quinta-feira, março 17, 2016

Jornalismo: Jornal venezuelano com 82 anos deixa de circular por falta de papel para imprimir...

O jornal venezuelano El Carabobeño, fundado há 82 anos e um dos mais importantes do país, despediu-se hoje dos leitores na sua última edição impressa, depois de o Governo se ter recusado a responder aos pedidos de abastecimento de papel. "Hoje está a concretizar-se um vil 'zarpazo' (golpe de asa) contra um dos mais sagrados direitos do ser humano: O direito a estar informado", afirma o jornal, crítico do Governo venezuelano, na primeira página.
Por outro lado, o editorial explica que "chegou o impensável dia em que o El Carabobeño põe fim às suas edições impressas", o que "é o resultado de um enfrentamento entre a verdade e o direito que tem a cidadania de estar informada e um Governo que chegou ao poder através da malícia e o engano para administrar o erário nacional e as instituições como melhor lhe convém". "A agonia tem sido longa e dolorosa. Esgotaram-se as gestões na procura de atribuição (autorização para aceder) de divisas (dólares) a El Carabobeño, para pagar dívidas pela matéria-prima adquirida no estrangeiro", explica o diário, fazendo alusão ao sistema de controlo cambial que vigora desde 2003 no país e impede a livre obtenção local de moeda estrangeira. O jornal acusa a empresa estatal Corporación Alfredo Maneiro (criada pelo Governo para distribuir o papel para os jornais) de "negar" a quota de papel que legalmente lhe correspondia. "Tem sido uma perseguição a uma empresa que, desde a sua fundação, em 1933, nunca temeu os ocupantes do Palácio (presidencial) de Miraflores, nem sequer ao tirano Juan Vicente Gómez (ditador que governou a Venezuela entre 1908 e 1935), que mandou para o exílio, em Cuba, o nosso diretor fundador, Don Eládio Alemán Sucre", lê-se no texto. No longo trabalho de primeira página, o jornal afirma que "a Venezuela não é um país livre nem democrático, pelo que a liberdade de expressão e de imprensa são direitos expropriados".
"Hoje despedimo-nos, mas é só um até logo. Sabemos que voltaremos. Não se pode acabar uma história de 82 anos pelo simples capricho de uns governantes soberbos e antidemocráticos. Voltaremos para continuar a exercer o jornalismo com honestidade e com as liberdades que este país merece. Ver-nos-emos muito em breve", afirma. Em janeiro de 2016, a ONG Expressão Livre (EL) denunciou que dezenas de jornais da Venezuela estão em dificuldades devido à falta de papel e chapas para impressão, alertando que "a maioria" dos diários venezuelanos estão em vias de "encerramento técnico". A EL responsabiliza o Governo pela situação por não autorizar que as empresas acedam a dólares para pagar as importações, na sequência do controlo cambial que desde 2003 vigora no país e impede a livre obtenção local de moeda estrangeira (Lusa)

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