segunda-feira, março 02, 2015

Miguel Sousa (PSD): "a Madeira não tem este ano receitas próprias para um terço das despesas e, em 2016, faltará metade da receita necessária para um Orçamento minimamente responsável"



"Vamos diretos ao que interessa: a Madeira não tem este ano receitas próprias para um terço das despesas e, em 2016, faltará metade da receita necessária para um Orçamento minimamente responsável.
Ou seja, as receitas próprias só cobrem metade de um Orçamento que suporte uma saúde e ensino funcionais, os salários dos trabalhadores públicos, mínimos estímulos à economia e à exportação, razoável manutenção dos equipamentos de uso colectivo e, como não pode deixar de ser, honrar a dívida pública.
Teremos, no melhor optimismo, mil milhões de euros de receita para um compromisso de despesa, já assumida e sem escapatória, de dois mil milhões de euros.
Será irresponsável fazer promessas eleitorais de novas despesas sem antes: primeiro, dizer como se propõe arrecadar os mil milhões de euros em falta; segundo, como vai pagar as novas promessas, se é que alguém as ousa fazer.
O normal seria poder substituir despesas, as más e desnecessárias por boas e indispensáveis, mas, no pé em que isto está, é tarefa impossível já que as despesas orçamentadas apenas pretendem acudir às actuais deficiências na saúde e ensino, aos encargos com salários, ao serviço da dívida e à degradação das infra-estruturas. São todas despesas justificadas.
Mas se não se verificar a receita de mil e seiscentos milhões em 2015 e de dois mil milhões de euros em 2016, que ninguém ainda disse como a vai garantir, pois só temos garantidos mil
milhões, muitas destas despesas, face à lei dos compromissos que criminalizou a prática anterior de adiar pagamentos, dizia, algumas destas despesas não se vão mesmo poder realizar.
Ao contrário do que era prática antes, agora só se gasta o dinheiro que se tem.
Serão precisos políticos com nervos de aço, não para fazerem as habituais promessas de mais benesses mas para ditarem a opção de não haver, por exemplo, medicamentos e tratamentos subsidiados, luzes acesas nas escolas, salários por inteiro, ou ter os juros em dia.
Para tudo é que não dá.
Esta é a grande diferença na nova política. Antes tudo foi possível, mesmo a asneira, agora e no futuro já não mais será assim. Mesmo o essencial poderá não ser possível.
Existem alternativas ? Talvez sim, talvez não !
Novos empréstimos requerem financiadores, garantias do Estado e aceitação de mais dívidas que levarão a mais impostos futuros. Seria continuar o caminho anterior. Como os gregos fizeram até aqui.
O perdão de dívida, pode ser parte de uma solução, mas exige mecenas ou doador, que no nosso caso teria de ser o Estado. Exige vontade política nacional. Quem acredita num novo Guterres ?
Mas reparem. Mesmo o perdão total da dívida, apenas aliviaria o Orçamento em cerca de 200 milhões de euros anuais sendo necessário financiar os outros oitocentos milhões em falta.
Qualquer outra solução não resolve coisa alguma. Pode adiar a agonia imediata, mas vai aumentar a dívida e prolongar os sacrifícios futuros.
E, tenho raiva quando me lembro da declaração do actual Primeiro Ministro em jantar no Funchal, por ocasião do evento das 100 Maiores Empresas, em Novembro último, quando disse ser exigido à Madeira um superávit orçamental.
Portugal não tem nem sonha com isso; os Açores idem,idem; e, a Madeira, lá terá que ser rentável. O único Orçamento em Portugal com lucro !!
Conversa desnecessária onde surpreendeu a incrível passividade da plateia presente, da comunicação social, dos habituais comentadores, das associações empresariais, dos sindicatos e ........... não há que espantar, dos próprios partidos políticos.
Vejam bem: pagar a dívida e ainda ter superávit.
No mínimo é preciso ter descaramento !
Não é preciso ser do Syrisa para repudiar tão abusivo entendimento.
Como referi em 26 de Setembro passado em debate na RTP-MADEIRA :
"a Madeira tem de exigir viver com a mesma dívida perante o PIB, e com a mesma taxa de juro que o Estado".
Se nessas condições, ou seja, serviço da dívida igual para todos, fizermos melhor que o Continente e os Açores, e tenho a certeza que faremos, teremos mais satisfação colectiva e optimismo sobre o futuro.
É para isto que é preciso uma nova política fiscal. Governar bem sem dúvida, com critérios de boa gestão e rigor. Poupar, evitando todo e qualquer desperdício e extravagância. Mas, o incontornável é a necessidade de uma nova política fiscal.
Não podemos ser apenas uma Autonomia das despesas.
Se Portugal tem três realidades económicas distintas no Continente, Madeira e Açores, então é óbvio que precisamos de três políticas fiscais diferentes e adequadas a cada uma dessas respectivas economias.
A mesma política fiscal não é cura nem remédio para três economias diferentes.
Só existe uma solução responsável, que não sufoca gerações futuras e permite-nos viver com conforto financeiro : ou seja, ter receitas mínimas anuais de dois milhões de euros, repito mínimas, sem sobrecarregar os contribuintes madeirenses, que tenho vergonha de lembrar serem os portugueses que mais pagam impostos.
As famílias madeirenses não aguentam este sufoco fiscal !
A solução é criarmos um SISTEMA FISCAL PRÓPRIO, de baixa fiscalidade, que atraia empresas estrangeiras e iguale a fiscalidade a pagar por todas as empresas, sejam de estrangeiros ou de madeirenses.
Deixarmos de ter apenas duas mil empresas estrangeiras que pagam, na sua totalidade, menos de 150 milhões de euros de impostos, e passarmos a ter 20, 40 ou 60 mil empresas que vão pagar mil e quinhentos milhões, três mil milhões ou quatro mil e quinhentos milhões de euros respectivamente, em função do nosso maior ou menor sucesso. Como o Luxemburgo, Holanda, Áustria, Malta e Chipre.
Não somos capazes de fazer igual ? Vão a Malta e a Chipre e perceberão logo que sim. São até os mais bem sucedidos.
Então nós vamos abdicar de uma solução que nos tira da austeridade, do desespero de cada vez mais famílias porque Lisboa não quer ?
E porque não quer se em nada prejudica o País, nem os Açores, que até podem seguir modelo semelhante se entenderem ?
O Continente não perde um único euro de receita fiscal já que a minha proposta exclui, naturalmente, as empresas continentais e açoreanas de se sediar fiscalmente na Madeira. Como as empresas de franceses não podem ter sede no Mónaco.
A proposta de Lei que propus a título individual, segue o quadro fiscal português. Propõe para a Região uma taxa de IRC geral de 12,5 %, ainda que reduzindo para 5 % a taxa aplicável às empresas que reúnam duas entre os seguintes seis requisitos :
- contribuam para a modernização e diversificação da economia regional;
- metade do seu volume de negócios ser internacional;
- fixem na Região recursos humanos de elevado mérito e competência;
- melhorem o ambiente;
- contribuam para a projecção económica e visibilidade da Madeira nos mercados internacionais.
Estes são atrativos para as empresas que estejam na Madeira, sejam de quem forem, a quem se garante, de forma irrevogável, um mínimo de quinze anos sem acréscimos fiscais.
Mas é também um estímulo à nossa frágil economia, havendo, uma redução à taxa geral, às empresas instaladas nos parques empresariais.
Qual pode ser a dúvida dos poderes centrais ? O sistema que agora se pretende poder levar a orçamentos com défices anormais, como em anos anteriores, e a uma dívida pública ainda superior.
Proponho, para eliminar essa dúvida, que se garanta ao Estado nunca ultrapassarmos uma dívida pública em relação ao PIB superior à percentagem da dívida do Estado.
Isto não tem qualquer risco.
O défice do Estado é 3,7 % do PIB e a dívida 127,8 %. A nossa dívida pública é 105 % do nosso PIB, agora com o novo critério de cálculo.
Estou em crer que em cinco anos estaremos em velocidade cruzeiro com superávit orçamental. Portugal nunca lá chegará.
Este não é um programa que fizesse sentido há cem anos atrás. Nem sabemos se terá validade daqui a cem. Mas é sem dúvida uma oportunidade actual, com eventual atraso de cinquenta anos, mas que constitui a única via
para um aumento excepcional das receitas fiscais.
Sem as quais não podemos viver !
Os últimos anos do CINM têm sido penosos. Perdemos mais de quatro mil empresas. A hotelaria cobrou, em 2013, menos de cinco milhões de IRC, quando as receitas fiscais totalizam oitocentos milhões de euros. Muito PIB, muito emprego mas pouca receita fiscal. Agricultura, pesca, indústria e transportes são actividades com fraco contributo. A construção já foi.
Há quem não tenha solução para o seu problema financeiro. A Grécia não tem. Portugal também não. Ao contrário nós temos.
A mim não me convencem a desistir desta oportunidade. Não aceito uma Madeira pobre porque Lisboa não nos dá o instrumento fiscal.
E vamos desistir ? Alguém, principalmente algum dos nossos políticos, quer viver com a infâmia de não ter lutado o suficiente por tão importante solução?
Vamos voltar ao debate na Assembleia Legislativa da Madeira, com o mesmo espírito da proposta original, e que é o de nos unirmos todos pela Madeira, num Sistema Fiscal Próprio que não tem alternativa para tirar as famílias madeirenses das enormes dificuldades que já sentem” (texto de Miguel Sousa, candidato do PSD às regionais de 29 de Março, apresentado na Conferencia "A Política Fiscal na RAM” realizada no passado dia 27 Fevereiro 2015 no Funchal, numa organização da OTOC/DN)