terça-feira, outubro 29, 2013

Opinião pessoal: NOTAS PARLAMENTARES



Gosto, confesso-o, de debates parlamentares. Sigo-os há muitos anos, desde os primeiros passos da Assembleia Constituinte em 1975, de onde saiu a nossa primeira Constituição, passando pelos primeiros dias da Assembleia Legislativa da Madeira. Gosto de debates parlamentares vivos, descomplexados, intensos, participados, esclarecedores, mas cujos protagonistas se respeitem mutuamente nas diferenças, impondo a tal "linha vermelha" da tolerância. Gosto de debates parlamentares agressivos, no bom sentido, que levem a troca de ideias e de argumentos ao extremo, sem hesitações, sem hipocrisias, sem idiotices. Não mais do que isso.
Tenho a sensação que tal como Sócrates que "embrulhava", é esse o termo, os seus opositores em todos os debates parlamentares - salvo uma excepção (Louça) - ao ponto de não sabermos se para ela era mais vantajoso haver ou não haver debates parlamentares, porque deles raramente saía por cima, que Passos Coelho consegue "embrulhar" Seguro e condiciona o impacto da pressão da esquerda. Desde logo porque o líder do PS fez parte - é bom que as pessoas não se esqueçam - do sistema socialista que depois de seis anos no poder faliu o país, foi obrigado a solicitar ajuda externa e negociou o programa de ajustamento com a troika que introduziu a austeridade e todos estes cortes a que temos assistido.
Tenho para mim que, ao contrário do que acontecia com Sócrates - para quem na realidade apenas Francisco Louça, entretanto já abandonou o parlamento, o enfrentava com sucesso, politica e mediaticamente falando (porque os debates parlamentares passam também, e muito, pela projeção dada pela comunicação social - estes debates parlamentares não ajudam em nada Seguro.
O PS beneficia eleitoralmente dos erros da governação de Lisboa e dos tiros-nos-pés que sistematicamente os dois partidos da coligação vão dando. O PS aproveita-se eleitoralmente dos destroços espalhados pela coligação. Os socialistas limitam-se a apanhá-los de vassoura e pá sem precisarem sequer de grandes esforços.
Aliás, parece-me que os dois partidos se divertem com isso, esquecendo-se o PSD tinha na sua base eleitoral e social de apoio uma vasta parcela de funcionários públicos. Outra parcela importante eram os reformados, os eleitores mais idosos, que dividem o seu apoio pelos chamados partidos do arco da governação, alternando as suas opções de voto em função das conjunturas.
Os jovens na sua esmagadora maioria não se revêm nestes partidos, afastam-se da política, recusam nela participar, nem seque participam, lamentavelmente, nas eleições. Distanciam-se, são mais pragmáticos, preocupam-se como seu futuro incerto, temem a inevitabilidade da emigração nojenta estimulada por este poder bandalho que ainda temos, dão prioridade à sua formação, preferem procurar eventuais saídas profissionais do que andam a lidar com a política.
Por isso temo que PSD e CDS - mais penalizados porque estão no poder, mas se em vez de eles lá estivesse o PS, a situação seria rigorosamente a mesma, já que não acredito que os socialistas fizessem coisas muito diferentes das que têm vindo a ser e impostas aos cidadãos e à sociedade em geral - já nas próximas europeias venham a confrontar-se com uma copiosa derrota, ao ponto de terem que lutar pela sua própria sobrevivência política e eleitoral.
Aliás acredito que uma nova formação política que viesse agora ocupar a área política preenchida pelo CDS e pelo PSD não teria grandes dificuldades em ter sucesso. Veja-se o que se passou, ainda que a uma escala pequena, com os movimentos de cidadãos independentes nestas eleições autárquicas que não deixam de ser um sintoma para o futuro. No dia em que, logisticamente, tiverem condições, que ainda não existem, os movimentos de cidadãos podem candidatar-se prescindindo da almofada partidária. Alguns tiveram sucesso inesperado. O que se passou no Porto é disso exemplo mais significativo.
Não duvido que a multiplicação de situações semelhantes à do Porto, constituirá uma ameaça aos partidos e não tardará muito que a sociedade se mobilize para reivindicar outras possibilidades cujas portas estão neste momento completamente fechadas e blindadas. E tudo isto porquê? Por culpa dos partidos que deixaram de corresponder, porque traíram as pessoas, mentiram, deturparam, enganaram, desiludiram, transformaram-se em quintas fechadas a renovações de quadros e ao debate aberto, etc. Para ficarmos apenas por aqui...
II – Conheço o deputado Rui Barreto do parlamento regional. Construímos, mesmo nas nossas diferenças, uma relação de respeito e de amizade, que não se pode confundir com politiquice. Manifesto-lhe a minha total solidariedade lamentando que as coisas se tenham passado desta forma, independentemente de ter violado os estatutos do seu partido por ocasião da votação do OE-2013, cumprindo as decisões da estrutura regional do CDS regional e mantendo a coerência perante os eleitores. Barreto foi reconhecidamente uma mais-valia eleitoral para o seu partido – associando-se deste modo à vitória pessoal de Teófilo Cunha em Santana - ao ser eleito para a presidência da Assembleia Municipal. Quanto ao CDS nacional, o que me ocorre dizer é que estamos perante mais um exemplo de como as teorias e os comportamentos fascizantes aos poucos se estão a abocanhar dos dois partidos que fazem parte das coligação nacional, destruindo-os ideologicamente e enquanto organizações respeitáveis aos olhos da sociedade.