quarta-feira, abril 06, 2016

Assembleia da República: Parlamento e partidos não se entendem na repartição da subvenção eleitoral

Seis meses depois, metade da subvenção eleitoral relativa às legislativas de Outubro, que devia ser paga pela Assembleia da República aos partidos, ainda não saiu dos cofres do Parlamento e o processo ameaça prolongar-se. Porque o gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues e os partidos políticos não se entendem quanto à fórmula de cálculo para fazer a distribuição de uma fatia de um quinto da subvenção, no valor de quase 1,4 milhões de euros. Para tentar ultrapassar o impasse, o presidente da Assembleia da República pediu na passada semana um parecer ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República.
Os serviços jurídicos do Parlamento entenderam que os 20% da subvenção que a lei manda serem distribuídos pelos partidos que elegeram deputados devem ser a dividir por sete – PSD, PS, BE, CDS, PCP, PEV e PAN -, enquanto o PS defende a interpretação da lei aponta para que os que concorrem em coligação devem ser contados como apenas um beneficiário. “É a primeira vez que, ao arrepio de uma prática de décadas, se prejudicam os partidos que concorrem de forma individual e se beneficia os que concorrem em coligação”, queixa-se o socialista Luís Patrão.
Pela lei, as forças políticas que concorram a, no mínimo, 51% dos lugares a sufrágio e obtenham alguma representação, podem candidatar-se a uma subvenção eleitoral para as despesas da campanha. Esta é composta por um orçamento definido por lei: 20 mil salários mínimos nacionais de 2008, (426 euros), mas reduzido em 20% até final deste ano. Ou seja, um bolo total de 6,816 milhões de euros. É um quinto disso (1,363 milhões) que é distribuído de forma igual pelos que concorrem a mais de 51% dos lugares e os restantes 80% distribuídos proporcionalmente aos resultados pelos que elegeram.
Ora, foi nesse quinto que a polémica se instalou. Em finais de Outubro, na sequência da publicação dos resultados oficiais das eleições, os partidos começaram a pedir ao gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues a primeira metade da subvenção como a lei prevê. E os valores que lhes chegaram não correspondiam às contas que previamente tinham feito – pelo menos no caso do PS, contou ao PÚBLICO Luís Patrão, o responsável financeiro do partido do Largo do Rato. Eram inferiores em pelo menos 120 mil euros, 80 mil dos quais directamente relacionados com a diferença entre dividir os perto de 1,4 milhões de euros por cinco (três partidos e duas coligações) ou por sete (partidos).
Quando tentaram receber o resto da subvenção, os socialistas perceberam que, afinal, a divisão dos 1,363 milhões de euros ia ser feita por sete (194 mil euros para cada) em vez de cinco (272,6 mil euros). E reclamaram formalmente. No gabinete de Ferro Rodrigues, a decisão fora tomada com base num parecer da auditora jurídica do Parlamento, que reiterou o seu entendimento e que sugeriu que se pedisse o parecer ao Conselho Consultivo da PGR. Ao PÚBLICO, o assessor de imprensa do presidente da Assembleia disse estarem a ser “percorridos todos os passos administrativos e legais para chegar a uma decisão final”. Ainda que não haja prazos para estes passos, o pedido à PGR foi feito “com carácter de urgência”, vinca o gabinete.
Sozinhos na Madeira
Como o PSD apenas se candidatou sozinho aos lugares dos círculos da Madeira e dos Açores - 11 deputados no universo de 230 - isso não chega para ter direito à subvenção pública (a tal que, segundo a lei, implica concorrer a, no mínimo, 51% dos lugares sujeitos a sufrágio). A mesma coisa para o CDS, que só concorreu sozinho na Madeira, a seis deputados (nos Açores coligou-se ao PPM). À luz da lei, o PSD e o CDS arriscam-se a não receber qualquer subsídio para pagar as despesas da campanha das legislativas nas regiões autónomas – os sociais-democratas gastaram 185 mil euros para conseguirem cinco lugares, e os democratas-cristãos terão gasto 150 mil euros sem eleger ninguém. António Carlos Monteiro, que geriu a pasta financeira das legislativas do CDS-PP, disse ao PÚBLICO que a distribuição da fatia de 20% da subvenção de igual forma por todos os que elegem é o que decorre da lei, que não se refere a coligações mas sim a partidos. O entendimento do CDS-PP é que as contas estão correctas quando se colocam todos os partidos em pé de igualdade e que as críticas do PS não fazem sentido, vincou António Carlos Monteiro. Não foi possível obter um comentário do PCP, que concorre coligado com o PEV. Haverá partidos que nem sequer vão entrar nesta disputa já que não têm despesas de campanha suficientes para chegarem a precisar desta parte da subvenção. O PS, no entanto, tinha um orçamento de 2,6 milhões de euros e a coligação PSD/CDS de 2,8 milhões (texto da jornalista do Público, MARIA LOPES)

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