quarta-feira, abril 06, 2016

Opinião: "Assim, não" (Rui Rio)

Há quase dois meses acordei com a TSF que, quando a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif iniciasse os seus trabalhos, eu daria uma entrevista sobre o tema. Um tema que tenho analisado e que considero de uma gravidade extrema e bem ilustrativo da perigosa evolução que a nossa sociedade está a tomar. É, por isso, em minha opinião, um verdadeiro serviço cívico ajudar a esclarecer o povo português sobre o que de desastroso se passou.

Foi assim que surgiu esta entrevista integralmente sobre o Banif e que, apenas nos seus minutos finais - porque estávamos na semana em que se ia realizar o Congresso do PSD - os jornalistas resolveram perguntar-me por que é que eu lá não ia. Não fui politicamente correto, ou seja, não fui hipócrita e respondi com absoluta sinceridade: "não vou porque me arrisco a ser uma figura central do Congresso e não quero isso." Não quero dar azo a que se fabriquem as mais diversas notícias e comentários, inventando lógicas políticas inverosímeis e bem longe da verdade; como ainda recentemente aconteceu nos meses anteriores às eleições presidenciais, em que 90% das "notícias" publicadas, sobre mim, nada tinham de adesão à realidade e obedeciam apenas à mera especulação jornalística.
O facto de não ter ido a este Congresso do PSD está, aliás, na linha do que sempre aconteceu; fui a todos os congressos em que tinha um qualquer cargo partidário, e, portanto, a obrigação de lá estar, e, por acaso, até nunca fui a nenhum congresso quando era simples militante de base como agora acontece desde 2010.
Na entrevista à TSF não teci críticas ao líder do partido, porque não seria eticamente correto fazê-lo, uma vez que não tinha procurado ser eleito delegado ao Congresso para, assim, ter direito a estar presente e fazê-las onde elas, em primeiro lugar, devem ser feitas. Isto, apesar de muito dos que lá estiveram e me terem maldosamente criticado por críticas que não fiz, terem - eles sim - um triste historial neste tipo de matéria.
Foi, por isso, feio, muito feio, ver congressistas com efetivas responsabilidades políticas inventarem o que não existiu para, assim, me procurarem denegrir ou, dito de outra forma, procurarem exorcizar um fantasma que criaram no seu imaginário e os aterroriza; e do qual, pelos vistos, não se conseguem libertar. Não foi politicamente sério e, muito menos, sintoma de vitalidade partidária, ouvir algumas mentiras que, misturadas com pequenos fragmentos de verdade, tiveram como único objetivo entrar por um caminho politicamente muito pouco nobre e, até, de alguma cobardia. Fiquei triste ao ouvir uma pessoa pela qual tenho consideração pessoal, como Pedro Santana Lopes, insinuar que eu não fui ao Congresso para não ofuscar o líder, quando ele sabe que eu nunca disse tal disparate e que essa postura, pura e simplesmente, não joga com a minha maneira de ser. Como também me penalizou ouvir o secretário-geral Matos Rosa, pessoa que não conhecendo muito bem tenho em boa conta ética e moral, dizer com injusta ironia que eu revelo grande humildade. Quem me conhece e está de boa--fé sabe que eu sou o contrário disso. Alguns outros tiveram idêntico comportamento, mas desses nada haverá de muito diferente a esperar.
Ao contrário do que procuraram fazer crer, e apesar de eu não concordar com alguns aspetos da gestão partidária que tem sido feita nos últimos anos, ninguém me tem ouvido tecer grandes críticas públicas. Hoje, sim, digo claramente que não me revejo neste tipo de atuação que aqui refiro e que, infelizmente, alguns responsáveis do meu partido tiveram neste Congresso.
Parece-me, aliás, preocupante que eu tenha recebido múltiplas felicitações pela minha entrevista à TSF, dentro e fora do partido, e que, ao invés, a mesma matéria tenha sido elemento de forte crítica por elementos mais enraizados na estrutura partidária. Não deveria, em boa verdade, tal fenómeno ser motivo de reflexão interna quando nos questionamos sobre o divórcio entre os partidos e a sociedade?
Aqueles que da minha ausência fizeram um tema central do Congresso acabam, na prática, por dar razão à minha razão ao ter optado em não estar presente. Se, para eles, fui tão relevante ao não estar, como não teria sido se eu lá tivesse estado. Não teria havido palavra minha que não tivesse tido mil e uma interpretações e mil e uma especulações, ou seja, justamente, o que eu não queria. Assim, não! (texto de Rui Rio, Economista, publicado no Jornal de Notícias, 4 de Abril de 2016, com a devida vénia)

Sem comentários: