sexta-feira, janeiro 31, 2014

Medicamentos: Hospitais devem quase tanto como quando chegou a troika...



Segundo a jornalista do Jornal I, Marta F. Reis, "Paulo Macedo anunciou ontem que está a negociar terceiro acordo com os laboratórios para controlar despesa e garantir acesso a inovação. O que mudou desde 2011? O ministro da Saúde anunciou ontem que o governo está a negociar com a indústria farmacêutica um novo acordo com vista a controlar a despesa com medicamentos durante este ano e garantir acesso à inovação. Dados publicados esta semana pela Apifarma revelam que o cenário de partida reflecte a ginástica de ambas as partes, mas a relação entre o SNS e estes fornecedores não parece estar muito mais saudável do que quando a troika aterrou em Portugal em Abril de 2011. Apesar de o SNS ter liquidado entretanto quase dois mil milhões de euros em dívidas contraídas até Dezembro de 2011 junto de diferentes fornecedores e de a despesa pública com remédios ter reduzido 31% face a 2010, segundo dados da Apifarma, os hospitais deviam em Dezembro 989 milhões aos laboratórios, menos 68 milhões do que em Abril de 2011 (1058 milhões). Já o prazo médio de pagamento das unidades aumentou em três meses em relação ao que se verificava nessa altura, de 394 dias para 489. Garantir que o SNS não continuaria capturado pelos credores e sujeito a ameaças de cortes no fornecimento sempre foi uma prioridade assumida pelo ministro, que no final de 2013 disse que o sistema estava "menos refém", anunciando o nível "historicamente baixo" de dívida vencida com que se chegaria ao fim do ano. A última publicação da Direcção-Geral do Orçamento, na semana passada, corroborou isso mesmo, com os hospitais a terem 656 milhões em facturas vencidas há mais de 90 dias face ao prazo acordado com os fornecedores (o limite que viola a lei dos compromissos) contra 2 055 milhões em 2011. Para este ano, contudo, a incógnita é qual vai ser o ritmo da entrada da dívida em incumprimento (no ano passado, avisou a troika, rondou os 30 milhões/mês) e se haverá novas dotações extraordinárias para saldar dívidas antigas, já que foi com essa batalha ganha no orçamento do Estado que a tutela resolveu o problema dos dois mil milhões em atraso. Pelo lado dos hospitais, o cenário não augura melhor desempenho: o orçamento encolheu este ano 146 milhões, sendo que em Novembro, com mais dinheiro, havia 12 unidades a violar a lei dos compromissos de acordo com a DGO. Se o compromisso de regularização de dívidas, que tem sido a moeda de troca da tutela nos últimos acordos com os laboratórios, estará em cima da mesa na negociação, é pergunta que ontem ficou sem resposta. O ministro não prestou declarações à saída da conferência sobre o sector onde também estava o presidente da Apifarma, que confirmou estarem em curso negociações. João Almeida Lopes disse só poder dizer o que estará no acordo quando ele "existir". Questionado sobre o valor da dívida e prazo de pagamento atingido no final de 2013, publicitado esta semana no site da Apifarma, o dirigente considerou que a situação de captura do SNS se mantém, mas por causa do "subfinanciamento crónico do SNS". Questionada pelo i, a Apifarma não esclareceu, dos 989 milhões em dívida, qual o montante em atraso. A soma global, sem discriminar o que está dentro do prazo e o que poderá estar a violar a lei dos compromissos, equivale a um ano de despesa de remédios nos hospitais.
Embora Almeida Lopes tenha confirmado disponibilidade da indústria para garantir um patamar de despesa pública em linha com o dos últimos anos, houve troca de recados. Na conferência promovida pelo "Diário Económico" e a farmacêutica MSD, Macedo sublinhou o esforço de alguma indústria em chegar a acordos adaptados aos "anos de crise". Mas considerou uma "afronta" um extremo em que ainda são propostos ao SNS preços superiores aos da entrada das mesmas moléculas inovadoras em países como o Reino Unido e reiterou ser necessário separar inovação de novidade. Almeida Lopes disse na sua intervenção que por vezes a avaliação é usada como "desculpa" para as dificuldades financeiras de curto prazo. Aos jornalistas, disse não conhecer o caso concreto de que falou Macedo mas rejeitou margens indevidas e que seja possível reduzir mais. "As afirmações ficam com quem as faz", rematou".