segunda-feira, dezembro 30, 2013

Redes de emigração clandestina vão obrigar a cooperação



“Estruturas organizadas que operam em Portugal têm ramificações no Brasil, África ou China, de onde enviam cidadãos sem documentos para espaço português, seguindo depois para a Europa. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não tem dúvidas: há redes de imigração ilegal a tentar usar Portugal "como plataforma de trânsito para diversos destinos dentro do espaço Schengen ou continente americano, sobretudo por imigrantes vindos da África, China e Brasil". E as autoridades portuguesas têm consciência de que assim continuará a ser no ano que agora vai começar, pelo que o controlo fronteiriço não pode abrandar.

José Manuel Anes, presidente do conselho consultivo do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), também confirma essa tendência: "Neste ano registaram-se novos grupos estrangeiros a entrar ilegalmente em Portugal, vindos nomeadamente da Síria, Paquistão e Bangladesh. Mas não são imigrantes que queiram fixar-se. Passam por Portugal para depois ir para outros países". Nas redes transnacionais notou-se um "enfraquecimento das máfias de Leste na colocação de pessoas no território nacional e uma diminuição do interesse das redes africanas em relação ao nosso país".

Como esta não é uma preocupação de um só país, uma das áreas em que se continuará a apostar em 2014 é a da cooperação internacional. Foi assim, de resto, que se conseguiu desmantelar recentemente uma rede que operava entre Portugal e França. A operação do SEF, que resultou na prisão preventiva de cinco estrangeiros e dois portugueses de origem indostânica, resultou da articulação de esforços entre Portugal e França, onde foram detidas outras sete pessoas. A investigação a esta organização que tratava do transporte ilegal de imigrantes sem documentos de países europeus para Portugal durou um ano.

Além da cooperação internacional, a atividade do SEF vai continuar a assentar no controlo das fronteiras externas - entenda-se portos e aeroportos - e ações de fiscalização em território nacional, com recurso a controlos móveis.

Brasil com maior número de ilegais

Nos últimos quatro anos, Portugal detetou 39 553 ilegais, oriundos do Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, Ucrânia, Índia e China, segundo dados avançados ao DN pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Muitos destes estrangeiros encontrados em situação irregular, terão sido colocados em Portugal por redes transnacionais de imigração ilegal com ramificações nos países referidos.

O país com mais cidadãos detetados em situação ilegal em Portugal foi o Brasil (17 659 cidadãos irregulares de 2009 a 2012), seguido de Cabo Verde (4006) e Guiné-Bissau (2679). Foi com este último país que Portugal teve um incidente, em dezembro, após as autoridades guineenses terem obrigado um avião da TAP a transportar para Lisboa 74 sírios com passaportes falsos.

De assinalar, um crescimento do crime de auxílio à imigração ilegal com mais processos crime instaurados pelo SEF (55 em 2012 por comparação com 51 em 2009). A Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ tem cerca de uma dezena de inquéritos pendentes pelo crime de auxílio à imigração ilegal com "arguidos e redes identificadas provenientes de quase todos os continentes" (texto de Rute Coelho, DN de Lisboa, com a devida vénia)