Segundo o jornalista do Publico,
Sérgio Aníbal, "o fundo apenas quer avançar para resgates na zona euro se
credores privados também participarem. O Fundo Monetário Internacional (FMI)
está a estudar uma mudança de estratégia para futuros resgates financeiros na
zona euro que passa por exigir que os credores privados assumam perdas antes de
o FMI avançar com um empréstimo. No entanto, essa proposta está a enfrentar uma
forte oposição das autoridades europeias e dos Estados Unidos, noticia esta
quarta-feira o The New York Times. A tentativa de adopção de uma nova abordagem
está a ser tentada pela direcção do FMI como resposta às dificuldades sentidas
nos programas aplicados pela troika nos países periféricos da zona euro. Em
especial, os responsáveis do fundo querem evitar situações semelhantes às
vividas na Grécia em que, pouco tempo depois de realizado o resgate (numa
cooperação inédita entre os países da zona euro e o FMI), se tornou claro que a
dívida pública grega era insustentável.
Uma reestruturação da dívida
detida pelos investidores privados acabou depois por ser realizada em 2012, no
meio de convulsões fortes nos mercados e ameaças de contágio a outros países da
zona euro e já depois de uma boa parte da dívida ter passado para as mãos dos
credores oficiais.
No passado mês de Abril, o FMI
publicou um relatório sobre reestruturações de dívida em que não só defendia a
ideia de que a reestruturação da dívida grega foi feita tarde de mais, mas
também abria a hipótese de ficar estabelecido que “alguma forma de bail-in
[assunção de custos] dos credores seria implementada como condição para os
empréstimos do FMI”. Agora, de acordo com o The New York Times, a solução que
está a ser preparada pelo FMI passa não por exigir uma reestruturação da dívida
imediata, mas por prever, quando o país pede ajuda, a existência de um período
em que os credores privados não podem passar a dívida para os credores
oficiais. Nessa altura o FMI passaria a dar simplesmente um empréstimo de curto
prazo, o que daria o tempo necessário para avaliar correctamente a situação e
decidir se a dívida é ou não insustentável. Um grupo de especialistas de
finanças públicas – e que inclui a antiga vice-directora-geral do FMI, Ann
Krueger – apontou, num documento tornado público esta semana, precisamente para
esta solução, que tornaria mais fácil para o FMI evitar emprestar dinheiro a um
país cuja dívida pública não é sustentável, algo que vai contra as regras do
FMI.
De acordo com o The New York
Times, a proposta está a ser preparada, dentro do FMI, sob a liderança do
actual vice-director-geral David Lipton. No entanto, está já a contar com uma
oposição feroz dos principais líderes europeus e, mais recentemente, dos
Estados Unidos.
Na Europa, a política, assumida principalmente
pela Alemanha, é a de que a reestruturação grega foi um caso único. Pedir o
contributo dos credores privados para resolver uma situação de crise grave de
dívida pública é visto como uma estratégia com muitos riscos para a
estabilidade do sector financeiro europeu. Aliás, os conflitos entre o FMI e os
líderes europeus nesta matéria já são públicos, com o FMI a pedir que no caso
dos países já com programas, como Portugal e a Grécia, pode vir a ser
necessário que os próprios credores oficiais (os tesouros dos vários países da
zona euro) assumam perdas. A Alemanha tem recusado de forma determinada essa
possibilidade. É por isso que já foi assumido pelos vários responsáveis que
futuros programas aplicados a Portugal e Grécia já não contarão com a presença
do FMI como um credor de grande importância, assumindo este apenas uma posição
de aconselhamento técnico"