E António Costa? Lamentável. Revela-se um político desonesto, oportunista e tachista. Tal como fez com Seguro, afastando-o da liderança do PS depois dele ter ganho duas eleições, o desenvergonhado Costa perdeu as eleições legislativas, levou um porradão da coligação e agora quer o poder e o tacho por via da secretaria. Independentemente de ter ou não condições para liderar um governo de esquerda, Costa é um derrotado que se tivesse tido um pingo de vergonha e alguma dignidade, tinha apresentado a demissão na noite de 4 de Outubro. Não fez isso. Optou por protagonizar esta palhaçada que ele sabe, melhor do que ninguém, que não passa de uma encenação idiota, porque não vai haver governo nenhum de esquerda por clara incompatibilidade ideológica e programática entre os alegados protagonistas. Costa não disse aos eleitores, antes das eleições, que ia fazer isso, pelo que se o fizer agora limita-se a abandalhar a política e a dar dele uma ainda mais triste figura do que é um tachista e oportunista.
Repito, se Costa tivesse aberto o jogo, se tivesse jogado limpo antes das eleições - depois de ter andado uma campanha eleitoral a atacar PCP e Bloco e a criticá-los por só atacarem os socialistas - e se depois de 4 de Outubro tivéssemos este cenário, tudo o que ele anda agora a fazer tinha que ser aceite e compreendido, independentemente de tudo o que possa acontecer e venha a ser o desfecho de tudo isto.
Se Costa tivesse revelado que, caso não alcançasse a desejada maioria absoluta, e que caso existissem condições parlamentares para o fazer, ele tentaria promover um governo com apoio parlamentar do PCP e do Bloco de Esquerda, tudo tinha razão de ser.
Contudo, com um PS dividido e desejoso, no caso de alguns sectores, de ajustar contas com Costa, pelas derrota vergonhosa mas devido à forma como tomou de assalto, desonestamente, a liderança do partido, depois de ter andado dois anos a boicotar a liderança de Seguro com base na intriga e nos jogos rafeiros e rasteiros de grupinhos, ele poderá estar a cavar a sua sepultura política.
Costa não se demitiu na noite de 4 de Outubro por desonestidade intelectual, por uma lamentável falta de dignidade e por ter medo. Medo de que, privado da liderança da Câmara de Lisboa que manteve mesmo depois de ter sido eleito líder socialista, e afastado da liderança do PS depois de derrotado e enxovalhado apesar destes 4 anos de vergonhosa austeridade e sofrimento, fique sem nada, ou seja, termine sem honra nem glória uma carreira política que assentou no carreirismo partidário, nos "padrinhos" (um dos quais, quiçá o mais importante, foi Sócrates que ele agora nem conhece...) e no charme junto da comunicação social.
Vamos a factos:
- o PS elegeu 80 deputados (deverá ter mais 1 ou 2 pela emigração);
- obteve 1,87 milhões de votos (um aumento inferior a 200 mil votos comparativamente a 2011), contra 2 milhões da coligação (que perdeu mais de 700 mil votos - para onde foram?!) e não foi além de 32,4% contra 36,8% do PSD-CDS;
- levou uma banhada à esquerda pelo Bloco, com mais de 500 mil votos, 10% e 19 deputados e do próprio PCP com 440 mil votos, 8,3% e 15 deputados;
- considerando os distritos e regiões autónomas o PS de Costa foi derrotado em Aveiro, Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Leiria, Lisboa, Porto,Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Madeira, tendo superado a coligação nos Açores (neste caso apenas o PSD), Portalegre, Faro, Évora, Castelo Branco, e Beja. É este PS que tem legitimidade para governar o país depois de ter sido derrotado e do seu líder enxovalhado?
- será que Costa não se demitiu porque, ambicioso e sedento do poder pelo poder custe o que custar, já tinha em mente protagonizar esta encenação toda, enganando os seus próprios eleitores (quantos dos que votaram no PS votariam no PS se Costa tivesse dito que faria uma coligação com o PCP e o Bloco?) e tentar pressionar a coligação para ganhar espaço mediático que ajudasse a disfarçar o facto de ter sido o grande derrotado das eleições legislativas de 4 de Outubro?
Pelos vistos a este Costa tachista e ambicioso falta muita coisa além da dignidade e da ética política.
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