“Renzi causou
sensação pela idade e pela atitude, mas o primeiro-ministro de Itália nem é o
mais jovem da União Europeia. No continente há um primeiro-ministro com 31 anos
e um ministro com 27.
Matteo Renzi
causou sensação ao tornar-se em fevereiro o primeiro-ministro mais novo de
Itália, com 39 anos. Mas mesmo no seio da União Europeia, o italiano não é o
líder mais jovem. Apesar de a média das idades dos eleitos para cargos
políticos nacionais na Europa ser de 53 anos e os chefes de Governo terem por
volta dos 52, esta realidade pode estar a mudar nos próximos anos, com vários
jovens políticos a emergirem um pouco por todo o “velho” continente.
A pessoa mais nova
com assento no Conselho Europeu é Taavi Rõivas, primeiro-ministro da Estónia.
Tem 34 anos e tomou posse em março. Não foi a eleições, sucedendo a Andrus
Ansip – que era primeiro-ministro desde 2005 e agora é o nomeado da Estónia
para comissário europeu – com uma nova coligação de centrão aprovada no
Parlamento com 55 votos a favor em 101 possíveis. Desde que se tornou chefe de
Governo tem-se desdobrado em encontros internacionais para assegurar o que
prometeu ao tomar posse: proteger a Estónia, país com 1,315 milhões de
habitantes, do seu gigante vizinho, a Rússia, numa altura em que o nacionalismo
se aguça nas fronteiras.
Quanto a
experiência, Rõivas diz que tem mais que muitos que o acusam de pouca vivência
na política. Taavi é licenciado em economia internacional e marketing e foi
conselheiro do primeiro-ministro entre 2005 e 2007, sendo eleito para o
Parlamento estoniano nesse ano onde liderou a comissão de Finanças. Em 2012,
tornou-se ministro dos Assuntos Sociais. Ao mesmo tempo que assumiu a chefia do
Governo, Rõivas passou também a liderar o Partido Reformista, uma manobra vista
como um passo na renovação desta força política que começava a ver a sua
popularidade a declinar. O primeiro-ministro vive com a estrela pop Luisa Värk
e, em conjunto, têm uma filha.
Mesmo assim, no
continente há líderes ainda mais jovens. O primeiro-ministro mais novo do mundo
é Irakli Garibashvili, líder do governo da Geórgia e tem 32 anos – 31 quando
chegou ao poder. Garibashvili chegou ao Governo pela mão do multi-milionário
Bidzina Ivanishvili, para quem trabalhava até então. Nas eleições de 2012,
Ivanishvili criou e financiou o partido Sonho da Geórgia, que ganhou as
legislativas, tornando-se então primeiro-ministro – nomeando Garibashvili como
seu ministro dos Assuntos Internos.
Garibashvili
sucedeu em 2013 ao milionário e desde lá tem prosseguido o seu trabalho de
redirecionar o foco da política da Geórgia para Bruxelas em vez de Moscovo. A
sua prioridade é fechar o tratado de associação com a União Europeia, ensaiando
uma possível adesão no futuro do país às instituições europeias. “Eu quero
mesmo transformar o meu país num Estado real, moderno, democrático e europeu”,
disse o primeiro-ministro, em entrevista à Foreign Policy. A seguir, nos
planos, está a re-anexação pacífica da Ossétia do Sul e da Abcásia, atualmente
províncias independentes apoiadas pela Rússia depois da incursão de 2008.
Ainda fora da
União Europeia há dois nomes a ter em conta: a presidente do Kosovo, Atifete
Jahjaga que tem 39 anos, e o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur
Gunnlaugsson, também com 39 anos.
Embora não seja o
líder europeu mais jovem, o feito e efeito de Matteo Renzi continuam a
impressionar. O seu partido, o Partito Democratico italiano, foi o partido
socialista que maior percentagem de votos conseguiu arrecadar nas europeias de
25 de maio, tornando-o assim num dos maiores vencedores das eleições e com
maior poder dentro do Conselho Europeu – o ex-autarca de Florença chegou à
liderança do partido em dezembro de 2013 através de primárias e ao governo em
fevereiro deste ano, assumindo em julho a presidência rotativa da UE.
Mesmo o recente
anúncio do regresso de Itália à recessão, não parece ter assustado Matteo Renzi
que prometeu quando tomou posse não só tirar o seu país da crise, como resgatar
toda a Europa. Mas os números mostram uma realidade diferente. O PIB italiano
desceu no segundo trimestre 0,2%, anulando o fraco crescimento que o país tinha
verificado no início do ano.
“Vamos trabalhar
mais e melhor, mas eu prometo uma mudança de direção, não uma mudança de
universo em três meses. [...] Calma e serenamente estamos a puxar este país e
vamos tirá-lo da crise”, afirmou esta quinta-feira o primeiro-ministro. O
primeiro passo talvez já esteja aí com o início de uma reforma do sistema
político italiano que vai permitir ao governo tomar decisões mais céleres ao
tornar o senado numa câmara não eleita. A medida pode mesmo vir a ser
referendada.
Também na faixa
etária de Renzi, está Victor Ponta, primeiro-ministro da Roménia – tem 41 anos.
O seu governo, que foi primeiro constituído com uma coligação centro-esquerda e
agora é entre o seu partido, o Partido Social-Democrata (socialista), e um
partido da minoria étnica húngara que vive no país, está no poder desde
dezembro de 2012 e veio acabar com alguma instabilidade política. Agora, vai
candidatar-se à presidência do país – as eleições são em novembro – e pode
tornar-se o presidente mais novo da UE.
No entanto, Ponta
não é um líder consensual e o início do seu mandato não foi pacífico com a sua
tentativa em derrubar o Presidente através de um referendo. Apesar do ‘sim’ ter
ganho, menos de metade da população foi votar, o que fez com que a decisão não
tivesse qualquer validade. Para além do constrangimento institucional, este
episódio causou críticas internacionais e fez com que em 2013 muitos dos seus
aliados políticos fossem acusados de tentar falsear os resultados da consulta
popular.
Já na frente
económica, Ponta teve mais sucesso. A economia romena cresceu 3,9% no primeiro
trimestre deste ano e o país assegurou 23 mil milhões de euros de fundos
comunitários para os próximos seis anos, tornando-se assim um destino
apetecível para o investimento estrangeiro.
Os ministros
jovens que dão cartas nos seus governos
Para além dos
líderes, há outras caras nos governos europeus que se destacam pela sua
juventude e pela sua popularidade. Uma delas é a porta-voz e vice-presidente do
governo espanhol, Soraya Saenz Santamaría. A espanhola de 43 anos é mesmo a
figura mais popular do governo de Rajoy – uma sondagem de dia 4 de agosto
dá-lhe 2,75, em 10, enquanto Rajoy tem apenas 2,34 pontos - e desde o início
tem sido uma ajuda para o seu líder. Apesar de ter sido mãe imediatamente antes
da eleição do governo, Santamaría abdicou da licença de maternidade para apoiar
desde logo Rajoy.
Faz muitas vezes a
representação externa do governo espanhol e atualmente, segundo alguns jornais,
o líder do PP pode estar a ponderar um novo cargo para Soraya. Rajoy já avisou
que os seus ministros vão estar muito presentes na campanha para as eleições
municipais e das autonomias que se avizinham em 2015, podendo até nomear alguns
para lugares de relevo. Para a Câmara Municipal de Madrid, o nome escolhido
pode ser o de Soraya Saenz Santamaría, que não só vive na cidade, como é uma
figura mediática, muitas vezes vista a passear com o filho e com o marido –
filho de pai português - pelas ruas da capital.
Outra carreira com
futuro político, parece ser a de Najat Vallaud-Belkacem, ministra dos Direitos
da Mulher, das Cidades, da Juventude e do Desporto com 36 anos. A ministra que
viveu até aos cinco anos em Marrocos, é uma das mais populares do governo de
François Hollande, conseguindo reunir 59% de opiniões positivas a seu respeito
numa sondagem levada a cabo em julho. Antes de chegar ao Eliseu, Najat exerceu
vários cargos municipais na cidade de Lyon e na região de Ródano-Alpes. Começou
a destacar-se no Partido Socialista quando se tornou porta-voz de Ségolène
Royal nas presidenciais de 2007, passando depois para a equipa de Hollande para
disputar as primárias socialistas.
Hollande manteve-a
como porta-voz nos seus primeiros dois anos como Presidente, retirando-lhe essa
função em 2014, mas dando-lhe mais responsabilidade depois da entrada de Manuel
Vals no governo em abril. Vallaud-Belkacem teve uma das suas maiores vitórias
este mês ao ver promulgada a lei da igualdade entre homens e mulheres que
incentiva os pais a partilharem o tempo de licença parental, que prevê a proibição
de cotação em bolsa e outros benefícios a empresas que não tenham paridade nos
seus quadros e que vai penalizar financeiramente os partidos políticos que não
concorram com listas paritárias às eleições.
Apesar de levar
uma vida pessoal muito discreta com o seu marido, Boris Vallaud, e com os seus
filhos gémeos, a imprensa francesa aponta que juntamente com Vallaud, Najat
pode estar a tornar-se na reedição do casal Royal-Hollande dentro do PS.
Um ministro bem
mais novo, tem também vindo a agitar o governo austríaco. Trata-se de Sebastian
Kurz, ministro dos Negócios Estrangeiros e o ministro mais novo da Europa com
27 anos. A oposição criticou imediatamente a escolha apontando que este não
tinha qualquer experiência diplomática e que a sua nomeação significava “o
adeus da Áustria à política externa”. A resposta não se fez esperar: “Sim, é
verdade. Devido à minha idade tenho uma experiência diplomática muito limitada.
Mas trago muita diligência, muita energia e um grande deseja do contribuir para
o governo”.
Kurz é líder da
juventude do maior partido de centro-direita desde 2009 e foi eleito em 2010
como o equivalente a vereador em Viena e, no ano seguinte, foi nomeado
secretário de Estado da Integração. Em 2013, integrou as listas do seu partido
ao Parlamento austríaco e foi o candidato que teve maior número de votos – as
listas são abertas na Áustria -, o que juntamente com a conquista de novos
eleitores terá levado à sua nomeação. Como secretário de Estado, Kurz bateu-se
pela integração das minorias lutando para conseguir um ano extra de ensino
pré-escolar para as crianças que não tinham o alemão como primeira língua.
A renovação dos
partidos na oposição
Em 2011, a média
de idades nos parlamentos em todo o mundo era de 53 anos, sendo que 80% dos
deputados tinham entre 40 e 60 anos. Normalmente as mulheres eleitas como
deputadas são em média três anos mais novas que os seus homólogos masculinos e
os parlamentares em África são mais novos que Ásia. Na Europa, essa média de
idades situa-se nos 52,94 anos, segundo dados do Relatório Parlamentar Global
da União Inter-Parlamentar, que agrega 164 câmaras de decisão política em todo
o mundo e trabalha em parceria com as Nações Unidas.
A contradizer
estes números, estão os líderes (ou quase) de vários partidos da oposição em
Espanha, Grécia e França. O mais recente
eleito nesta renovação é Pedro Sanchéz, líder do PSOE desde 13 de julho deste
ano. Aos 42 anos, o professor universitário de Economia – que já foi deputado,
vereador da autarquia de Madrid, assistente da eurodeputada socialista Barbara
Dürhkop e observador internacional das Nações Unidas no Kosovo -, não era o
sucessor óbvio de Rubalcalba.
Mas o seu perfil
destacou-se. Fala perfeitamente francês e inglês (uma vantagem face a muitos
políticos espanhóis), tem perfil internacional por estar habituado aos meandros
das organizações internacionais, é um ecologista e tem presença na internet e
nas redes sociais. Tem mais de 50 mil seguidores no Twitter e tinha até há
pouco tempo um blog em que expressava os seus pontos de vista políticos e dava
conta do trabalho feito na Câmara dos Deputados espanhola – agora tem um site
mais profissional.
"Quero um
partido socialista moderno, que enfrente os processos de transformação e as
encruzilhadas em que Espanha se encontra. Quero um partido transparente,
aberto, participativo"
Recebendo o apoio
de algumas das mais importantes federações como Madrid, Valência, Aragão e
Andaluzia, Sanchéz ganhou as primárias com 49% dos votos e disse querer um
partido mais “transparente” e “democrático”. Esse parece ser o plano, já que
apresentará em setembro a realização de novas primárias abertas – onde tanto os
militantes como os simpatizantes se podem candidatar a primeiro-ministro – para
o partido escolher quem vai combater contra a direita e pretende apresentar-se
como candidato.
Esta inovação pode
não ser suficiente para parar outra estrela ascendente do panorama político
espanhol. A popularidade de Pablo Iglésias, politólogo, fundador e líder do
partido Podemos – tem 35 anos -, que nas europeias conseguiu eleger cinco
eurodeputados, tornando-se ele próprio eurodeputado, continua a subir. O
Podemos, que propõe entre outras medidas a nacionalização da banca, o combate à
“tirania dos mercados” e a saída de Espanha da NATO, é já a terceira força política
no país vizinho, com 15,3% das intenções de voto, segundo uma sondagem do
jornal ABC.
Iglésias é tão
popular que foi a sua cara que apareceu no boletim de voto das europeias,
angariando um milhão e duzentos mil votos. O Podemos diz ter conseguido nos
primeiros dias de agosto – altura em que abriu as inscrições no partido – mais
de 45 mil militantes, não havendo necessidade de pagar qualquer tipo de quotas,
sendo as doações voluntárias e sem valor definido. O ar descontraído do seu
líder, que raramente usa gravata e já afirmou comprar as suas roupas no
supermercado, está a conquistar os espanhóis, mas a intimidar os rivais
políticos. No início de julho, o Podemos processou a líder do PP de Madrid,
Esperanza Aguirre, por ela ter afirmado no seu blog que o partido apoia “o
chavismo, o castrismo e a ETA”.
Na Grécia, também
foi à esquerda que surgiu uma nova voz política, através de Alexis Tsipras, de
40 anos. De pacificador e agregador de alguns partidos de esquerda radical, em
2012, nas eleições legislativas, passou a líder da oposição, continuando a
colher simpatia e confiança por parte dos gregos como se viu nas últimas
europeias. Para além do Syriza ter conseguido eleger sete eurodeputados, o
grego encabeçou a luta da esquerda radical em toda a Europa ao apresentar-se
como candidato à presidência da Comissão.
Tsipras vai
trabalhando nas duas frentes, a combater o governo grego e a espalhar a
mensagem de esperança pelos países do Sul. Em julho esteve em Itália e já se
deslocou várias vezes a Portugal, especialmente no 25 de abril, para participar
em manifestações e marchas anti-austeridade.
Mas nem só à
esquerda se faz a mudança das lideranças. Em França, a oposição é à direita e
Laurent Wauquiez, de 39 anos, um dos possíveis candidatos a líder da União por
um Movimento Popular (UMP). É uma figura leal a Sarkozy, tendo ascendido no
governo sob a sua alçada – foi porta-voz do Presidente, secretário de Estado do
Emprego, ministro dos Assuntos Europeus e ministro da Educação entre 2008 e
2012. Wauquiez poderá estar a considerar candidatar-se à liderança da UMP em
novembro deste ano. Apesar do regresso do ex-Presidente ser muito antecipado, o
antigo governante parece querer fazer o seu próprio caminho.
“Vou falar sobre o
assunto quando regressar das férias e não excluo nenhum cenário à partida. No
entanto, a questão das candidaturas é prematura dentro da nossa família
política que ainda está fragilizada”, disse ao Le Figaro. Atualmente, Laurent
Wauquiez é deputado.
O que é que quase
todos estes jovens políticos têm em comum? Estão presentes na redes sociais e
são seguidos por milhares de pessoas. O campeão é Matteo Renzi com mais de um
milhão de seguidores na sua conta de Twitter, e Pablo Iglésias não fica muito atrás, contando com mais de
500 mil pessoas a prestar atenção aos seus 140 carateres. Os posts são mais ou
menos atualizados, mas todos comentaram algo no último mês. Comunicam assim não
só com os seus eleitores, mas muitos também com os restantes europeus,
apostando em comentários em inglês.
Uma aposta de Ska
Keller, eurodeputada alemã dos Verdes de 32 anos, é essa. Os seus posts são
tanto em inglês como em alemão, alertando sempre para temas europeus
relacionados com o ambiente ou com o comércio externo. A eurodeputada, que fala
seis línguas, ingressou na juventude dos Verdes alemães em 2001 e rapidamente
se tornou porta-voz dos jovens verdes europeus. Foi eleita para o Parlamento
Europeu em 2009 e em 2014 foi escolhida em primárias para ser a candidata à
liderança da Comissão Europeia em conjunto com José Bové.
Mas Keller não se
contenta com Bruxelas e quer conquistar a Alemanha, preparando-se para disputar
lugares cimeiros dentro da liderança do partido. Numa entrevista à Der Spiegel,
a eurodeputada diz que faz parte de uma nova geração. “Faço parte de uma
geração que cresceu com a Europa – o que é uma grande diferença”, disse.
Quem também está a
lutar por um lugar de destaque num partido alemão é Jens Spahn de 34 anos.
Spahn pertence à CDU, partido de Angela Merkel, e é deputado no Bundestag
(parlamento alemão), mas não parece alinhar no status quo. Merkel atualmente
governa em coligação com os socialistas do SPD e pretende introduzir mais
benefícios para a população mais velha, nomeadamente, aumentar as reformas dos
pensionistas, especialmente para as mulheres que foram mães. Uma posição da
qual discordam alguns jovens conservadores que apresentaram um manifesto por um
“crescimento equilibrado” do país, a que chamaram “Agenda 2020″.
“Precisamos de
medidas que ponham a Alemanha no caminho da prosperidade financeira nos
próximos cinco a dez anos”, defendeu publicamente o deputado. Jens Spahn, numa
entrevista à Der Spiegel em que fala pela primeira vez sobre a sua
homossexualidade, disse estar mais bem posicionado para promover a tolerância
em relação a outras preferências sexuais sendo conservador e católico do que
“um militante dos Verdes que vem da cidade de Colónia” (texto da jornalista
Catarina Falcão, do digital Observador com a devida vénia)