quinta-feira, maio 21, 2015

Opinião pessoal: Programa de Governo



Nos termos estatutários e regimentais, o Programa de Governo é apresentado sob a forma da Moção de Confiança. Não se trata por isso, no que ao executivo regional diz respeito, de querer testar a oposição, "provocando-a" com uma moção de confiança - que, por ser eminentemente política, dificilmente reunirá a concordância consensual em torno do documento - mas tão-somente dar cumprimento às disposições estatutárias e regimentais que dizem ser este o caminho a adoptar.
O Programa de Governo, regra geral elaborado tendo por base o manifesto eleitoral que o partido vencedor das eleições apresenta durante a campanha eleitoral, é um documento político, com orientações gerais e propostas sectoriais que não são para ser executadas em semanas ou meses, já que têm como realidade temporal uma Legislatura regional de quatro anos. O julgamento dos governos é feito pelos eleitores no final dos mandatos, quando se realizam novas eleições.
Em cada ano o Governo Regional apresentará as suas propostas de Orçamento e de Plano de Investimento que são, pela sua natureza, os documentos sobre os quais a oposição poderá apresentar propostas de alteração. O programa de governo é um documento político, pelo que não percebo - mas o erro só pode ser meu e da minha minúscula capacidade de percepção destas coisas... - como é que a oposição apresenta propostas de alteração da versão apresentada pelos vencedores das eleições, sabendo-se de antemão que o Programa será sempre um documento do governo em funções e não propriamente um texto de qualquer dos partidos da oposição altera por simples proposta de aditamento.
Aliás - e tive a preocupação de analisar os documentos - recomendo que me digam quais os programas de governo, em Lisboa ou nos Açores, que cederam a propostas da oposição - essas sim, repito e insisto, com um espaço próprio para apresentação, discussão e votação, que são os orçamentos e programas de investimento anuais - tal como gostaria de saber quais as propostas de alteração da oposição apresentadas pela oposição na Assembleia da República, sobre as propostas do governo de coligação do Programa Nacional de Reformas 2015 e do Programa de Estabilidade 2015-2019.
No caso do Programa de Governo não acredito que um partido da oposição, seja ele qual for, queira ficar excessivamente vinculado a um programa de governo, que é a bíblia de um executivo, perdendo assim espaço para poder pronunciar-se no final do mandato sobre o mesmo, de forma distante. Creio que a estratégia parlamentar do PCP e do Bloco vai repetir-se, tal como no passado: nada de propostas de aditamento ao Programa de Governo, distanciando-se do documento em causa. Em alternativa, apresentarão previsivelmente um significativo número de projectos de resolução e decretos legislativos, propondo medidas de governação que constavam dos seus manifestos e/ou propostas eleitorais, distanciando-se deste modo da versão programática do governo regional do PSD.
Ao contrário do que acontecia no passado, dificilmente serei capaz de antecipar com antecedência a tendência de voto dos partidos da oposição, embora me pareça óbvio que PND, PTP, PCP e Bloco de Esquerda dificilmente se absterão ou votarão a favor (um programa de governo, repito, é um documento político que faz naturalmente a diferença e separa as águas), persistindo dúvidas sobre a posição de voto do CDS, JPP e PS, que não acredito coincida com o apoio que o grupo parlamentar social-democrata naturalmente garantirá ao governo de Miguel Albuquerque.
O Governo Regional tem toda a legitimidade política, beneficia do habitual estado de graça que acompanha todos os novos governos, tem um conjunto de ideias concretas que plasmou na proposta de programa, tem objetivos definidos, tem estratégias concretas para as áreas mais prioritárias e difíceis, sabe que tem pela frente desafios que vão exigir muita entrega, provavelmente tomará algumas medidas que podem revelar-se impopulares, será sujeito à pressão de ter que resolver todos os nossos problemas de um dia para outro, como se isso fosse sério e lógico, tem que adoptar uma enorme determinação na renegociação das PPPs que são quem absorverá mais encargos financeiros (cerca de 400 a 450 milhões de euros anuais) e tem que ter o engenho e a arte de renegociar com Lisboa o acordo de pagamento da nossa dívida regional, tendo por base taxas de juros mais baixas e um calendário de pagamentos que seja exequível. (LFM/JM)

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