quarta-feira, julho 22, 2015

Mania de escrever (III): O PS de Carlos Pereira

Não tenho dúvidas que o PS de Carlos Pereira pretende ser diferente dos PSs que o antecederam. Mas há um primeiro grande desafio pela frente que pode constituir um desafio enorme para a nova liderança. Falo das eleições legislativas nacionais. O PS tem pela frente a obrigação, na óptica dos socialistas, de recuperar o seu estatuto de maior força da oposição regional, de recuperar eleitorado perdido para a abstenção, para outros partidos da esquerda, sobretudo o JPP, e mesmo para o PSD. Mas as coisas não estão fáceis e a imagem do PS, num tempo marcado pela prisão de Sócrates e pela recuperação (pela coligação Passos Coelho/CDS) dos desastres da governação socialista/socrática de 2005 a 2011, que estão a criar obstáculos inesperados a um PS de Costa (ele próprio longe de constituir um estímulo mobilizador em termos eleitorais) que continua a contar como "favas contadas" as eleições de Outubro. Erradamente. Se Carlos Pereira não conseguir essa recuperação eleitoral e conjugar tudo o que atrás referi, corre o risco de perceber que vai ficar tudo na mesma e que dificilmente o seu PS elegerá mais do que um deputado a São Bento. Neste caso os sinais dados por Carlos Pereira - a recusa da imposição por Lisboa de Bernardo Trindade como cabeça-de-lista num processo que julgo ter sido negociado ainda com Vítor Freitas, não tendo levantado então obstáculos, e o afastamento de Jacinto Serrão que durante anos funcionou como uma espécie de "dono" do lugar (de Lisboa), tendo sido perceptível o esforço feito nos últimos meses, em termos mediáticos, para continuar em São Bento - podem acabar por valer pouco. Penso que Carlos Pereira vai, com o tempo, imprimir uma liderança ao PS mais agressiva, porventura mais contundente em termos de discurso e de retórica política e passível de gerar problemas políticos ao PSD regional que terá que contar - há que dizê-lo claramente, embora isso possa ser atenuado - com a inexperiência do seu grupo parlamentar o que poderá originar dificuldades na contestação. Sobretudo quando o combate político se intensificar, algo que claramente ainda não aconteceu mas que inevitavelmente vai ser colocado em cima da mesa.
Se o PS recuperar o seu eleitorado vai criar um problema, quer ao CDS, quer ao JPP (sobretudo a este) quer ainda ao próprio PSD, até porque as listas de candidatos estarão em cima da mesa e neste jogo político há factores que podem ter sido erradamente desvalorizados e que podem vir a ter consequências eleitorais problemáticas. Com o JPP na corrida, apostado em tudo fazer para (dificilmente) manter os resultados das regionais (se isso acontecesse Pereira teria um problema eleitoral porque os 13 mil votos do JPP dar-lhe-iam um deputado em São Bento) e com o CDS apostado em fazer tudo para também manter o seu deputado (o que pode antever uma tentativa de visar directamente o PSD, já que o CDS sabe que disputa com os social-democratas uma importante parcela de eleitorado, o chamado eleitorado flutuante que vota no centro direita sem assumir compromissos específicos estabilizados com um partido em concreto), não me espanta nada que depois dos primeiros sinais deixados pelas regionais - os piores resultados eleitorais de sempre para PSD e PS num cenário de abstenção recorde que não vale a pena minimizar ou tentar "justificar" - Pereira empenhe tudo, em termos políticos neste primeiro combate eleitoral da sua liderança
Finalmente, publico abaixo dois quadros recordando os resultados de 2011 na Madeira (cuidado porque o contexto político e eleitoral era diferente graças à crise da ajuda externa, à troika e à austeridade) e uma projecção (mera curiosidade) dos resultados das regionais numa disputa nacional onde se conclui que não havia qualquer alteração. Ou seja os partidos que apostam em mudar alguma coisa, terão que lutar muito em termos eleitorais.


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