domingo, julho 24, 2016

Opinião: o que é que está em cima da mesa (para o PSD regional) nas autárquicas de 2017?

Parece-me óbvio - o que não é novidade, basta que leiam os livros ou, se preferirem, os manuais de ciência política - que as eleições autárquicas tanto podem reforçar como podem desgastar e penalizar o poder. Seja ele qual for. Não vale a pena deitarem poeira para os olhos porque as coisas são assim, sempre foram assim. A dimensão da penalização política tem a ver com a amplitude do desaire eleitoral.
Um exemplo, em 2013, depois de ter perdido 7 das 11 Câmaras Municipais para vários partidos e listas de "independentes", o PSD da Madeira nunca poderia reclamar vitória - apesar de ter sido globalmente o partido que somou mais votos - porque isso seria hipocrisia a mais. E não lhe ficava bem, nem era sério.
Pode-se dizer sem correr qualquer risco de especulação, que foram as eleições autárquicas que precipitaram uma série de acontecimentos no seio do PSD regional, lançando-o para uma caminhada diferente que o levou até onde hoje se encontra. Já antes de 2013, nas regionais de 2011, as coisas não tinham corrido bem - ainda está para ser feita a história dessa campanha eleitoral a mais desgastante, exigente e complicada de todas as campanhas eleitorais nas quais estive envolvido - e os primeiros sinais foram dados, em grande medida devido a factores externos que não controlávamos, mas que todos percebiam que estavam presentes no debate e na agenda política, levando ao súbito aumento da abstenção e uma acentuada perda de votos que não colocou em causa a maioria absoluta parlamentar, assegurada por um fio. Foram tempos muito complicados, de tensão, de alguma radicalização do discurso e da postura política.  As coisas, depois de 2011, nunca ficaram (nem foram) como antes, e depois de 2013 sentiu-se isso de uma forma ainda mais intensa, consolidando a convicção de que alguma coisa teria que ser feita.

O último trimestre de 2016 e todo o ano de 2017 serão marcados pelo debate eleitoral, antecipando um confronto eleitoral que será decisivo. Não apenas para o PSD regional, mas para a oposição no seu todo. Há muitas dúvidas a esclarecer, há desfechos eleitorais (de 2013) a clarificar, etc.
Tal como o poder não se pode enfraquecer com as eleições autárquicas - o que aconteceu em 2013 por muito que tentassem desvalorizar esse facto - também a oposição não se pode pavonear se por exemplo somar novas derrotas. Essa coisa de não quererem comparar resultados eleitorais só porque se tratam de eleições diferentes, apesar de em bom rigor fazer sentido, mas responde a tudo, nem às oscilações eleitorais. Poder-se-ia perguntar com toda a acuidade: porque razão é que para os eleitores de um determinado concelho ou freguesia as eleições autárquicas têm um determinado significado e estão associadas às candidaturas, leia-se, aos nomes dos candidatos indicados pelos partidos, e o mesmo já não se passa quando se trata de eleger os deputados regionais?
Neste contexto, o Funchal é o município emblemático. Em 2017 não há muitos desfechos eleitorais em cima da mesa, salvo algumas ambições pessoais que acredito poderão ser corporizadas em jogadas políticas que a seu tempo perceberemos. Uma espécie de troca de serviços, de partilha. Mas sobre isso temos tempo.
O que me parece importante ter presente é que é sempre mais difícil para quem quer conquistar o poder, fazê-lo de forma eficaz, preparada, convincente e atempada, do que para quem está no poder que precisa apenas de defender esse poder conquistado. Regra geral, é sempre mais fácil para este lado, mesmo quando parece que não. Obviamente que em situações normais.
O PSD regional pode dizer o que entender, em termos de discurso, ou usar a demagogia que entender, que a realidade é apenas esta: um partido de poder, responsável pela governação numa região com a dimensão da nossa, perdendo Câmaras Municipais como as do Funchal, Machico e Santa Cruz, estará sempre "cambado" e em certa medida envolvido em potenciais conflitos que podem fragilizá-lo.
Numa democracia o povo é quem mais ordena, porque é o povo que vota e decide. Os partidos fazem as suas escolhas, dos candidatos, nem sempre as mais acertadas nem as melhores. Mas no povo tem sempre a última palavra. E quando subsistem dúvidas, as campanhas eleitorais, desde que estruturadas e pensadas em função das exigências do público-alvo, servem para dissipar essas dúvidas.
Em 2017 o PSD regional já anunciou - não podia dizer outra coisa - que o objectivo é voltar a ganhar todas as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia. E deixa de haver desculpas caso não o consiga. Neste momento ainda podem ser imputadas responsabilidades a quem em 2013 fez as escolhas ou liderava o partido.  Em 2017 esse argumento deixa de existir.
No caso do PS as coisas também não são nada fáceis.
Os socialistas lideram as autarquias do Porto Moniz, Machico e Porto Santo, apoiaram a lista de "independentes" em São Vicente, dos quais se distanciou depois da eleição de nova liderança regional, lideram a coligação que surpreendentemente (terá sido?)venceu no Funchal e apoiaram em Santa Cruz o movimento popular liderado por antigos militantes socialistas, do qual parece ter-se distanciado a partir da transformação da JPP em partido e do facto de reconhecidamente terem "roubado" eleitorado que era do PS, sobretudo nas regionais de 2015.
Confesso que neste momento não existem movimentações - salvo algumas excepções, embora ténues - mas não duvido que a partir de Outubro, tudo passa a ter como horizonte político essas eleições. Só espero que em 2017 não tenhamos que ser chamados a outras eleições, por enquanto não incluídas no calendário eleitoral...
Parece-me óbvio que o Funchal será o grande palco de confronto entre o  PSD regional e a oposição, desconhecendo-se ainda se será retomada a coligação eleitoral de 2013, no seio da qual surgiram entretanto divergências para além das regionais de 2015 que clarificaram muita coisa. 
Obviamente que Paulo Cafofo será o candidato, natural do PS, concorra este sozinho ou coligado. Alguns partidos da oposição, depois das regionais de 2015 e das legislativas nacionais desse mesmo ano, receiam concorrer sozinhos, por temerem que resultados eleitorais insignificantes possam retirar credibilidade política e constituir uma ameaça futura.
A grande dúvida é saber quem apresentará o PSD regional para liderar esse combate a Cafofo. Um assunto que não tem que ser demasiado antecipado, para evitar o desgaste rápido da figura a propor pelos social-democratas, mas que também não pode ser protelado excessivamente, já que o PSD regional tem que mudar a sua estratégia de oposição na edilidade da capital. Tenho dúvidas se bastará conhecer a pessoa que vai liderar a candidatura do PSD para que isso seja suficiente. Penso que as duas primeiras pessoas, para além do cabeça-de-lista, serão determinantes na garantia de  coesão e competência política da equipa proposta. Ou seja, para ser claro, duvido que apenas o primeiro nome seja garantia de vitória e de captação de apoio eleitoral.
Acresce que o PSD regional, apesar de tudo, não pode esquecer que os resultados eleitorais de 2015 - as regionais com a maioria absoluta por um fio e as legislativas nacionais, com a perda de um deputado - foram os piores de sempre num contexto marcado por recordes na abstenção. Ou seja, apesar de tudo, 2015 ficou longe de propiciar ao PSD regional um quadro eleitoral estimulante e passível de garantir uma inversão da realidade autárquica.
Publicarei em breve uma sequência de quadros que retratarão a realidade política e eleitoral nos 11 concelhos da Madeira e ajudarão as pessoas a perceber as oscilações eleitorais - autárquicas de 2013, regionais de 2015 e legislativas de 2015 - e a entender o que provavelmente estará em confronto nos vários municípios regionais (LFM)

1 comentário:

Jorge Figueira disse...

Nas eleições de 2013 não estava na Madeira e na manhã do domingo eleitoral li, no JM de então, um texto seu onde a vitória do PPD/PSD era garantida, ainda que admitindo a possível derrota em Stª. Cruz e uma grande incógnita em Machico. Foi com surpresa, talvez tão grande quanto a sua, que à noite vi e ouvi os resultados.
Nesta sua opinião os partidos parecem ter como única razão de ser a obrigatoriedade de ganharem eleições. Não é isso que, em democracia, se espera deles. Eles devem, dentro da filosofia política que consta dos seus estatutos, apresentar um programa eleitoral e procurar cumpri-lo.
A praxis, destes 40 anos, anda muito longe disto. O Poder atrai(u) muita gente. As regras foram subvertidas, como subliminarmente se lê no seu texto, e, uma vez eleito, o governo pura e simplesmente não governava. Limitava-se a, durante quatro anos, gerir os interesses – o GR do quadriénio 2011/2015 é o mais paradigmático - visando ganhar as eleições seguintes.
Os partidos têm sempre muita dificuldade em encontrar militantes dispostos a assumir as finanças. Essas dificuldades, porém, desaparecem em períodos de abundância de dinheiro. Alertar, a tempo, para esses factos em momentos de euforia eleitoral é granjear inimigos. Um partido onde apenas têm crédito, nadando em dinheiro, os “ganhadores de eleições” não se lhe augura vida longa.
Hoje se, como dizem, não pensam exclusivamente nos “interesses” assumam as responsabilidades pela queda no precipício. A Madeira precisa que lhe digam, claramente, como vamos encarar o futuro. Fugir a responsabilidades é feio! Promessas também já cansam.