sábado, fevereiro 27, 2016

Opinião: "O descaramento de Ricardo Salgado"

Imaginemos um professor de Matemática que tem quatro turmas em que 99 por cento dos alunos não têm aproveitamento; imaginemos um engenheiro que concebeu mal uma ponte e esta ruiu; imaginemos um treinador que levou equipas boas à descida de divisão; imaginemos médicos que deixam marcas negativas nos pacientes que operam; imaginemos advogados que perdem todas os processos que defendem; podíamos continuar a dar muitos mais exemplos.

Mas como reagiríamos se esses mesmos profissionais viessem, uns tempos depois, acusar quem lhes sucedeu? Acharíamos, seguramente, estar perante um caso de difícil compreensão, para não dizer outra coisa.
Pois bem, o que fez esta semana Ricardo Salgado quando foram apresentadas as contas de 2015 do Novo Banco? Veio a público acusar o governador do Banco de Portugal, esquecendo-se de que estamos a falar do antigo BES, que ele deixou num estado bem perto do abismo. Como é possível que alguém que destruiu a vida financeira de milhares de pessoas, que prejudicou o país gravemente, que deixou buracos injustificáveis de milhares de milhões de euros ainda se arvore em dono disto tudo? Não haverá decoro e noção do ridículo para os lados de Cascais? Salgado até pode dizer que não foi o único responsável pelo desastre chamado BES, e acreditamos que sim. Mas o banqueiro a que todos prestavam vassalagem era o responsável máximo da instituição. Indiferente a tudo, Salgado continua a guiar-se pelos seus ódios de estimação, aproveitando a boleia dos partidos que sustentam o governo, que querem a cabeça de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal
Digamos que esta tática nova só é surpreendente porque Ricardo Salgado está a contas com a justiça e o seu processo está longe do fim. Talvez seja por isso que quer confundir as mentes menos atentas, atirando para cima de Carlos Costa as responsabilidades do colapso do BES, que Salgado diz agora que era mais fiável do que o Novo Banco. Extraordinário (texto de Vítor Rainho, Jornal  I, com a devida vénia)

Sem comentários: