quarta-feira, maio 20, 2015

JM: A minha opinião



Relativamente ao debate sobre o futuro do JM existem duas questões distintas entre si e que não se podem confundir: em primeiro lugar, uma de natureza político-governativa, mais institucional se quiserem, que é determinante para qualquer desfecho deste "dossier", dado que tem a ver com a tutela. A posição do Governo Regional sobre o futuro do JM é de todos conhecida, até porque sempre foi afirmado por Albuquerque – e a oposição pode na sua histeria frenética dizer o que bem entender que as pessoas sabem que a realidade é esta – que nenhuma decisão seria tomada de forma abrupta, pondo em causa a viabilidade da empresa junto de potenciais interessados privados. Mas sem questionar a sua posição de princípio, a de retirar o JM da alçada das empresas públicas. Em segundo lugar existe uma outra questão de fundo, a da empresa e do mercado que temos que abordar neste contexto.

Algumas ideias preliminares que gostaria de aqui deixar:

a) o futuro da imprensa regional, tal como ela se apresenta dificilmente continuará a ser o que hoje é. Duvido que esta realidade complexa se altere a tempo de evitar estragos maiores;

b) Recordo, no caso da Madeira, que todos os projectos privados implementados nos últimos anos, alguns dos quais associados a empresas que operam no sector, falharam todos. Poderia lembrar os casos do Notícias da Madeira, nas suas duas versões empresariais, e do gratuito Diário Cidade, propriedade de uma gráfica regional, incluindo a sua versão digital recentemente desactivada;

c) A dimensão do mercado regional, quer em termos de potenciais leitores/compradores de jornais – com importância relevante nas tiragens – quer em termos publicitários/económicos, fundamentais na garantia de recursos financeiros essenciais à sobrevivência e viabilidade das empresas de comunicação social, é substancialmente limitada, parecendo-me que isso tem sido perigosamente ignorado ou desvalorizado nesta discussão.

Durante a vigência do anterior governo, era voz corrente que o modelo adoptado no JM, sobretudo em termos editoriais e de tutela, perduraria enquanto Alberto João Jardim fosse o Presidente do Governo. Havia uma clara opção pessoal e política do anterior chefe do governo relativamente ao jornal. Mas é sabido também que vários membros do governo regional de então sustentavam ser preciso encontrar uma solução que libertasse o Orçamento Regional das responsabilidades que este tinha com aquela empresa maioritariamente de capitais públicos. Outros havia que, por terem alternativas – dispondo de facilidade de divulgação de notícias pessoais mediaticamente favoráveis – advogavam o encerramento progressivo da empresa, antecedido de negociações prévias com a Diocese, parceiro que desde sempre revelou ao sócio maioritário (Região) não ter condições financeiras para assumir o ónus decorrente de uma devolução integral do periódico à Igreja.

Lembro que a “entrada” da região para o capital social ocorreu nos anos oitenta, devido à acumulação de uma dívida significativa da empresa, quer às Finanças, quer à Segurança Social. A Diocese manteve uma pequena percentagem do capital social e diversas prerrogativas sobretudo editoriais

Poder-se-ia colocar um problema adicional: o DN adquiriu à Grafimadeira uma estrutura de impressão alegadamente só viável com a utilização da rotativa por pelo menos dois jornais. Parece haver estudos de viabilidade que demonstram que a existência de apenas um utilizador daquele equipamento poderia determinar - salvo se os prejuízos fossem continuamente compensados por entregas em dinheiro pelos proprietários - uma possível (?) falência da referida gráfica por falta de rentabilidade. O que não deixaria de ser complicado. Neste momento são ali impressos além do DN e do JM também a edição diária de "A Bola"

Tenho para mim que o DN pretenderá essencialmente que o JM passe a ser pago (preço de capa) na expectativa de que uma redução (previsível) da sua tiragem possa neutralizar um dos atributos que cativam potenciais clientes publicitários. Porventura a concorrência directa do JM pretenderá igualmente que sejam abandonadas práticas inseridas no âmbito do que se designa de “dumping” comercial, caracterizado neste caso concreto pela prática de preços (ou campanhas específicas) de tabelas publicitárias inferiores aos praticados pela concorrência, situação que naturalmente coloca aos potenciais anunciantes a inevitável opção pelo jornal que conjuga mais tiragem e menor custo publicitário. Penso mesmo que estes dois itens serão aqueles que mais interessam ao DN, não propriamente o encerramento do JM.

A este propósito, falaram-me de um estudo realizado recentemente destinado a apurar quais as preferências dos leitores da imprensa e as rubricas mais procuradas nas edições. Nos primeiros lugares apareciam a necrologia, os horóscopos e o desporto.

Aceito que se cometeram erros no passado recente que em vez de terem criado condições futuras para o jornal e terem constituído mais-valias editoriais e empresariais, puseram em causa um projecto jornalístico que poderá estar condenado, não propriamente por causa da conhecida posição política do novo Governo Regional sobre esta matéria, mas pelos riscos de quererem andar demasiado depressa (embora o timing agora revelado me pareça o mais adequado), pressionados pelas pressões externas e interessadas no acelerar de decisões. Acresce que não considero existirem ainda condições de mercado para uma solução imediata que garanta a privatização pacífica do JM, sem grandes estragos sociais e empresariais, privatização essa que dificilmente terá sucesso (salvo se o processo for semelhante ao da TAP, em que a ideia é vender ao desbarato) sem que se possa garantir um produto aliciante.

Procura de soluções

Ainda no quadro da procura de uma solução para o JM, parece-me importante lembrar que várias iniciativas estiveram em cima da mesa, que se realizaram inclusivamente reuniões de trabalho tendo em vista um desfecho positivo, mas tudo isso acabou por ser inviabilizado por razões exógenas a este processo.

Lembro a propósito uma série de contactos e reuniões exploratórias que apostavam na eventual fusão empresarial entre o JM e o DN, mantendo os dois jornais uma estrutura editorial autónoma e complementar, mas com uma administração centralizada. Neste quadro o apoio público ascenderia, segundo as previsões então feitas, a 2 a 2,5 milhões de euros anuais.

Uma outra iniciativa terá sido conduzida por um conhecido empresário, muito importante para a Madeira durante muitos anos devido à sua influência e contactos, que chegou a ter desenhada uma operação de compra do JM por parte de privados, numa solução em que o próprio, julgo que era assim, seria parte, atraindo outros parceiros, um dos quais ligado a um dos mais importantes grupos empresariais nacionais de comunicação social. A doença e i falecimento do referido empresário terá inviabilizado esta solução que girava muito em torno da sua pessoa, das relações de amizades pessoais e dos recursos próprios que tinha ao seu dispor. Embora de forma muito ténue sei que esta iniciativa chegou a ser conhecida em vários sectores.

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