domingo, julho 24, 2016

Jornalismo: Jornalista de investigação assassinado à bomba em Kiev

Pavel Sheremet, nascido na Bielorrússia e de nacionalidade russa, trabalhava para um site de jornalismo de investigação ucraniano, e incomodou muita gente nestes três países. A bomba explodiu pouco depois de Pavel Sheremet, um conhecido jornalista de investigação de 44 anos que incomodava políticos e milionários poderosos na Rússia, Ucrânia e Bielorrúsia ter ligado o motor, no centro de Kiev. Eram 7h45 (hora local), ia para a Rádio Vesti, onde tinha um programa matinal, para além de trabalhar no site de jornalismo de investigação Ukrainska Pravda. A detonação foi tão forte que partes do carro foram atiradas ao ar. “Tiraram-no do carro e ele não conseguia respirar. Se se pode chamar àquilo estar vivo”, disse ao jornal Kiyv Post o motorista de táxi Anatoli Vitter, que estava a fumar um cigarro na esquina do outro lado da rua. Sheremet era bielorrusso, mas há muito tempo que estava fora do seu país natal – habitualmente designado como “a última ditadura da Europa”. Tornou-se bem conhecido pelas críticas abertas ao Presidente Alexander Lukashenko – foi porta-voz da organização Charter 97, que produziu uma declaração em 1997 apelando ao respeito da democracia e direitos humanos n Bielorrússia.
Face à pressão cada vez maior do Governo de Lukashenko, mudou-se para Moscovo em 1998, e obteve nacionalidade russa. Ali trabalhou como jornalista de investigação durante 12 anos, produzindo documentários sobre questões incómodas, como a guerra na Tchechénia, a queda da União Soviética, ou a morte do general Alexander Lebed, que em 1996 ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais russas.
Em 2002, ganhou o prémio de jornalismo da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) pelas suas reportagens sobre violações de direitos humanos na Bielorrússia, incluindo desaparecimentos de políticos da oposição e jornalistas. Era amigo do russo Boris Nemtsov – assassinado a tiro numa rua de Moscovo em 2015 –, o político que se tornou dissidente e crítico de Vladimir Putin, cuja última tarefa era a denúncia da intervenção russa na Ucrânia, e a falta de reconhecimento de Moscovo de que os seus soldados estão a lutar no país vizinho. Foi Sheremet quem dirigiu as cerimónias fúnebres de Nemtsov. Em Outubro, tinha dito à Reuters que já não se sentia confortável em Moscovo. “Recebo ameaças e dão-me avisos. Sempre que vou lá, sinto que estou num campo minado.” Tinha também dito que a Ucrânia precisa de media fortes e independentes para resistir aos poderosos milionários do país. “A liberdade de expressão e o jornalismo objectivo está outra vez a tornar-se um problema muito sério”, disse à Reuters. “Os oligarcas estão a fazer os seus jogos outra vez, operações de relações públicas ‘negras’, a usar os media para ajustar contas e resolver problemas políticos.” A OSCE apelou a que se aja para garantir a segurança dos jornalistas na Ucrânia. Há cinco anos tinha-se mudado para Kiev, e a sua ocupação principal era o Ukrainska Pravda.
O Presidente ucraniano Petro Poroshenko classificou este como um “assassínio cínico”. “Parece ter tido um único objectivo – desestabilizar a situação no país, possivelmente antes de outros acontecimentos”, afirmou, num discurso na televisão. O Presidente pediu auxílio ao FBI norte-americano para investigar o caso, “para haver o máximo de transparência”. De Moscovo, o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, afirmou que “o assassino de um cidadão e jornalista russo na Ucrânia é um motivo muito sério de preocupação para o Kremlin”. O fundador do Ukrainska Pravda, Georgiy Gongadze, foi um assassinado há 16 anos. O seu corpo decapitado foi encontrado numa floresta nos arredores de Kiev. Este homicídio ajudou a precipitar a Revolução Laranja de 2004/05, que resultou na repetição das eleições que levou à vitória de Viktor Iushenko sobre Viktor Ianukovich (Público)

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