sábado, julho 02, 2016

Opinião: Marcelo Rebelo de Sousa, ou a arte da antecipação ou a mera gestão antecipada de crises?

Marcelo Rebelo de Sousa tem uma coisa que para ele é uma vantagem mas que para os jornalistas pode virar um obstáculo, diria uma espécie de "pesadelo". Ao contrário dos anteriores PR, a maioria dos quais cultivavam uma imagem austera e pouco dada a grandes euforias populistas ou a interesseiras "intimidades" com os jornalistas.
É um facto inegável que MRS sabe como gerir esse relacionamento, não foge dele, vai ao encontro dos média, tem sempre alguma coisa a dizer mesmo quando nada há para dizer, opina sobre tudo o que entende, se quiserem opina todos os dias sobre banalidades ou questões importantes.

Um estudo recente revelou que Marcelo Rebelo de Sousa “está no top das notícias há três meses. Desde que tomou posse como Presidente da República, o antigo comentador domina os noticiários e as primeiras páginas dos jornais. O Barómetro de Notícias do ISCTE analisou à lupa toda a comunicação social e encontrou 388 notícias de abertura com Marcelo. O sistema financeiro é o assunto favorito. Sobre os temas ditos fracturantes, o Presidente evita falar”. 
Penso que MRS terá dado um exemplo recente, mais um, de como sabe gerir esta matéria (como ele acho que Fernando Ulrich, Presidente do BPI não lhe fica atrás, até pela experiência que também teve, tal como MRS, na comunicação social).
A maioria das pessoas, sobretudo os jornalistas, interrogaram-se com o anúncio de MRS de que seria pedida uma auditoria às contas da Presidência da  República com o objectivo turvo de esclarecer como era gasto o orçamento anual e que melhorias podia ser introduzidas. Isto escassos quatro ou cinco meses depois da primeira auditoria do Tribunal de Contas a Belém que deixou varias alertas e recomendações (aqui).
Não se percebeu bem o alcance da revelação de MRS nem propósito. Esta semana com a detenção do responsável pelo museu da Presidência (aqui), admito que MRS tinha conhecimento do que se passava (aqui) e, mais do que isso, antecipou-se a qualquer revelação policial ou judicial, anunciando (aqui) a tal auditoria que acabou por "matar" qualquer ambiente mais especulativo e tirou capacidade de iniciativa a terceiros.
Passou a ser ele, MRS, lui-même, a comandar as operações, mesmo sem revelar nada de concreto, pois a comunicação social nada revelou sobre as investigações que alegadamente foram realizadas durante meses a uma personagem que foi condecorado por Cavaco Silva. Curioso. Mesmo que MRS negue que tenha tido conhecimento do que se passava - aliás o Sol e o Jornal I do mesmo grupo deram hoje conta disso - a percepção de quem anda nisto há uns anos é a de que MRS sabia o que se passava e sabia do que falava e porque falava nos termos em que o fez (aqui). (LFM)

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