terça-feira, julho 26, 2016

Opinião: o retrato eleitoral da Madeira a pensar em 2017

As eleições autárquicas de 2013 foram de facto um descalabro para o PSD, apesar deste ter sido o mais votado na contabilidade eleitoral final. A verdade é que perdeu 7 das 11 Câmaras Municipais e quase 30 Juntas de Freguesia, num desfecho eleitoral que causou de facto um sismo político. Continuo a pensar que tudo o que se passou em 2013, conjugado com as dificuldades sentidas - e de que maneira - nas regionais de 2011, contribuíram decisivamente para que certas decisões políticas fossem tomadas e para que o PSD regional tivesse iniciado no final de 2014 o caminho que o levou até onde se encontra neste momento.
É fácil entender:
  • - abstenção recorde de quase 47,5% (45% em 2009);
  • - PSD derrotado em 7 das 11 Câmaras Municipais, algo nunca antes visto;
  • - fenómeno dos movimentos eleitorais de cidadãos que levaram nalguns casos os partidos da oposição a reboque, aposta que resultou no Funchal e São Vicente - esteve em vias de suceder no Porto Santo - mas fracassou em Câmara de Lobos;
  • - queda eleitoral do CDS mas conquista de uma Câmara Municipal (Santana) com claro mérito do candidato e não propriamente do partido e da sua liderança;
  • - PSD foi o partido mais votado com pouco mais de 47 mil votos, mas correspondentes a apenas 34,8% dos votos, conquistando 33 mandatos nas Câmaras Municipais (47 em 2009) contra 38 da oposição (24 em 2009). O pior resultado autárquico de sempre;
  • - da totalidade das Juntas de Freguesia da RAM, o PSD não conquistou uma que fosse em São Vicente (todas a favor de uma lista de independentes, esmagadoramente ex-social-democratas) e em Santa Cruz (todas ganha pelas lista afecta ao futuro partido JPP e que foi apoiada por PS, CDS e PTP entre outros partidos).

O PSD apenas logrou as juntas de freguesia do Porto Santo (maioria absoluta) 6 na Calheta, 3 na Ponta do Sol, as 2 mais pequenas do Porto Moniz, 4 em Santana, 2 em Machico, 4 na Ribeira Brava, 5 em Câmara de Lobos e 5 das 10 juntas do Funchal. Não foi de facto um retrato eleitoral estimulante, o que originou uma espécie de "caça às bruxas" com muitos candidatos derrotados a não assumirem as suas responsabilidades, a não terem a dignidade de assumirem os factores que de facto contribuíram mais directamente para o descalabro, o que deu origem a uma série de processos disciplinares, alguns culminados com expulsões, decisão mais radicalizada que não escondeu algumas péssimas escolhas, nalguns casos impostos à própria estrutura partidária em concelhos e freguesia.
Os enigmas do PS e...de Cafofo
A grande dúvida que continua em cima da mesa - para além das questões pontuais em cada concelho - prende-se com o Funchal e com o que o PS vai fazer. Não me parece que Carlos Pereira seja um apoiante incondicional e entusiástico de Cafofo, uma escolha de Vítor Freitas para liderar a Mudança que acabou por vencer na capital. Julgo que Pereira olhará para Cafofo como uma espécie de potencial "ameaça" para depois das regionais de 2017 e caso estas não corram da melhor forma para os socialistas.
Pereira, tal como outros seus apoiantes, acham que Cafofo sabe que se ganhar o Funchal em 2017 dificilmente não será candidato ao PS depois das regionais. Ou seja, deixa de ser apenas uma potencial reserva para uma futura eventual corrida à liderança do PS, ao qual aderiu, abandonando o seu estatuto de "independente" que na realidade nunca teve, para passar a ser algo mais, e muito concreto, do que isso.
O problema é que Cafofo sabe, tal como CP, que uma eventual candidatura do edil funchalense, num cenário de vitória em 2017, só seria possível se o PS fosse humilhado, como foi em 2015, nas regionais de 2019, o que significaria o falhanço da aposta de CP. Abrindo o jogo, quem garante a CP que Cafofo, na hipótese de ganhador das autárquicas de 2017, se colocaria de forma entusiástica ao lado de CP na corrida deste para as regionais?
Há sectores no PS - e sei do que digo porque me foi testemunhado - que acham que Pereira não se quer envolver muito activamente com Cafofo mas que percebe que tem pouco, ou nenhum espaço de manobra para não o apoiar. O próprio Cafofo, digamos assim, impôs-se ao PS e dificilmente essa recandidatura será concretizada, quer num contexto de PS sozinho  - neste caso correndo o risco de perder - quer num quadro de uma coligação que não pode repetir o fracasso que foi a coligação das regionais.
Dizem-me mesmo que não está excluída uma tentativa do PS de CP de aliciar o CDS para uma coligação na capital, o que provavelmente prescindiria de outros parceiros. Pessoalmente, embora não seja fácil a posição do CDS - falarei disso adiante - não julgo plausível este desfecho, agora sem  José Manuel Rodrigues na liderança da direita.
A única hipótese de Carlos Pereira, segundo me garantem algumas figuras socialistas próximas do líder numa mera análise teórica da situação, tem a ver com a recusa de qualquer coligação - e CP já repetiu isso várias vezes - obrigando deste modo Cafofo a candidatar-se sozinho e apenas numa lista do PS que poderá ficar longe de um cenário vitorioso. Ou seja, se neste quadro CP poderia ficar com o edil funchalense "amarrado de curto", por outro corre o risco da recusa de Cafofo, E se as coisas correrem mal para o PS, a própria posição de CP perante um "martirizado" Cafofo ficaria complicado, o que inclusivamente poderia atirar os socialistas para uma crise política interna que dificilmente seria mantida até as regionais de 2019.
O CDS apreensivo e na dúvida
Resta neste quadro o CDS que encara as autárquicas com preocupação, por enquanto mantida disfarçada. Depois do desaire eleitoral nas regionais, onde perdeu votos e deputados, que se manteve nesse mesmo ano (2015) nas legislativas nacionais, com perda de votos e do deputado, a dúvida subsiste.
Basicamente podemos afirmar que  apesar do CDS regional assumir pela surdina que foi penalizado pela coligação de Passos e do CDS de Portas e pelo impacto social negativo da política desencadeada a coberto de uma maioria absoluta autoritária, arrogante, insensível, pedante, convencida e claramente submissa aos interesses do capitalismo, da banca, da finança e da Alemanha de Merkel e do execrável Schauble, não há muita certeza de que 2017 possa inverter o ciclo eleitoral negativo. O que seria péssimo para o futuro do CDS até na lógica das regionais de 2019 que são as que interessam ao partido.
Neste quadro o CDS não quer ser engolido por uma bipolarização PSD-PS nas autárquicas de 2017. Tudo fará para manter a liderança em Santana - e parece-me que face ao "desaparecimento" do PSD e do PS e ao mérito próprio do edil nortenho, tal desfecho não é utópico - e provavelmente tentará apostar em zonas onde eleitoralmente costuma sair-se bem, caso da Calheta.
O receio de resultados negativos podem empurrar o CDS para movimentações no Funchal - coligação sim ou não e com quem? - desconhecendo-se o que fará em Santa Cruz, agora que deixou de existir a ingenuidade de um simples movimento de cidadãos para passar a haver apenas e só mais um partido, a JPP, que obviamente é concorrente do CDS no xadrez político regional.
Ou seja, as prerrogativas existentes em 2013, parece-me que no que ao CDS dizem respeito, dificilmente estarão em cima da mesa. Acresce que esta ausência autárquica em Santa Cruz não representou mais-valia nenhuma para o CDS que se debate hoje com esta dúvida: qual o peso eleitoral do partido? Os 17.679 votos nas autárquicas de 2013, ou os 17.489 votos nas regionais de 2015 ou os 7.536 votos nas legislativas nacionais?
Uma das acusações feitas a JMR na sua liderança anterior teve a ver com a excessiva colagem a Portas, quando era mais do que evidente que a política da coligação nacional teria impacto eleitoral negativo e que estava longe, bastante longe, dos resultados anunciados. Como se começa a ver agora com os buracos, uns atrás dos outros, na banca nacional.
Recordo que as autárquicas de 2013 realizaram-se num contexto de acentuada radicalização política, de clara bipolarização entre PSD e oposição, e da liderança de Alberto João Jardim que comprovadamente aos poucos viu o PSD regional perder influência, apoio e votos, tudo por causa dos acontecimentos de 2011 e,  depois, do PAEF de 2012.
Reconhecidamente não é fácil o papel do CDS regional que ainda por cima não conseguiu uma mudança de liderança interna de forma pacífica, capaz de mobilizar as bases do partido de eficaz. Pelo menos até ver (LFM)


Nota final - passarei a publicar os retratos eleitorais de cada um dos concelhos, apenas para disponibilizar neste blogue informação para eventual consulta posterior a quem nela estiver interessado.

1 comentário:

Jorge Figueira disse...

Onde, nesta análise, ficam os cidadãos e as suas vontades individuais? As máquinas de propaganda fazem muita coisa mas estão cada vez menos milagreiras