eu pergunto, mas não haveria no Governo quem soubesse de política e fosse sensível? Porque quanto à credibilidade, digamos que a de Gaspar é igual à de qualquer outro que lá estivesse no momento. Ninguém tem o que em política se chama credibilidade a aumentar impostos e cortar salários.
Entendamo-nos. Gaspar foi um dos fiéis executores da política governamental. É certo que assumiu um erro brutal: o de não ter começado pela reforma do Estado. Mas eu aposto singelo contra dobrado que o primeiro-ministro, o ex-ministro Relvas e muitos outros acharam essa ideia genial.
O que faltou e falta ao Governo foi condução política. Em primeiro lugar, estratégia - desde logo a de que tinha de ser o Estado o primeiro a dar o exemplo no ajustamento (e não o último, como se está a ver, pois as famílias e empresas já ajustaram). Em segundo lugar sentido de Estado e de compromisso - o Governo não entendeu de que necessitava do PS e dos parceiros sociais para trabalhar e que, começando ao contrário agora não pode contar com essa disponibilidade.
Por isso me parece que a ideia de afastar Gaspar nada tem a ver com a correção de erros. Pelo contrário: parece-me que a ideia é afastar a cara da austeridade para se poder voltar à política habitual - gastar o que não há, dizendo que a crise acabou.
E isso é o que me assusta" (texto de Henrique Monteiro, Expresso com a devida vénia)