sábado, junho 04, 2016

Venezuela. É capaz de imaginar quanto custa uma dúzia de ovos?

Vive em Caracas, a capital da Venezuela, e recebe todos os meses 27 mil bolívares, o que corresponde a 2.424,18 euros, segundo o câmbio oficial. Mas o preço de mercado já não serve no país. Na realidade, Maria recebe apenas 24,24 euros todos os meses, porque, atualmente, está a ser usada a taxa de conversão não oficial, que penaliza muito mais os venezuelanos. Com base no câmbio do mercado negro, uma dúzia de ovos custa 134,6 euros, o que corresponde a 1.500 bolívares, segundo as contas feitas LA Times. Os ovos são um mero exemplo da situação em que se encontra a Venezuela, onde escasseiam os alimentos básicos. “A situação é muito, muito crítica. A angústia é gigante e gera violência”, refere Marianella Herrera, professora de políticas públicas de nutrição da Universidade Central da Venezuela, citada pelo Financial Times.
OPEP reúne na Áustria. À terceira não será de vez A nacionalização de fábricas alimentares e o controlo de importações condicionam a venda destes produtos. “O sistema económico vigente afetou severamente a produção alimentar. Isto é compatível com uma situação de fome”, acrescenta também a responsável pela Fundação Bengoa, uma associação local que observa as questões ligadas à nutrição. A escassez de alimentos é considerada como o principal problema da Venezuela, segundo 96% dos inquiridos pela Datanálisis.
A Venezuela quer cortar em praticamente metade o montante das importações, dos 37 mil milhões de dólares, em 2015, para cerca de 20 mil milhões este ano. “Vamos manter este nível de restrições para forçar o sector produtivo a produzir mais. Esperamos reduzir as importações para os 15 mil milhões de dólares”, referiu o ministro do comércio, Miguel Pérez Abad, no início desta semana. Mas o programa de Pérez Abad tem recebido várias críticas. “O programa de ajustamento proposto é de alto risco, quer económico, quer social. Socialmente, é uma bomba-relógio, que, se explodir, não há forma de saber qual o rumo que o país vai tomar”, avaliam Carlos Miguel Álvarez e Asdrúbal Oliveros da Econalítica, uma consultora sedeada em Caracas, citada pelo Financial Times.
A redução das importações também teve como impacto, por exemplo, a suspensão da produção de Coca-Cola, na semana passada, por falta de acesso às matérias-primas, como o açúcar. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a taxa de inflação chegue aos 720% em 2016. Mas há alguns economistas locais que antecipam que os preços poderão subir ainda mais. A taxa de inflação pode mesmo chegar aos 1.200%. A culpa é da forte queda do preço do petróleo, que é a principal fonte de rendimento do país liderado por Nicolás Maduro. Cortes agravam crise Os problemas na Venezuela levaram, entretanto, a Lufthansa e a Latam a suspender os voos para a Venezuela, por razões cambiais. Com o bolívar extremamente desvalorizado, as companhias aéreas sentiram dificuldades em transferir as receitas a partir da Venezuela.
A TAP, pelo contrário, mantém as três ligações semanais para a Venezuela. “Fizemos alterações ao longo do tempo. Agora vamos manter a operação”, garantiu o presidente executivo da TAP, Fernando Pinto, na terça-feira. A companhia aérea nacional ainda procura recuperar 91,4 milhões de euros retidos em 2015 e referentes a vendas naquele país. Ainda na área dos transportes, e mesmo com os atuais problemas, a Uber mantém o interesse em iniciar operações na Venezuela. “A falha digital, a segurança e a economia não facilitam a compreensão do mercado venezuelano. Estamos a tentar. O nosso objetivo é estar em todo o lado e, de alguma forma, vamos estar lá. É uma oportunidade enorme”, considera Rodrigo Arevalo, responsável da Uber para a América Latina, citado pela Bloomberg. Compromissos com credores Mesmo com a taxa de inflação a ultrapassar os 700% e a economia a recuar até 8% em 2016, a Venezuela quer manter os compromissos com os credores e pagar a dívida contraída enquanto o país beneficiava do preço do barril de petróleo acima dos 100 dólares. Garantias dadas pelo presidente do banco central, Nelson Merentes. O país está, por isso, a usar as suas reservas de ouro. No primeiro trimestre de 2016, registou uma quebra de 16%, ainda assim, uma percentagem menor do que nos últimos três meses de 2015, quando houve uma redução em quase um quarto (24%), segundo os dados do FMI. Ao todo, registou-se um corte de 1,38 milhões de onças de ouro, a maior redução de um só país desde o terceiro trimestre desde 2007. Portugal “preparado” A Venezuela é uma das maiores comunidades de portugueses fora do país. Há 280 mil cidadãos lusos naquele país, de acordo com o Observatório da Emigração. A situação atual tem preocupado os portugueses. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, garantiu, esta quarta-feira, que o Governo português está “preparado para qualquer circunstância”. “O Estado português, na sua responsabilidade face às pessoas e aos interesses dos portugueses, está preparado para qualquer circunstância. E mais não digo. Que seja claro: A nossa obrigação constitucional de proteger a vida e os interesses dos portugueses está acima de qualquer outra consideração”, sublinhou o chefe da diplomacia portuguesa, numa audição na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, citado pela Lusa. Nicolas Maduro, Presidente da Venezuela. Fotografia: Reuters Santos Silva não quis dar detalhes sobre eventuais medidas que possam ser aplicadas num país em que os protestos contra o Presidente, Nicolás Maduro, são cada vez mais intensos, sobretudo desde a vitória da oposição nas eleições legislativas de dezembro de 2015. Há quem já fale mesmo numa ditadura de Maduro, dado que há leis que têm entrado em vigor alegando o estado de emergência, o que dispensa a aprovação pelo Parlamento local. Resta saber qual o limite da Venezuela (Dinheiro Vivo)

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