sábado, maio 07, 2016

Os portugueses salvam portugueses na Venezuela em crise

Não é uma crise nem uma bicrise, mas uma tricrise: económica, social e energética. E a juntar-se a isto há um teimoso problema antigo que não abranda: a insegurança no país, os sequestros, os assassinatos. O secretário de Estado das Comunidades esteve esta semana na Venezuela para fazer o diagnóstico da situação, nomeadamente da histórica comunidade emigrante portuguesa no país - onde algumas instituições e empresários portugueses já se disponibilizaram para ajudarem os compatriotas que passam pior. “O mais extraordinário é a obra social, desportiva e recreativa desenvolvida por portugueses na Venezuela sem ajuda do Estado português ou venezuelano”. O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, afirma que não têm aumentado os pedidos de apoio social de emigrantes portugueses ou lusodescendentes nos serviços consulares ou na embaixada na Venezuela, mas garante que já interpelou os vários organismos e instituições locais para aumentarem os esforços na identificação dos cidadãos nacionais que estão a passar por maiores dificuldades.

“Em 2015 registámos 80 cidadãos nacionais que foram objeto de avaliação, acompanhamento e apoio por parte das autoridades portuguesas devido a dificuldades económicas. Os pedidos de ajuda ainda não aumentaram, mas tive agora a oportunidade de apelar os diversos organismos da Venezuela para apostarem mais no trabalho de identificação das famílias portuguesas que estão a passar por uma situação de uma maior precariedade social, sem amparo da família ou de instituições locais, e que carecem de apoios”, diz ao Expresso José Luís Carneiro. Em plena crise económica, social e energética – onde faltam bens essenciais como alimentos ou medicamentos –, a generalidade dos cidadãos atravessa dificuldades, mas, segundo o secretário de Estado das Comunidades, a prioridade do Governo passa por identificar os portugueses que enfrentam necessidades mais prementes. Neste sentido, algumas instituições e empresários portugueses na Venezuela já se disponibilizaram para ajudarem os compatriotas que vivem nesta altura com maiores dificuldades. “O mais extraordinário é a obra social, desportiva e recreativa desenvolvida por portugueses na Venezuela sem ajuda do Estado português ou venezuelano, o que demonstra capacidade de cooperação e de empreender. Isso foi o que mais me sensibilizou nesta visita”, realça.
ESPERANÇA NO FUTURO DO PAÍS
Apesar da difícil conjuntura, a maioria dos emigrantes portugueses e lusodescendentes mantém a intenção de continuar no país, segundo o secretário de Estado. “Da generalidade das pessoas que ouvi – de forma detalhada e demorada, ouvi entre 40 a 50 quinta-feira – o que se pode perceber é que mantêm quase todas a convicção de que este país têm recursos e meios que lhe permitem continuar a fazer dele a nação do futuro. Há apenas alguns lusodescendentes qualificados que querem emigrar para conseguirem melhores empregos.”
A juntar-se à crise económica há a assinalar um problema antigo que tem que ver com o aumento da insegurança no país, que também preocupa muitos residentes portugueses. “Os casos de assassinatos, sequestros e roubos à mão armada criam um sentimento de inquietação muito grande. Claro que no quadro de todas estas dificuldade há também o problema da insegurança que hoje é muito evidente, mas todos têm esperança que possa vir a melhorar”, assegura o governante. A visita de José Luís Carneiro à Venezuela terminou esta sexta-feira com um almoço com os empresários em Caracas, depois de quatro dias de deslocações a consulados e centros sociais e lares que apoiam localmente os 200 mil portugueses em Caracas, Maracay e Valencia.
PORTUGUESES RELATAM MUITAS DIFICULDADES
“Nestes contactos com portugueses, empresários de sectores como a panificação, exportação de bens, produtos farmacêuticos, o que mais impressiona evidentemente é a falta de matérias-primas para poderem produzir e darem utliidade às infraestruturas. Faltam matérias-primas e os níveis elevados de inflação criam muita imprevisibilidade no que diz respeito à estrutura de preços e à falta de divisa. Mas há sempre uma nota de esperança em todos os discursos”, conclui o secretário de Estado. No quadro social das comunidades portuguesas, o Governo disponibiliza anualmente o Apoio Social a Idosos Carenciados (ASIC) e o Apoio Social a Emigrantes Carenciados (ASEC), além de um conjunto de apoios na ordem dos 700 mil a 800 mil euros destinado ao movimento associativo nos países fora da União Europeia, que inclui a Venezuela. Durante esta visita do secretário de Estado das Comunidades, o governo de Nicolás Maduro manifestou-se disposto a realizar um encontro com a estrutura diplomática e as associações portuguesas presentes no país, de forma a criar uma relação de maior diálogo e confiança com os emigrantes portugueses e lusodescendentes. Ficou também decidida a realização de uma comissão mista de acompanhamento da relação bilateral, em junho, que irá decorrer na capital portuguesa. O objetivo é reforçar o intercâmbio económico e cultural entre os dois países (texto da jornalista do Expresso, Liliana Coelho)

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