domingo, outubro 11, 2015

Mania de escrever: o nosso barómetro regional semanal (2)

PAULO CAFOFO - O destaque que lhe atribuo esta semana tem a ver com a preocupação evidenciada com a mobilidade na cidade.  Acho que foram tomadas medidas que se  compreende, mas é fundamental ter em consideração que o acesso ao Funchal não é comparável ao que se passa noutras cidades europeias que porventura sejam referências em estudos prévios. Os problemas do Funchal - entre outros, os transportes de passageiros e a geografia da cidade, que condiciona fortemente o uso de meios de transportes alternativos - não se compadecem com fundamentalismos que podem depois deitar por terra boas intenções. Sugiro que esta matéria seja acompanhada de perto por Paulo Cafofo e que se perceba se os comerciantes têm ou não razão nas suas reservas já evidenciadas.
EDUARDO JESUS - O destaque dado ao secretário regional da Economia tem a ver com a atenção dada ao Porto Santo. A realidade social e económica da Ilha Dourada exige de facto uma atenção muito especial e muito presente, mas parece-me que Miguel Albuquerque está a cumprir o que prometeu a este nível. Destaco também o facto de Eduardo Jesus ter reconhecido que os 60 dias para que as pessoas recebam as verbas que porventura tenham direito na compra das viagens aéreas, é um período de tempo excessivo, tal como não compreendo que se insista na argumentação algo patética quão absurda dos cartões de crédito e nas milhas. Como se fôssemos uma região de ricaços que se podem dar a esses luxos. Conviria que não se usassem argumentos que causam a irritação às pessoas e podem borrar uma medida que, repito e insisto, tem tudo para dar certo e funcionar em pleno e com normalidade.
EDGAR SILVA - a candidatura pelo PCP de Edgar Silva à presidência da República é o reconhecimento da importância e do papel que este dirigente regional do PCP-Madeira tem realizado na região. merecidamente. O problema que coloco, neste momento, é o de saber até que ponto Edgar Silva - mas a sua capacidade política vai rapidamente ultrapassar isso - tem a popularidade junto do eleitorado do PCP e de algum eleitorado flutuante que possa votar na candidatura comunista. Com o apoio sempre importante, eficaz e experimentado, da logística do partido, Edgar Silva vai protagonizar uma candidatura à escala nacional. Aconteça o que acontecer - e tenho por Edgar Silva respeito e consideração - e independentemente dos votos que a candidatura presidencial por ele protagonizada venha a obter, a política para Edgar Silva, sobretudo no âmbito do partido, não será a mesma, não me admirando que o líder do PCP-Madeira possa ser chamado a envolver-se em responsabilidades partidárias e política à escala nacional. Desconheço se o facto de ser madeirense será suficiente para cativar o apoio de eleitores de esquerda ou mesmo mobilizar aquela parcela de eleitores que têm por hábito abster-se. Mas não deixa de ser uma candidatura merecida, inesperada, justa e que permitirá a Edgar  Silva mostrar a uma escala nacional toda a sua capacidade, poder de oratória, coerência do discurso político e forma de estar e de ver a política.
ABSTENÇÃO - depois de ter atingido nas regionais de Março deste ano um valor recorde (50,3%), a abstenção voltou, seis meses depois, agora para as legislativas nacionais a conhecer na Madeira outro recorde (51,04%) valores, ambos superiores a 50% dos eleitores inscritos, que colocam em causa não a legitimidade dos deputados eleitos, mas a sua representatividade política efectiva. E não é preciso fazer um grande esforço. O PSD obteve 37,8% dos votantes mas 18,5% dos inscritos; o PS obteve 20,9% dos votantes mas 12,23% dos inscritos; o Bloco de Esquerda alcançou 10,7% dos votantes mas apenas 5,2% dos inscritos. O total dos votos destes três partidos representou 69,3% dos votantes mas não foram além de 33,9% dos inscritos.
Não sei se o problema reside apenas nos cadernos eleitorais. Não acredito.  Há muita gente que não vai votar porque decide não votar, porque perdeu a confiança na política e nos políticos. Mas isso não invalida que se comece a pensar muito seriamente na actualização do recenseamento eleitoral feito com competência e com eficácia. Isto do menor esforço para além de gerar distorções e pôr em causa a efectiva representação dos eleitos pode ter algumas vantagens para os partidos, mas para a democracia e o sistema eleitoral não têm de certeza absoluta.
BARREIROS - A polémica em torno da utilização do estádio dos Barreiros, envolvendo o União e o antigo Presidente do Governo Regional, que usando as redes sociais (Facebook) se envolveu na discussão do tema, parece-me dispensável e não abona em nada a favor seja a favor de quem for. O problema das instalações desportivas dos nossos principais clubes é o que é. Julgo que, considerando a nossa realidade nos dias que correm, provavelmente teria sido possível que a Madeira optasse por uma outra solução, à escala regional, capaz de resolver as necessidades dos clubes e evitando o gasto de avultadas verbas na construção de recintos alguns deles sem utilização legal possível. Pondo de lado o facto de ser adepto do União e de compreender que não é estimulante ver um clube andar a mendigar local para jogar, apesar de dispor de um complexo desportivo nas serras da Camacha ainda por concluir, recomendaria que esta polémica terminasse porque não resolve rigorosamente nada. A realidade é a que é, se há culpados de decisões erradas esse assunto devia ter sido dirimido no momento próprio e no local adequado e pelas vias recomendáveis. Protelar esta discussão implicará, o que para as pessoas não é nada bom, posições radicalizadas e injustas.
JOSÉ MANUEL RODRIGUES - os resultados eleitorais de 4 de Outubro representaram para o CDS regional uma autêntica hecatombe.  Perdeu o deputado que tinha em Lisboa mas perdeu sobretudo quase 12 mil votos comparativamente às legislativas de 2011. E tudo isto depois de uma campanha eleitoral disputada com base em muita encenação. Penso que o erro do CDS foi o de continuar a pensar que as campanhas eleitorais dirigidas sobretudo à ocupação dos espaços mediáticos são suficientes ou que levar meia dúzia de militantes de um  lado para outro, com bandeiras, camisolas e muito colorido é suficiente e dá votos. Admito que isso tenha resultado no passado recente, mas nas regionais de Março, apesar de ainda ter sido o 2º partido mais votado, o CDS terá recebido sinais de que seria preciso alterar alguma coisa.
Julgo que o principal erro de José Manuel Rodrigues que acabou por tomar a decisão adequada - embora provavelmente excessivamente radical - centrou-se em duas linhas: a tentativa de passar por entre os pingos da chuva, procurando vender erradamente aos madeirenses a ideia de que não tinha nada a ver com a governação nacional do PSD-CDS, quando teve, tal como o PSD regional teve e não fugiu a ela. As pessoas não aceitaram isso e provavelmente não acreditaram e penalizaram essa teoria peregrina. Uma segunda questão, embora com impacto mais urbano, teve a ver com a estrutura da lista de candidatos com a desnecessária chamada de dois deputados regionais - um deles sem qualquer mais-valia eleitoral, opção que deu a ideia que o CDS tem um limitado campo de escolha de pessoas o que não me parece correcto - mas sobretudo com o "saneamento" mal explicado de Rui Barreto que saiu por cima, claramente por cima, neste mandato que desempenhou em Lisboa. Não me parece contudo que o CDS, enquanto partido, por muito agastado que José Manuel Rodrigues esteja, e disseram-me que sim, possa dar-se ao luxo de aceitar o abrupto abandono da política activa do seu ainda Presidente e não se mobilize para que isso não aconteça e lhe reserve um lugar na futura estrutura dirigente a ser eleita em Congresso. Seria justo e adequado. O que aconteceu agora ao CDS já aconteceu no passado com outros partidos e outros dirigentes.
BLOCO DE ESQUERDA - Nas eleições regionais de Março deste ano, o Bloco de Esquerda - que foi obrigado a uma travessia do deserto, sempre penosa, depois de ter sido afastado do parlamento regional nas eleições de 2011 - regressou em força à Assembleia Legislativa e logo com  um grupo parlamentar (2 deputados).
Mérito indiscutível para a persistência, para o discurso político, para os temas escolhidos na ocupação do espaço mediático que foi destinado ao Bloco nestes quatro anos de "secura" parlamentar regional. Mérito para Roberto Almada que era a figura do Bloco quando foi afastado do parlamento e que se manteve em funções, acabando por ser a figura principal quando o partido regressou quatro anos depois ao parlamento. Obviamente que o destaque ganho pelo Bloco no quadro da coligação autárquica no Funchal, onde acabou por assumir a liderança da Assembleia Municipal, também representou uma mais-valia que não pode ser escamoteada. Nas legislativas deste ano o Bloco, a par dos méritos próprios - a que se junta o cabeça-de-lista, uma figura não conhecida, que aderiu recentemente ao partido mas que acabou por corresponder totalmente ao que dele era esperado, acabando por ter também um contributo importante na votação obtida - beneficiou e muito da campanha eleitoral realizada pelo Bloco à escala nacional e particularmente da forma como a sua líder, Catarina Martins conseguiu impor-se, não apenas nos debates televisivos, mas na utilização do espaço propiciado na comunicação social para fazer passar a sua mensagem aos eleitores. Com mais de 13 mil votos o Bloco conseguiu na Madeira o maior resultado de sempre, aumentando quase 8 mil votos relativamente às legislativas de 2011 e cerca der 9 mil votos comparativamente às regionais de Março deste ano. A grande surpresa das eleições, na Madeira e a nível nacional. Resta saber se um feito meramente pontual ou se para manter.

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