A Caixa foi a principal destinatária dos depósitos que saíram do Banif,
seguida do BCP. Santander surge em terceiro lugar com 14%, valor que subiu na
semana que antecedeu resolução e compra do Banif. Dados enviados pelo Santander
Totta à comissão de inquérito parlamentar ao Banif revelam qual foi o destino
da fuga de depósitos que o banco sofreu no último ano antes da resolução. A
Caixa Geral de Depósitos foi a principal destinatária da ordem de transferências,
com 21% do total, seguida do BCP, que recebeu 18% do dinheiro que saiu do
Banif. Em terceiro lugar surge o Santander Totta com 14% das transferências
totais realizadas entre dezembro de 2014 e dezembro de 2015 e que totalizaram
cerca de 1.764 milhões de euros.
Os números agora remetidos pelo banco que comprou Banif mostram contudo
que na semana fatal para o banco, a tal que levou à fuga de cerca de mil
milhões de euros de recursos de clientes, o Santander Totta recebeu um quinhão
superior das transferências em relação à percentagem registada até então e que
rondava os 11%.
Cerca de 162 milhões de euros, o equivalente a 16% do total das saídas,
foram parar ao Santander Totta. Esta percentagem é um pouco superior à quota de
mercado do banco de capitais espanhóis que veio a comprar o Banif já em fase de
resolução. Números que deverão ser usados para questionar o presidente do
banco, António Vieira Monteiro, na audição desta quarta-feira na comissão parlamentar
de inquérito.
Entre 14 de dezembro e 18 de dezembro, ou seja nos dias que se seguiram
à notícia da TVI e até à resolução do banco, o Banif perdeu cerca de 1.030
milhões de euros em fundos, entre cheques e transferências, para outros bancos.
O valor é ligeiramente superior aos 960 milhões que já tinham sido revelados
pelo Banco de Portugal, uma fuga atribuída sobretudo ao impacto da notícia dada
pela TVI no domingo à noite (13 de dezembro) que na sua primeira versão admitia
o encerramento do banco, a sua integração na Caixa e perdas para depositantes
acima de 100 mil euros.
Saída de fundos acelerou na última semana de vida do Banif
Os números revelam também que o ritmo de saída de fundos para o
Santander subiu na última semana do Banif. Por esta altura, e segundo
testemunhos do ex-presidente Jorge Tomé, alguns clientes do banco na Madeira
terão sido “convidados” por gestores do Santander Totta a transferir o seu
dinheiro para este banco. Esta informação foi já desmentida pelo banco, mas
será certamente levantada durante a audição a António Vieira Monteiro.
Mas a mesma tendência aconteceu com a Caixa Geral de Depósitos, o banco
público que é visto tradicionalmente como um banco de refúgio em crises
bancárias. Também se poderá argumentar que o Santander Totta, pelos resultados
positivos dos últimos anos e a solidez do seu acionista, é visto como um
destino seguro.
A CGD recebeu 25% das transferências na semana decisiva para o Banif,
acima do valor global de 21%, mas ainda assim abaixo daquela que será a sua
quota de mercado nos depósitos. O BCP manteve a percentagem de 18% dos fundos
que saíram do Banif.
Estes dados têm por base informação remetida ao Santander Totta pela
Oitante, veículo que ficou com os ativos que o banco de capitais espanhóis não
quis comprar. Ao longo de 2015, “fugiram” 1.764 milhões de euros do Banif, mas
o grosso destas transferências, mais de 50%, concentra-se nas últimas semanas
de dezembro: 1.030 milhões de euros entre 14 e 18 de dezembro e 421 milhões de
euros depois da resolução.
Os números diferem dos já entregues à comissão de inquérito e que se
reportavam apenas à tal semana de dezembro de 2015, o que reflete os diferentes
momentos em que foram registadas as transferências. Segundo a resposta do
Santander Totta à comissão de inquérito, a quota das transferências recebidas
do Banif corresponde à expressão natural da sua quota de mercado na banca
portuguesa.
Na lista dos destinatários dos fundos que saíram do Banif estão ainda o
Montepio, com 5% do total, o Crédito Agrícola, com 4%, o BIC e o IGCP (Agência
que gere a dívida pública), com 3% cada. Já o Popular, o outro banco espanhol
que apresentou proposta de compra do Banif, na fase da venda voluntária,
recebeu apenas 2% do total, valor que foi de 3% na semana decisiva de 14 a 18
de dezembro (Observador)
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