sábado, outubro 10, 2015

Costa: a palhaçada encenada para a comunicação social de quem precisa de sobreviver politicamente

O grande problema de Costa é que as pessoas (eleitores) não se esqueceram disto...

Sinceramente acho que tudo o que se tem passado em Portugal é uma palhaçada destinada a distrair as pessoas. A coligação PSD-CDS que em situações normais, depois de 4 anos de violenta austeridade e de muita arrogância, nunca poderia vencer as eleições, teve o mérito de o fazer, invertendo tudo o que eram tendências e previsões. Ao invés, o PS, que nunca poderia perder eleições legislativas, depois desses tais 4 anos de austeridade e arrogância autocrática, acabou por perdê-las e em meu entender bem e por culpa de Costa. Fez uma campanha medíocre, não estimulou as pessoas, não lhes deu esperança, não as mobilizou nem lhes transmitiu confiança. Os votos que o PS obteve resultaram, não de mérito de Costa, mas da insatisfação das pessoas que recusaram votar na coligação PSD-CDS mas que também não queriam votar à esquerda dos socialistas. Não fosse isso e Costa teria sido enxovalhado ainda mais e definitivamente neutralizado da política doméstica. Mesmo hoje, apesar de todas estas palhaçadas e encenações alimentadas pela comunicação social, Costa está mais preocupado com a sua sobrevivência política pessoal do que com a conjuntura político-governativa nacional. Por isso não se demitiu, não teve a dignidade e a coragem de o fazer, tanto mais que teve com Seguro um comportamento vergonhoso que também o penalizou nas urnas. Há pessoas, no PS ou fora dele, que não perdoam essa ambição de poder de Costa.
Já uma vez aqui escrevi que António Costa foi uma fabricação da comunicação social - tinha o que se chama "boa imprensa" a seu favor, apesar disso não ter durado muito tempo como eventualmente ele desejaria - foi Presidente da Câmara de Lisboa e comentador político num programa da SIC Notícias, foi incapaz de perceber que o seu tempo não era este e que não tinha perfil para ser primeiro-ministro. Ficou refém de uma ambição política pessoal desmesurada que acabou por ser a sua guilhotina, até porque nunca conseguiu separar-se de Sócrates e do seu legado expresso na troika, na austeridade e na falência do país. Sócrates com quem partilhou muito do seu percurso político mais recente. Além disso, e os portugueses não gostam disso, a sua sede de poder e a ambição, alimentada por uma conjuntura que os socialistas julgavam ser-lhes favorável, fez com que tivesse destronado Seguro da liderança do PS de uma forma incorrecta e indigna, depois deste ter ganho as eleições autárquicas e as europeias de Maio de 2014. Costa pressionou sempre Seguro, nunca escondeu a sua ambição de poder, e acabou por derrotar Seguro - apesar deste ter ganho as autárquicas e as europeias, que todos sabemos serem eleições atípicas, a começar pela abstenção - e acelerar a sua queda alegadamente por ter vencido as europeias com apenas um deputado a mais que a coligação PSD-CDS e sem uma diferença, de votos e percentual, que ele Costa entendia ser a exigível.
O problema de Costa - repito, impreparado, sem perfil, sem dinâmica política - é que nem uma campanha eleitoral digna desse nome conseguiu fazer, começando-a com  a barracada vergonhosa dos cartazes e do uso abusivo de cidadãos nalguns cartazes. Foi perdendo terreno à medida que a campanha evoluía no terreno, claramente penalizado por uma campanha eleitoral dinâmica, coerente, pensada, estruturada ao pormenor e apostada num discurso e numa dinâmica de vitória.
O que hoje acontece hoje, depois das eleições, é que Costa percebeu que podia chamar a si o papel de actor principal de uma telenovela de terceira categoria, limitando-se a aproveitar a publicidade que dele faz a comunicação social, independentemente do facto desse novela não passar de lixo.
Costa sabe que tem apenas uma alternativa, porque não pode contar com  o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda. Não há espaço de de
dialogo e de entendimento entre os socialistas e estes dois partidos à sua esquerda. Além disso, Costa sabe que se fosse esse o caminho que o PS escolhesse - por sede de poder e oportunismo - provavelmente passaríamos a abordar, porque era esse desígnio que seria colocado em cima da mesa, na sobrevivência do próprio PS no quadro político-partidário nacional. E nem falo na reacção dos parceiros socialistas europeus a uma opção dessa natureza por parte do PS português.
Costa tem algum espaço de manobra interno e externo? Internamente não sei. Penso que o Congresso será inevitável e que aparecerá alguém a disputar a liderança a Costa. O carreirismo politico e partidário de Costa no PS (desde os 14 anos...) pode dar-lhe alguma vantagem e capacidade de manipulação numa disputa interna. Mas resta saber até que ponto as bases socialistas, que são quem participa nas "directas" socialistas, perdoarão a Costa, quer a derrota nas legislativas, quer uma previsível derrota nas presidenciais. Julgo que a não eleição de um candidato presidencial identificado com a área política do ao PS significará o fim da carreira política de Costa. E ele sabe disso, por isso refugia-se no facilitismo cinzento de não querer apoiar ninguém na primeira volta por sonhar com uma segunda volta passível de retomar este universo eleitoral de esquerda - que foi mais votado que a direita nestas legislativas. Esse sonho pode sair furado com Marcelo na corrida.
Quanto ao actual quadro político nacional, Costa sabe que em cima da mesa estão estas alternativas:
- abster-se, viabilizando um governo PSD-CDS, depois de acordo político que permitirá a coligação ceder nalgumas das propostas mais emblemáticas do PS. Neste caso o PS apostaria apenas em ganhar tempo o que colocaria o governo de Passos-Portas permanentemente no fio da navalha à espera da sua queda na Assembleia da República;
- votar com a coligação PSD-CDS o que implicaria um acordo político muito mais amplo e no qual todas as grandes propostas socialistas teriam sido aceites. Neste caso resta saber por quanto tempo os socialistas funcioariam como o "colinho" do governo da coligação;
- votar contra a coligação PSD-CDS, seja no programa de governo, seja no orçamento para 2016, argumentando que não pode apoiar documentos e propostas governativas de direita que os socialistas sempre recusaram. Neste caso, dada a  garantia do voto contrário do PCP e do Bloco, o governo da coligação PSD-CDS cairia. Seria uma questão de tempo e a solução neste caso passaria por eleições legislativas antecipadas que poderiam nem correr bem para o PS (lembram-se de Cavaco que ganhou com maioria absoluta depois do PSD ter alcançado uma maioria simples?);

- ou será que  Costa aposta num governo minoritário socialista que passaria com o apoio parlamentar do PCP e do Bloco, partidos que não integrariam o governo para evitar reacção negativa dos mercados e a subida das taxas de juros aplicadas aos empréstimos de Portugal? Neste caso a coligação, que foi quem teve mais votos, passaria para a oposição. Mas o problema é saber durante quanto tempo o PS contaria com esse apoio parlamentar do PCP e do Bloco e quais os custos políticos e governativos que o apoio destes dois partidos significaria como contrapartidas a esse apoio.

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