quinta-feira, junho 04, 2015

Um primeiro-ministro mais sensível à Madeira

"Pedro Passos Coelho experimentou poncha de maracujá e gostou, andou nas curvas e contracurvas das estradas regionais e disse que eram únicas. Entre visitas e reuniões de trabalho, o primeiro-ministro abriu a campanha eleitoral na Madeira e até ouviu os protestos contra o isolamento a que está votado o Porto Santo. Da viagem oficial ao arquipélago ficam as passagens aéreas a 86 euros, mais dinheiro do Estado e o quase certo aumento por sete anos dos prazos de pagamento da dívida. E fica, como reconheceu o próprio, uma melhor compreensão da realidade regional, uma nova sensibilidade que Miguel Albuquerque quer aproveitar, agora que a conjuntura corre de feição e já se sente no ar o clima de campanha eleitoral. O Governo Regional não esqueceu o novo hospital central do Funchal, que quer ver integrado no plano de obras de interesse comum, nem desistiu da ideia de criar um sistema fiscal próprio. Os dossiers não estão fechados e, na verdade, não são os únicos temas em aberto entre a Região e a República. O itinerário do último dia da visita oficial não foi inocente desse ponto de vista e o presidente do Governo Regional quis mostrar ao primeiro-ministro os sucessos, as fragilidades e um eleitorado que é ainda devotado ao PSD. A primeira paragem foi na Ribeira Brava para visitar uma empresa tecnológica, cuja nova sede está em construção.
E foi aqui que chegou o primeiro alento a Passos Coelho que, em conversa com os trabalhadores da obra, confessou que gostava de ir a inauguração, pena era calhar na campanha. “Mas pode vir depois, que veio para ficar, não para ir”, respondeu o encarregado. O ritmo estava marcado e, no tempo que esteve na Ribeira Brava e pela mão de Albuquerque, o primeiro-ministro entrou em cafés, cumprimentou pessoas e até ouviu os desabafos de uma emigrante na Venezuela, “um país mui rico”, do qual já tinha saudades.
A agenda da visita esperava Passos Coelho no norte da Madeira, onde as via-rápidas ficaram a meio. Sem via-rápida, a comitiva seguiu pelas curvas e contracurvas da estrada regional, cortada na rocha, com o mar de um lado e as escarpas instáveis do outro. O executivo de Miguel Albuquerque quer terminar estas vias rápidas, alega que estão quase prontas e são necessárias por razões de segurança, mas falta o dinheiro. Para sensibilizar, o primeiro-ministro fez uma viagem por estes caminhos estreitos, pelas curvas da Madeira que disse serem “únicas”.
No Porto Santo, onde terminou a deslocação oficial, também era preciso sensibilizar Passos Coelho, que o isolamento é grande, as viagens são caras e os Invernos sem turistas custam a passar, sobretudo em Janeiro quando o ferry sai da linha para a Madeira por questões de manutenção. A ilha foi sinalizada pelo Banco Alimentar como umas das zonas mais pobres da Madeira a par da Camacha. O movimento “Somos Porto Santo” tratou de explicar tudo. Eram só quatro membros e dois cartazes, mas conseguiram que o primeiro-ministro se comprometesse a estudar uma solução para os bilhetes corridos entre Porto Santo-Madeira-Lisboa e ligações aéreas para o continente durante o Inverno. O que ficou assegurado é que os 86 euros valem tanto na Madeira como no Porto Santo.
A viagem, a segunda de um primeiro-ministro ao Porto Santo em 23 anos, estava quase a terminar, ainda houve uma assinatura de um protocolo entre agricultores e o hotel Pestana e a conferência conjunta final, mas o dossier Madeira era já um assunto encerrado. Pedro Passos Coelho falou da descida do desemprego, estabeleceu a meta dos 10% e quis demarcar-se do PS, que nunca vê boas notícias. O intervalo regional estava encerrado depois de dois dias de visita durante os quais até arranjou tempo para ir à zona velha do Funchal experimentar poncha e ficou a gostar da de maracujá.
Passos Coelho regressa à Madeira a 26 julho para, após cinco anos como líder nacional do PSD, participar pela primeira vez à festa do Chão da Lagoa. Nos tempos de Jardim, apesar do clima impecável no relacionamento, nunca lá apareceu para os comícios e para a ronda pelas 54 barracas das comissões de freguesia do PSD. Os tempos são outros, mas o espírito da festa deve manter-se, sem artistas (fonte: Expresso, Marta Caires)

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