quinta-feira, outubro 08, 2015

Canárias, o exemplo, a coligação e a esquerda

As pessoas que seguem pela televisão a evolução de toda esta encenação montada à volta dos resultados eleitorais e da futura governação, incluindo a eventualidade de um governo da coligação PSD-CDS ser passado para trás em detrimento de um entendimento à esquerda, gostaria de dar dois exemplos muito concretos e próximos de nós - nas Canárias - que certamente ajudarão as pessoas a entender melhor do que falamos.
Ressalvo, antes disso, que caso o PS e o PCP juntos tivessem uma maioria absoluta de mandatos no parlamento, tanto Costa como Jerónimo já tinham anunciado um entendimento ao qual aderiria a reboque o Bloco de Esquerda, mas por sua iniciativa, não porque tivesse sido convidado para uma solução governativa. O problema, neste momento, e que condiciona a estratégia do PS e de Costa, tem a ver com o facto de que qualquer maioria absoluta de esquerda, no actual quadro parlamentar, qualquer solução à esquerda ter obrigatoriamente que envolver o Bloco de Esquerda claramente um partido radicalmente anti-europeísta, posição política que não é subscrito nem pelo PS, nem pelo discurso também desconfiado e anti-euro do PCP.
Lembro que PS (contando já com a previsão de mais um deputado pela emigração) terá 82 deputados (podem ser 81) contra 98 do PSD (que podem ser 97). Para uma maioria absoluta (116 mandatos)  PS e PCP juntos somarão 96 deputados o que faz com  que os 19 deputados do Bloco sejam essenciais a qualquer cenário de maioria absoluta à esquerda.
Recordemos então o que aconteceu nas Canárias nas regionais de 2011 e em 2015:
- em 2011 o Partido Popular elegeu 21 deputados contra 20 da Coligação Canária, 15 do PSOE/Partido Socialista Canário, 3 da Nueva Canárias e 1 do Agrupamento Herrera Independente-Coligação Canária. O Partido Popular foi o mais votado com 289.381 votos e 31,1% mas acabou afastado do poder devido a um entendimento parlamentar entre a Coligação Canária com  223.785 votos e 23% e o PSOE/Partido Socialista Canário com 190.028 votos e 20,4%.
- em 2015, nas eleições seguintes, a Coligação Canária-Partido Nacionalista Canário obteve 16 mandatos no Parlamento de Canárias, contra 15 do PSOE/Partido Socialista de Canárias, 12 do Partido Popular, 7 do Podemos, 5 da Nueva Canárias, 3 do Agrupamento Socialista de La Gomera, 2 da Coligação Canária-Agrupamento Independente de Hierro.
No caso do Parlamento de Canárias para existir maioria absoluta são necessários 31 mandatos, que foram conseguidos, neste caso concreto, por um acordo entre os Nacionalistas,  18 deputados e os socialistas com 15. O problema é que em votos expressos quem venceu as eleições em Canárias, em Maio de 2015, foi o PSOE com  182.006 votos, 19,5%, seguido do Partido Popular com 178.129 votos e 18,3% e da Coligação Canárias-Partido Nacionalista Canário com 164.458 votos e 17,7%. Neste caso concreto o partido ganhador das eleições acabou por protagonizar um acordo parlamentar maioritário, com base no qual foi constituído e empossado o novo governo regional, o que aconteceu em Junho deste ano. A Presidente do Parlamento de Canárias, Carolina Darias, foi indicada pelo PSOE mas foi a Coligação Canárias a indicar o Presidente do Governo Regional, Fernando Clavijo.

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