quarta-feira, novembro 25, 2015

Mania de escrever: Coligação de direita deve parar para pensar e procurar saber se a traiva e o ajuste de contas são o melhor caminho

Muito sinceramente, perante o elenco governativo anunciado por Costa, acho que a primeira coisa que se deve recomendar a Passos e  Portas é que contenham a raiva e comecem a pensar muito a sério, e de forma muito pragmática, no tipo de oposição que vão desenvolver, no discurso político que vão utilizar e como vão recuperar a imagem negativa que hoje têm junto das pessoas, fruto da austeridade, e que está longe, muito longe, da teoria que tentaram (e tentam) vender de que têm o apoio e os portugueses ao seu lado. Quanto muito, para colocarmos tudo em pratos-limpos, tiveram o segundo pior resultado em termos totais de votos entre 1999 e 2015. Se quisermos extremar a apreciação direi que PSD e CDS totalizaram este ano 38,5% dos votantes,  votação que correspondeu a 21,4% dos inscritos e a pouco mais de 19% da população portuguesa registada em finais de 2014. Ora empolar isto exageradamente, dar a ideia de que têm uma legitimidade eleitoral e popular que de facto se expressa pelos números que atrás referi, a que se junta a perda, entre 2011 e 2015 de 25 mandatos são realidades que dispensam mais comentários e prescindem que nos obriguem a ter que ouvir a mesma lenga-lenga durante anos a fio. Já chega.
Explico.
Todos sabemos o que se passou nestes quatro anos de austeridade; todos sabemos que subsiste a dúvida sobre se a amplitude da austeridade e a velocidade imposta, tiveram ou não algo a ver com, por um lado com a tal "almofada" financeira de que tanto falam, conseguida à custa da roubalheira dos portugueses e das empresas, dos salários e das reformas e pensões, bem como, e também, com a previsão do "timing" eleitoral das legislativas-2015 e com a necessidade da coligação no PSD-CDS ter alguma coisa que oferecer e um melhor espaço de manobra para se movimentar.
Todos sabemos que constitucional e formalmente tudo o que se passou no quadro da Assembleia da  República foi legal e democrático.
Já sabemos que na óptica da coligação de direita o problema mantém-se a discussão em torno da necessidade de respeitar, sim ou não, da tradição - o que é isso em política?! - como se houvesse alguma obrigatoriedade nisso e na observância de valores abrangidas pelo conceito de ética política, mas que que infelizmente vagueia ao sabor do vento, conforme os interesses dos políticos e dos partidos. Já sabemos tudo isso. O que é que isso contribui para a nossa felicidade colectiva? Em nada, zero.
Poiares Maduro
O  ex-ministro de Passos e Portas, Poiares Maduro colocou o dedo na ferida: o Governo cessante teve um discurso público muito a favor do ajuste e do memorando de entendimento, o  que teve consequências. Teve custos políticos elevados associados à defesa  dessa austeridade. Pelo menos este ex-ministro teve a  sinceridade, a honestidade e a ética política de reconhecer algo que Passos e Portas deviam ter a sabedoria, que não têm para reconhecer.
Novo elenco
O novo elenco de Costa é politicamente forte. Tem vulnerabilidade, devido a ligações com o passado recente da governação socialista - caso de vários ministros de Socrátes que voltam agora ao governo - embora desconheça se isso fragiliza tanto o PS em termos políticos e eleitorais como porventura alguns sustentam. Não tenho tanta certeza no alegado desgaste eleitoral que o legado e os protagonistas do socratismo causem ao PS.
O governo de Costa tem nomes fortes, com experiência, que garantem uma forte componente política - porventura mais forte que a do anterior governo onde, ressalvando Passos, Portas e um ou outro ministro, imperava a tecnocracia cinzenta e não a política propriamente dita - temos alguns ministros novos, pouco ou nada conhecidos, mas de uma maneira geral parecem ser nomes fortes, pelo menos em termos curriculares, etc. O que obviamente não faz obrigatoriamente um bom ministro. Tem ainda uma nova classe política, mais jovem, que garante a Costa óbvia capacidade de combate político que pode ser desgastante para PSD e CDS. No parlamento o PS já se preparou para enfrentar Passos e Portas.
Coligação de direita deve parar para pensar, rapidamente

Repito, acho bem que o PSD e o CDS rapidamente assumam uma postura diferente da raiva e da deriva radicalista que estão a evidenciar. Porque não há nada a fazer, neste momento. Quanto muito há que esperar e esperar tranquilamente - sem gerar distanciamento por parte dos eleitores - para perceber se as divergências poderão surgir ou não pondero em causa a sincronização parlamentar que sustenta nesta maioria de esquerda. Já escrevi, e mantenho e repito, que não acredito que tanto PCP como o Bloco - só falo de coisas importantes e realidades concretas - ponham em causa o entendimento porque tenho quase a certeza absoluta que eles o que não querem neste momento, tal como o PS, são eleições antecipadas. Ou seja, temo que a coligação de direita possa estar a contar com uma crise a curto prazo à esquerda que dificilmente poderá ocorrer. Tal como não acredito numa atitude unilateral e sem fundamento do futuro PR, caso ele seja Marcelo, porque as coisas não funcionam assim. PSD e CDS correm o risco - além de pessoalmente achar que Portas e Passos na oposição podem desgastar o PSD e o CDS e prejudicar os dois partidos sobretudo caso o governo socialista tenha sucesso na aplicação das medidas anunciadas - de enfrentar uma primeira linha parlamentar socialista, profundamente política, altamente combativa, pouco ou nada tolerante, com um discurso político radicalizado e que provavelmente vai gerar dificuldades complexas.
Os "jovens turcos" socialistas e a "guarda pretoriana" do PCP e Bloco
Carlos César não é propriamente um radical de esquerda mas politicamente é forte e vai colocar problemas à coligação de direita. Catarina Mendes, mais discreta, dará um toque de alguma tranquilidade ao discurso político que encontra em João Galamba maior violência e mais contundência. A estes juntam-se no governo o promovido Pedro Nuno Santos. E nem falo na "guarda pretoriana" que PCP e Bloco rapidamente colocarão no campo de batalha, sempre que for necessário. Os chamados "jovens turcos" do PS de Costa, num contexto de confronto político entre "pombas" e "falcões" convidam a coligação de direita, em vez de insistir no erro de acreditar que tudo continua como antes - a manutenção de Nuno Magalhães e do líder do PSD, Luís Montenegro, é disso exemplo, quando já ninguém tem pachorra para os aturar depois do desgaste sofrido nestes quatro anos e do vazio de ideias e de discurso que agora exibem, não passando de banais vozes do dono nos respectivos partidos, são disso dois tristes exemplos num tempo novo no qual se exigem mudanças - a fazer mudanças.
Montenegro e Magalhães deviam demitir-se porque nada continua como antes
Considero por isso que Montenegro e Magalhães deveriam, apresentar a demissão das funções de líderes parlamentares, porque não me parece que neste tempo novo, e ainda por cima do Passos e Portas na bancada dos deputados - ambos não podem ser líderes parlamentares, como é evidente, pois isso seria "pior a emenda que o soneto"- eles sejam as pessoas indicadas para um tempo novo que inevitavelmente se coloca ao PSD e do CDS.

Tenho muitas dúvidas, para não ir mais longe, que a continuidade de Magalhães e Montenegro, com CDS e PSD na oposição - diferente seria se continuasse a maioria absoluta na Assembleia da República - representar qualquer mais valia política e eleitoral para CDS e PSD. No caso do PSD acho que é temo de adoptar uma progressiva autonomização de procedimentos, de discurso e de postura. O PSD ganhou as eleições em 2011, bem sei que a reboque dos efeitos da crise, mas pelo seu mérito próprio e não por ir colado ao CDS ou a reboque deste. Isso te-lo-ia prejudicado como claramente prejudica hoje e prejudicou todo o processo negocial recente que Cavaco acreditou tivesse sido possível entre PSD e PS. Com o CDS do "snipper" Portas sentado à mesa tal entendimento nunca seria possível. Nunca. Portas percebeu isso tarde demais, quando  prescindiu do lugar de vice-primeiro-ministro para o mesmo fosse dado a Costa. Fê-lo tarde de mais e de forma tonta, porque o que Costa nunca faria era receber qualquer cargo por oferta de Portas. Nunca.
Prego no caixão? Passos e Portas chegarão aos Congressos com as mãos vazias e rodeados da dúvidas pobre se serão ou não mais-valias para os partidos
Espero muito sinceramente que quando chegarmos a uma conjuntura política - se é que chegaremos lá nesta Legislatura, tal o temor da esquerda desse desfecho - em que as eleições antecipadas possam ser um cenário inevitável, algo para ocorrer daqui a um ano ou mais, que PSD e CDS percebam, tarde demais, que provavelmente o pior que lhes pode acontecer será a convocação de eleições antecipadas. Para memória futura deixo esta nota porque assim, quando for o tempo para isso, posso sempre recordar tudo o que hoje estou a escrever. E repito: espero que a estabilidade política que o PS seja capaz de construir com os seus parceiros da esquerda, a par da aplicação de medidas de inversão da austeridade radical e criminosa a que nos sujeitamos nestes últimos quatro anos, não venha a constituir um pesadelo e uma espécie de primeiro prego no "caixão" que PSD e CDS parecem querer transportar cedo demais. E sublinho: se o PS conseguir tranquilizar a vida política e for capaz, já em 2016, alguma inversão controlada e calculada junto dos cidadãos, de algumas das medidas propostas, acho que é altamente recomendável que o PSD e o CDS entendam, de uma vez por todas, se manter Magalhães, Montenegro e também Passos e Portas, mais do que ter custos políticos elevados e irreversíveis - repito, neste cenário de controlo político por parte do PS - pode ou não ser uma espécie de princípio do fim dos dois partidos. Não podemos julgar que as pessoas vão tolerar personagens que estão desgastadas e que estão associadas à austeridade (veja-se as declarações sábias de assertivas de Poiares Maduro) o que explica que não tenham sido sequer capazes de garantir a tão desejada maioria absoluta. Perder 700 mil votos e 25 deputados não é propriamente uma grande vitória, diga-se em abono da verdade, é quanto muito uma vitória de Pirro e uma mancha que não pode passar despercebida aos congressos dos dois partidos cujas lideranças ali chegarão com uma mão vazia e outra cheia de coisa nenhuma. E provavelmente com um discurso de queixume que não interessa a ninguém

Respondam por favor
Expliquem-me por favor uma coisa:
- quando o governo do PS levar ao parlamento medidas concretas que vão beneficiar os cidadãos - por exemplo os reformados, os pensionistas, os funcionários públicos, etc - a aliança de direita vai votar contra essas propostas? Qual o custo eleitoral e político decorrente dessa decisão a curto e médio prazo? Como é que vai pedir depois os votos aos beneficiários dessas medidas do governo do PS contra as quais PSD e CDS votaram?!
- vai o PSD - mesmo que isso ocorresse em coerência com tudo o que lamentavelmente aconteceu nos últimos quatro anos - continuar uma deriva cega para a direita, esvaziando cada vez mais o centro, em vez de começar a inverter essa tendência e afastar-se do CDS, reaproximando-se do centro da vida política portuguesa que abandonou quando decidiu ser mais um partido de direita e abandonar a social-democracia? Continuo a não me rever num PSD de direita, muito menos num PSD dependente do CDS, refém de Paulo Portas (veja-se o que se passou com a demissão irrevogável, veja-se o que se passou agora com a distribuição dos deputados que deram ao CDS 18 lugares que nunca, repito, nunca teria, nem coisa que se pareça, caso tivesse concorrido sozinho).

- vão PSD (que já anuncia um passo nesse sentido ao adiar o Congresso para Abril) e CDS pressionar o futuro presidente da República, caso seja Marcelo Rebelo de Sousa, em concreto, a comprometer-se antes das eleições com a dissolução da Assembleia da República e convocação de eleições? Mas isso não depende de uma eventual crise política? Não depende de uma crise decorrente de ter sido posta em causa o entendimento da plataforma de esquerda que apoia este governo do PS em vias de ser empossado? Será que PSD e CDS vão adoptar uma atitude política de patetas mimados, enxovalhando MRS, destruindo a possibilidade dele ser eleito logo à primeira volta - aproveitando a dispersão dos candidatos da esquerda - já que numa segunda volta, com uma esquerda unida e mobilizada tenho muitas dúvidas (lembram-se de Soares que arrancou com 6%? Lembram-se do que se passou com  Freitas do Amaral? Parece que não apreenderam a lição) (LFM)

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